Em 2017, António Costa avisava que o tempo se tinha esgotado e que o tempo de avançar com a reforma da floresta era agora. Em 2022, o mesmo António Costa, perante uma vaga de incêndios que assola o nosso país, afirmou que o problema dos incêndios é um problema estrutural. Disse que a resposta não são mais meios, mas mais cuidado, garantindo que os meios estão mobilizados e organizados e que, se houver cuidado por parte da população, não haverá incêndios.
Analisando as últimas reacções do (des)governo socialista liderado por António Costa, podemos concluir que o problema de Portugal são os portugueses. Senão, vejamos: o problema dos incêndios é da falta de cuidado dos proprietários e da população em geral, o problema do Serviço Nacional de Saúde é ter pacientes, o problema da TAP é ter passageiros, o problema da CP é ter clientes que querem viajar na hora de maior calor, o problema da educação é ter alunos… e poderíamos continuar.
Afirmar que os meios estão mobilizados e organizados só pode ser uma de duas coisas: um total desconhecimento do que se passa no terreno ou uma tentativa de tapar o sol com a peneira.
Deflagrou às 23h30 de dia 12 de Julho um incêndio na zona das Gambelas, em Faro. No dia seguinte, as chamas progrediram para a zona do Ludo, para a Quinta do Lago, Vale de Lobo, Almancil e Fonte Santa. Para quem não conhece a zona, até hoje, um cenário destes era impensável. A zona onde deflagrou o incêndio é uma zona de fácil acesso e sem eucaliptos. Bem sabemos que o vento não ajudou. Mas se os meios estivessem no terreno e organizados, duvido que o fogo alastrasse nas proporções em que o fez.
Outro ponto importante de analisar é quem organiza e mobiliza estes meios. Onde estão estas equipas e são constituídas por quem? Conhecem as áreas? Estão próximas da realidade? Ou são equipas “multidisciplinares” que estão sentadas numa secretária a vários quilómetros de distância a gerir as equipas de vigilância e, posteriormente, os meios de combate?
De 2017 até 2022, nada foi feito, muito menos uma reforma florestal.
Estar rodeado por chamas, ter a casa ou o negócio em risco é de uma violência atroz. Incêndios como os destes dias roubam vidas, roubam sonhos e roubam as economias de uma vida a muitas pessoas. É inaceitável que se acuse a população de falta de cuidado. Não há (des)governo que tenha moral para acusar alguém de falta de cuidado. Senhores governantes, tirem o rabo da cadeira e façam-se à estrada. Vão para junto das populações que sofrem com os incêndios e vão ajudar de verdade. Provavelmente, irão aprender a ser mais humildes.
Para todos os algarvios, a época de Verão é sinónimo de época de incêndios. Normalmente, incêndios na zona da serra e do barrocal, mas este ano fomos surpreendidos por este enorme incêndio em pleno litoral. Todos os anos arde o Algarve, todos sabemos disso. Porém, também todos sabemos que, ano após ano, não há planeamento para, em primeiro lugar, evitar estas situações e, acima de tudo, para saber lidar com as mesmas.
O cenário de horror de 2017 não nos ensinou nada. Continuamos a ter um primeiro-ministro (e recordar que também ministro da Administração Interna no tempo de José Sócrates) dono da razão, que sacode a água do capote. Que nunca terá culpa em cenário nenhum, porque é capaz de acusar os portugueses de serem irresponsáveis enquanto afirma que a sua equipa faz tudo bem.