Obrigada. Muito obrigada. Um grande bem haja ao ativismozinho pseudo-ambientalista e à chamada fiscalidade verde que nos oferta agora a oportunidade exclusiva e imperdível de salvar o planeta a 4 cêntimos o saco de plástico ultraleve. Eis uma pequena mina: 50% é para o Estado, 20% vai para o Fundo Ambiental. Pronto. Mais um berloque, um brinde para o combate às alterações climáticas. Deve ser um crachá a dizer “quanto mais homens conheço, mais gosto de animais”.

Estava previsto que em maio deste ano, esses saquinhos fossem proibidos por lei, mas o governo passou a cobrar aos clientes pelos invólucros usados para fruta e legumes. E neste outubro a coisa passou a defini- tiva. Sabem como é. Tudo pelo planeta, nada contra o planeta.

Quem já levava essas sacolas de casa e reutilizava não o poderá fazer – é impossível provar que os trouxe – ficando paradoxalmente impedido de proteger o ambiente. E aquelas luvas de plástico que alguns hípers disponibilizam para os clientes se servirem do pão? Também vão cobrá-las?Já agora: o valor dos sacos de plástico não estava já incluído no preço dos produtos? Agora cobram-se a dobrar?

Uma baleia morreu com 80 sacos de plástico e outro lixo no estômago, num total de 80 kg . Há muitos cetáceos e peixes, tartarugas ou aves que acabam assassinados assim, nos campos minados que são hoje os oceanos. Tem de haver ação rápida mas, como se comprova com o saque dos sacos, a narrativa amiúde moralista da emergência climática é uma choruda negociata. Se o governo estivesse preocupado com a Terra não esbulhava o consumidor mas proibia os ditos saquinhos. De resto, quase todos os produtos são embalados em plástico e ninguém se preocupa com recargas ou alternativas mais ecológicas, desde papel a plástico reciclado. Ou o saco deixa de ser poluente se pagares mais? O ambiente degrada-se com um saco de plástico gratuito e melhora quando é pago?

Só que a hipocrisia não fica por aí: basta reparar no gordo esquema das energias renováveis onde todos, da ponta esquerda à ponta direita, se alambazam. Com a capa de ecologistas, o gigante bloco político de interesses promove assassinatos ambientais, como o abate de milhares de sobreiros, espécie preciosa e protegida. Por exemplo, em Mogavel- Sines, faz sentido abater 2000 sobreiros para instalar um parque eólico numa área de 32 hectares e dar licença à EDP para tal?! Isto, a par da proteção dos jatos privados (mas ataque aos voos low cost) ou dos artigos de luxo (mas ataque à roupa e vários artigos de menor qualidade), entre outros, denuncia alto a balela da maioria do discurso eco e quem, na verdade, o vai pagar entre mais impostos, taxas, taxinhas, interdições e proibições.

Mãos ao alto. Isto é (mais um) assalto. Verde, que te quero verde, como dizia o Lorca.

CASO SÉRIO
João Mendes e Danielle Araújo, juntos há 12 anos, perderam a guarda dos dois filhos menores, de 5 e 10 anos. Foram colocados numa casa de acolhimento depois de os pais terem sido forçados a abandonar um T1 em Lisboa, para uma tenda improvisada em Carcavelos. A falta de condições de habitabilidade motivou a decisão judicial. A escalda dos preços da habitação, tem cuspido cada vez mais famílias para a rua: em Carcavelos, são dezenas de pessoas obrigadas a viver em tendas ou autocaravanas. Mas desde quando é que pobreza é critério para perder os filhos? Porque que é que o Estado não ajudou a encontrar casa?! Despedaçar estas famílias ainda mais é a solução?!

Ativista política