A decisão está tomada, mas ainda não é oficial: a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) vai substituir o conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), que é atualmente presidido por Ana Varges Gomes, apurou o NOVO de fontes do sector. O mandato do atual conselho de administração já tinha terminado em dezembro do ano passado e a sua substituição, ou a recondução dos atuais órgãos, era aguardada desde o verão.

Para liderar o CHUA, que passará em 2024 a Unidade Local de Saúde (ULS) de acordo com a anunciada “reforma profunda” do SNS, Fernando Araújo terá escolhido o economista João Ferreira, presidente da comissão executiva do hospital de Braga entre 2011 e 2019, altura em que esta unidade de saúde era gerida através de uma parceria público privada (PPP).

Antes disso, João Ferreira liderou, desde 2007, o conselho de administração do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho. Apresentou a demissão do cargo em 2011 para aceitar o convite do grupo José Mello Saúde para integrar a gestão da PPP, numa altura em que Fernando Araújo, diretor executivo do SNS, era ainda presidente da Administração Regional (ARS) do Norte.

Como presidente da comissão executiva da PPP de Braga, João Ferreira tem no currículo a distinção alcançada em 2017, quando o hospital do norte foi considerado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) o melhor do país, de acordo com o estudo do Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS) [avaliação essa que, entretanto, deixou de ser feita em 2021, ver texto ao lado].
Polémicas no CHUA.

Um mandato com várias polémicas

Ana Varges Gomes, ainda presidente do conselho de administração do centro hospitalar do Algarve, acumula, desde agosto, o cargo de diretora clínica, depois de Horácio Guerreiro se ter demitido por não concordar com a decisão de manter o bloco de partos de Portimão aberto, prejudicando com isso as urgências de pediatria de Faro.

Outra das pedras no sapato de Ana Varges foi o diferendo com a universidade da região, que culminou na demissão da diretora da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve (UAlg) e do Mestrado Integrado em Medicina em março. Isabel Palmeirim bateu com a porta queixando-se de que o conselho de administração do CHUA continuava a não proceder à acreditação dos serviços, o que comprometia o próprio curso de medicina e levava a que a maior parte dos estudantes tivesse de estagiar noutros hospitais do país, designadamente no Garcia da Orta, em Almada.

O percurso do conselho de administração liderado por Ana Varges Gomes ficou marcado por outras polémicas. A mais recente prende-se com a queixa feita por uma médica interna, Diana Pereira, de 11 casos de alegada negligência médica no serviço de cirurgia do hospital de Faro. O caso levou o Ministério Público a abrir um inquérito. O Conselho Disciplinar da Região do Sul da Ordem dos Médicos instaurou também uma investigação e decidiu, em junho, suspender os dois cirurgiões por seis meses, mas o Tribunal Administrativo de Loulé anularia a decisão em agosto.

Outra das polémicas a envolver o Centro Hospitalar Universitário do Algarve foi a troca de cadáveres em novembro do ano passado, caso que levou o conselho de administração a colocar o lugar à disposição. O hospital abriu um inquérito interno e assumiu a “falha grave” na morgue que “gerou uma troca na identificação dos corpos de dois doentes falecidos”. Um dos corpos foi “indevidamente recolhido pela agência funerária” e cremado contra a vontade da família.

Numa deliberação divulgada há duas semanas, a Entidade Reguladora da Saúde indica que, além desse caso de novembro, teve conhecimento de outras trocas de cadáveres no Centro Hospitalar Universitário do Algarve.

O NOVO questionou a direção executiva do SNS sobre a substituição da presidente do conselho de administração do CHUA mas não obteve uma resposta até ao fecho da edição.

Artigo originalmente publicado na edição do NOVO do dia 30 de setembro.