Congresso do PSD PSD: Sete listas a votos para o conselho nacional Em Dezembro, os social-democratas tiveram onze listas ao órgão máximo entre congressos.
Congresso do PSD PSD: Moreira da Silva promete não ser líder de facção Adversário de Luís Montenegro nas últimas directas conversou com o novo presidente, mas entendeu não aceitar os seus vários convites. E assumiu fazer o discurso “mais difícil da sua vida”.
José Sócrates Sócrates fica sujeito a apresentações quinzenais às autoridades após viagens ao Brasil O antigo primeiro-ministro viajou para o Brasil sem informar o tribunal. Agravamento das medidas de coacção foi pedido pelo Ministério Público.
COVID-19 Período de isolamento por covid-19 vai passar de sete para cinco dias O Governo também anunciou que a situação de alerta devido à pandemia vai manter-se até final de Julho.
Economia Inflação sobe para 8,7% em Junho, um novo máximo em 30 anos Em Maio, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor já tinha atingido os 8%.
Aeroporto de Lisboa Solução Montijo e Alcochete avança. Governo vai fechar aeroporto Humberto Delgado O Governo quer acelerar a construcção do aeroporto no Montijo para estar pronto no final de 2023. Aponta a concretização do aeroporto em Alcochete para 2035, altura em que pretende fechar o Humberto Delgado.
EUA Mais de um quarto dos americanos admite pegar em armas contra o governo Sondagem também revela que a maioria dos americanos acredita que o governo é “corrupto”.
COVID-19 Coreia do Norte atribui culpas de surto de covid-19 a balões enviados da Coreia do Sul O regime de Pyongyang responsabiliza grupos de desertores. Media estatais instam os cidadãos a prestarem atenção “a coisas estranhas” que chegam pelo ar.
Dune “Dune: Parte 2” adiado por um mês, continua a chegar aos cinemas em 2023. Novo Godzilla-Kong agendado para 2024 A Warner Bros. e a Legendary anunciaram os planos para os dois filmes.
Livros A humilhação dos intelectuais A escritora Ludmila Ulitskaya é a autora de “Sonechka”, publicado em Portugal pela Cavalo de Ferro. Ulitskaya é frequentemente apontada como candidata ao Nobel da Literatura.
Futebol Sporting apresenta segundo reforço para 2022/2023 em dia de aniversário Morita, médio japonês, vai jogar de leão ao peito nas próximas quatro temporadas.
Mercado de transferências FC Porto: Vitinha já é jogador do Paris Saint-Germain Campeões nacionais informaram a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Negócio atinge os 41,525 milhões de euros mas os dragões arrecadam 36 milhões de euros.
Elon Musk ameaça desistir de compra do Twitter Em causa, afirma o multimilionário, está a recusa da empresa em aceder aos seus pedidos de informação sobre o número de contas falsas naquela plataforma.
Opinião Quo Vadis, Iniciativa Liberal? Antes de existir um partido declaradamente liberal no panorama político nacional, muitos não acreditavam ser possível conciliar, numa só força política, tantas sensibilidades ideológicas. Entre liberais sociais, conservadores liberais, libertários e liberais clássicos, a missão afigurava-se penosa e um teste aos limites da diversidade de pensamento dentro de um partido que não pretendia – nem pretende – ser mais um catch all party. Certo é que tem funcionado, muito à custa de uma visão pragmática e de uma gestão que procura agradar, com razoabilidade, a todas as partes. O saldo eleitoral é muito satisfatório: oito deputados nacionais, um deputado regional nos Açores e cerca de noventa autarcas distribuídos pelo país, no espaço de apenas três anos. Atingida meteoricamente a honrosa posição de quarta força política, será expectável que este equilíbrio se mantenha? E será desejável, para o futuro do partido, que assim seja? Vem isto a propósito da mais recente polémica iniciada no Twitter, rapidamente transposta para a comunicação social, sobre a marcha “Pride”. Especificamente, sobre o apelo de um conselheiro nacional, conotado com a ala liberal social, à organização desse evento, no sentido de excluir a Iniciativa Liberal da edição deste ano – o que veio a suceder -, caso a Comissão Executiva do partido não retirasse a confiança política a uma vogal, acusada de posições transfóbicas. Esta tensão entre liberais wokes e liberais conservadores nos costumes não é novidade e até marcou a última convenção nacional eletiva. O sucesso nas urnas e a atenção mediática podem ser duradouros ou efémeros, mas têm sempre um preço. À medida que o partido elege mandatos e se agiganta nas sondagens, as tendências internas movimentam-se e tentam influenciar o rumo dos acontecimentos. Assim, talvez seja tempo de refletir sobre o caminho que a Iniciativa Liberal tem seguido, o papel que deve desempenhar no nosso sistema político, as prioridades da sua agenda e os aspetos fundamentais da sua cultura. I - Primado da liberdade económica no projeto liberal Um projeto político estruturado e construtivo deve ser abrangente em termos temáticos, inclusivo das diferentes correntes de pensamento e dar resposta às preocupações do eleitorado nos mais diversos setores. Não obstante, é natural e necessário que se definam prioridades políticas – ou bandeiras eleitorais, socorrendo me da gíria partidária -, que devem refletir as áreas que cada força política identifica como prementes para o futuro do país. A proposta política fundacional da Iniciativa Liberal não era exatamente a atual. Nos primeiros anos de atividade, poucos se recordarão, o partido entusiasmava-se com figuras de liberalismo duvidoso, como Macron e Trudeau. A posição sobre a integração europeia era dúbia e deixava no ar um eventual apreço pela ideia de federalismo. A comunicação e o discurso político não eram direcionados, procuravam seduzir diferentes segmentos eleitorais, sem um fio condutor, alcançando maior destaque em matérias secundárias, como a legalização das drogas leves ou os direitos LGBT. É com o aparecimento de Carlos Guimarães Pinto e sob a sua liderança que o partido define o essencial do seu projeto político. No epicentro, aquilo a que vulgarmente me refiro por “primado da liberdade económica”, isto é, fazer do crescimento económico, do aumento da produtividade e consequente valorização dos salários, da redução e simplificação da carga fiscal, da flexibilidade laboral - e, por associação, do combate ao centralismo e às assimetrias regionais, ao excesso de burocracia e ao capitalismo de compadrio – a principal bandeira política do partido. No contexto nacional, só assim um partido liberal teria hipótese de afirmar o seu espaço político. Talvez pudesse ser diferente se o desenvolvimento económico fosse outro, proporcionando um nível de qualidade de vida superior, e os direitos sociais estivessem por garantir no plano legislativo. Só que a nossa realidade não é essa: vivemos num país que, nos últimos anos, tem sido sistematicamente ultrapassado por economias emergentes; que apresenta uma das maiores taxas de desemprego jovem, empurrando mão de obra qualificada para a emigração; onde os salários líquidos miseráveis de três dígitos são a regra e o sistema fiscal pune quem consegue subir na vida pelo seu trabalho; em que comprar casa é um sonho e conseguir pagar a renda uma luta para quem vive nos grandes centros urbanos. Foi esta proposta política que, em 2019, permitiu eleger o João Cotrim de Figueiredo e que, dois anos depois, nos catapultou para quarta força política, com oito deputados. Enquanto os dados se mantiverem e o país caminhar para a cauda da Europa, com níveis preocupantes de pobreza relativa e sem esperança no elevador social, tem de continuar a ser este o foco da ação política da Iniciativa Liberal. II – Posicionamento no espectro político O slogan “liberais em toda a linha” é um dos que melhor traduz, na minha perspetiva, a essência da Iniciativa Liberal. De facto, nenhum outro partido se afirmou, no passado, com este desprendimento no espaço não socialista, simultaneamente defensor de mais liberdade política, económica e social. Historicamente, o centro-direita português é conservador e muitos liberais não gostam, por esse motivo, de ver o partido associado à direita. Outros, legitimamente, não se identificam com esse posicionamento e afirmam-se rigorosamente ao centro, ou simplesmente recusam o eixo clássico com que a maioria caracteriza o sistema político. Nunca comprei uma t-shirt popular do partido que assinala com uma cruz a palavra “liberal” e deixa em branco os quadrados designados por “esquerda” e “direita”. Não o fiz por razões estéticas – é um belíssimo exemplar, como todo o merch da IL -, mas porque, no meu caso, não corresponde à verdade. Sempre me senti confortável com a ideia de pertencer à direita liberal ou, como gosto de chamar, a direita das liberdades. É assim que vejo a Iniciativa Liberal, sem tentar impor aos outros essa autodeterminação, nem valorizando excessivamente a rotulação do projeto. A verdade é que não conheço nenhum partido ao centro e à esquerda que defenda conjuntamente o modelo de desenvolvimento económico, a política fiscal e a rigorosa delimitação das funções do Estado que o nosso programa consagra. As posições progressistas em matéria de direitos sociais, que subscrevo integralmente, são um aspeto diferenciador em relação à direita conservadora, mas não retiram, na minha leitura, a Iniciativa Liberal do espaço político reservado à direita moderada, do nosso tempo. Recentemente, esta questão mereceu atenção mediática em virtude da discussão sobre a disposição dos grupos parlamentares na Assembleia da República. Como escrevi nessa altura, da minha parte, os nossos deputados que se sentem onde quiserem e como se sentirem mais confortáveis, desde que prossigam com as prioridades políticas que têm marcado a agenda e que se afirmam, a cada dia, como última fonte de esperança para milhares de famílias portuguesas. III – Cultura partidária Por fim, importa refletir sobre a cultura partidária que distingue a Iniciativa Liberal no nosso contexto partidário. O sucesso de um partido emergente não se faz apenas com ideias e propostas certeiras para o futuro do país. Nos últimos anos, surgiram novos partidos para todos os gostos, mas poucos conseguiram convencer os portugueses ao ponto de merecer representação parlamentar. Acredito que parte do mérito da Iniciativa Liberal está na forma como se apresentou ao eleitorado: com caras desconhecias do grande público, livres de vícios, com experiência académica e/ou profissional sólidas, discurso disruptivo, e genuíno interesse pela causa pública. Nesta fase de vida do partido é fundamental não perder de vista o que nos fez chegar até aqui. Será certamente tentador, com mais financiamento e mais tempo de antena, fazer as coisas de forma diferente. Hoje, ser membro da Iniciativa Liberal é muito mais apetecível do que em maio de 2019 quando, a uma semana das Eleições Europeias, anunciei a minha desfiliação do PSD e me juntei convictamente ao partido que representava, em toda a linha, o essencial das minhas convicções. As futuras apostas em quadros políticos devem seguir a mesma receita, assente no mérito e no fator novidade, em vez de servirem para reabilitar figuras públicas à procura da sua ressurreição política. As estruturas locais devem desempenhar um papel muito mais presente na vida interna, ser ouvidas e acompanhadas de perto, para que o partido assista a um crescimento sustentado em todo o território. No que depender de mim, a Iniciativa Liberal não ficará confinada aos grandes certos urbanos, como o Bloco ou o PAN. É que, ao contrário desses partidos, as nossas ideias não são abstratas, nem de nicho, pois governam alguns dos países mais ricos da Europa, com provas dadas da sua exequibilidade e prosperidade. O conteúdo deve estar sempre acima da forma, as convicções nunca devem ceder à pressão mediática ou influência de grupos sectários. Como liberais, não podemos vacilar na rejeição plena de fenómenos como a política de cancelamento ou as quotas socialmente impostas. A liberdade de expressão e o mérito têm de ser inegociáveis - um selo de liberdade e qualidade do partido. Sejamos irredutíveis na defesa destes valores. Nos tempos que correm, a perceção pública é importante e poderá haver um preço a pagar, em determinados momentos, por contrariarmos novas convenções sociais. Quando assim for, ousemos correr esse risco. A integridade, a coerência do discurso, a força das convicções e o amor à liberdade podem nos custar alguns votos no imediato, mas valerão muitos mais no médio e no longo prazo. No dia em que me filiei, disseram-me que isto seria uma maratona, não uma corrida de cem metros. Que nunca nos falte a coragem política de cumprir essa máxima.
Opinião Curtas de Verão 1 - Férias e as boas práticas de cibersegurança As férias são sinónimo de descanso, disso não há dúvida. Creio que os hackers provavelmente tirão férias, até eu tiro também como será o caso do mês de Julho. Mas garantidamente que enquanto eu continuarei a escrever, eles também continuarão a tentar entrar no seu computador ! Mesmo de férias, hoje já não conseguimos desligar. E por isso continuamos a usar redes sociais, o gps para encontrarmos aquela praia ou aquele restaurante, portanto continuamos a usar a «rede». Proteja-se e aproveite as suas férias com a máxima segurança, não esquecendo várias dicas importantes. - Quando em locais públicos, evite usar os seus equipamentos tecnológicos, como telemóvel, tablet e computador, e ligar-se a redes WiFi públicas, como as de restaurantes, cafés e hotéis, que geralmente apresentam níveis de segurança mais baixos. - Nunca aceda ao seu banco eletrónica usando redes públicas. - Proteja a sua identidade e as suas contas e evite expor-se em demasia nas redes sociais. - Tenha atenção na salvaguarda das suas credenciais de acesso às suas contas de e-mail, redes sociais, etc. e não abra mensagens ou emails de fontes desconhecidas. - Para identificar mensagens suspeitas, fique atento a possíveis erros ortográficos, à utilização de links nas mensagens e à presença de ficheiros estranhos como anexo. Leia com atenção e, na dúvida, não avance e elimine a mensagem ou email. - De acordo com a S21sec, os dados mais recentes mostram que houve um aumento de 350% na criação de domínios maliciosos que se fazem passar por marcas e organizações. - Proteja os seus equipamentos nomeadamente também os telemóveis e tablets passwords ou pins, para garantir que, em caso de perda ou roubo, a sua informação pessoal e confidencial presente nesses equipamentos, por exemplo no seu telemóvel, não é facilmente acessível por terceiros. - Fatores como roubo de credenciais, ataques de phishing ou má utilização da tecnologia contribuíram para que informação relevante tenha sido obtida por agentes maliciosos e utilizada para fins ilícitos. - Evite reservar viagens ou efetuar quaisquer outras compras online em sites pouco fidedignos. - Antes de partir de férias, atualize todos os seus equipamentos e garanta que tem instalado o antivírus em todos eles. - A adoção destas boas práticas de cibersegurança poderá ajudar a mitigar o risco de ser alvo de ciberataques que lhe estraguem as tão merecidas férias. Desligue com a máxima segurança e aproveite as suas férias ao máximo!
Senado A ânsia de encontrar um culpado Perante a desgraça, corremos todos desenfronhados, a fugir da nossa culpa, à procura de um rosto a quem apontar a nossa ira, um espaço que nos permita esconder a vergonha desta alma que se inquieta à velocidade da luz mas se desliga, esgotada ou embrenhada em qualquer nova história. As análises são normalmente feitas em cima do joelho e os julgamentos instantâneos, subvalorizando factos mas transbordando de certezas construídas pelo (i)mediatismo do tema, que nos apresenta fragmentos de uma história que o nosso cérebro não resiste a completar e construir um enredo qualquer. A dúvida, a incerteza, a ausência de uma resposta é demasiado incómoda e expõe a vergonha da nossa inércia enquanto cidadãos. A Jéssica, a Joana, a Fátima, a Maria Isabel, a Valentina... e tantas outras crianças que foram invisíveis para o sistema (e para todos nós), até ao dia da sua morte, têm algo em comum. O que tinham em comum é o nosso Sistema de Promoção e Protecção de Crianças e Jovens em Perigo. Este sistema que, quando é discutido - na maioria das vezes, na procura de uma cara seja numa Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), seja no sistema de justiça -, não é discutido na sua génese, não é analisado no seu formato nem tão-pouco na sua origem. O sistema foi pensado a partir da comunidade, colocando em primeira linha de resposta a própria comunidade. Orientado pelo princípio da intervenção mínima, apenas perante a ausência de resposta por parte da comunidade é que o sistema, numa lógica piramidal, exige a intervenção das entidades com competências em matéria de infância e juventude, por exemplo prevenindo ou actuando sobre o risco (a pobreza, entre outros) e não deixando que a situação se transforme em perigo. Na incapacidade de resposta destas entidades, nomeadamente por ultrapassar a sua competência, devem então intervir as CPCJ, sem prejuízo de qualquer entidade ou pessoa sinalizar, sempre que entenda existirem indícios de perigo, uma situação a estas comissões. Mas, afinal, o que são estas comissões? São instituições não judiciárias que integram a administração independente do Estado e que, por isso, têm autonomia própria (cada uma delas), livres de orientações nos casos concretos e da tutela do Estado. Mas com o objectivo de prosseguir os fins do Estado, defendendo o superior interesse das crianças e dos jovens e protegendo-os de perigos que coloquem em causa o seu desenvolvimento ou até mesmo a sua vida. O Estado delegou a protecção das suas crianças e jovens nestas entidades que funcionam sem tutela de qualquer organismo público. Todavia, o modo como estas entidades funcionam sem meios técnicos, sem recursos humanos especializados, sem formação adequada e sem qualquer orientação, poderá conduzir a que consideremos que o Estado não delegou a protecção de crianças e jovens; antes se desresponsabilizou dessa tarefa pública fundamental. As CPCJ, cada uma das 311 existentes, são independentes no seu funcionamento administrativo, na escolha dos seus membros, nas suas garantias estatutárias, na composição dos seus órgãos, na vinculação das decisões, apenas subordinadas ao que diz a lei, nomeadamente quando afirma que na sua composição tem de estar presente um membro de determinadas entidades públicas (município, Segurança Social, Ministério da Educação, Ministério da Saúde, IPSS ou ONG, IEFP, forças de segurança e associações locais de relevo), sendo que cada entidade designa e assume os encargos do seu membro, que no caso de integrar a comissão alargada, aquela que trabalha na prevenção, no mínimo tem de estar disponível para a comissão oito horas por mês. Sim, apenas oito horas por mês! Já na comissão restrita, aquela que avalia, analisa e decide o caso concreto, os seus membros também podem, e assim será na maior parte das vezes, estar em part-time. Espantem-se: o próprio presidente da comissão só está a tempo inteiro quando no território de actuação existem cinco mil crianças ou mais entre os zero e os 18 anos. Ora, não podemos deixar de colocar a questão óbvia. Sem formação especializada nesta matéria, trabalhando em regime de part-time, estarão os profissionais destas áreas capacitados tecnicamente para decidir sobre a retirada de uma criança? Capacitados para avaliar o contexto familiar? Bem sei que a decisão é de toda a comissão, mas os “olhos” de quem vê e os “ouvidos” de quem recolhe a informação são determinantes e não podem deixar de estar tecnicamente habilitados e profundamente treinados. Dito isto, não restem dúvidas de que estes profissionais, na sua grande maioria, mesmo que desgastados pela exposição que este trabalho provoca, dedicam-se, fazem formação por conta própria, muitas vezes abdicando da sua vida pessoal. Mas este sistema de pirâmide não acaba aqui: quando os pais ou responsáveis não concordam com a intervenção ou incumprem os planos estabelecidos, os casos são enviados para tribunal, e só aqui começa a intervenção judicial, assessorada muitas vezes pelas equipas multidisciplinares de apoio aos tribunais, mas com as crianças sem a representação de um advogado. O que estas crianças e tantas outras tiveram em comum é um sistema de promoção e protecção em part-time numa importante parte da “pirâmide”, que sobretudo funciona como uma estratégia para desonerar o Estado da sua responsabilidade, sobretudo financeira.É este o sistema de promoção e protecção das crianças e dos jovens que queremos?
Senado Sou filha da doença mental Sou filha da doença mental. Cresci na fragilidade dos seus braços, encostada aos mimos dos meus avós. Tinha 26 anos quando internaram a minha mãe na Casa de Saúde da Idanha, um dos lugares onde, como diz um amigo, se escreve Amor com letra grande. Percebi, no tempo certo, que há um mundo demasiado sensível e perigoso dentro das nossas cabeças que merece ser cuidado, tratado. Talvez esperassem que escrevesse sobre a crise nas urgências de obstetrícia, mas a verdade é que sempre me dei mal em nadar a favor da corrente, quando o mundo se conjuga numa força mais mecânica do que racional. Talvez me quisessem ler no espaço dos lugares-comuns que têm enchido os jornais e as televisões agora, com anos de atraso, como se todos tivessem chegado ontem para ver os problemas do SNS por um pequeno e único buraco na fechadura. De um dia para o outro, felizmente, apareceu gente mais do que suficiente para lutar com energia e empenho em nome das grávidas, das mães e dos pais que tremem perante as dificuldades de acesso aos serviços de urgência. Permitam-me, então, que olhe o sistema de saúde pelos olhos de quem se sente profundamente sozinho, perdido, em busca permanente de um sentido que se dissolve em ansiedade, pânico, escuridão. Quero escrever sobre a tristeza profunda, que neste país é coisa de rico. Os pobres não têm direito a problemas de saúde mental - basta olhar para os tempos de espera, por exemplo, para uma consulta de psiquiatria no serviço público. Se for no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, um doente prioritário vai ter de esperar 56 dias, quase dois meses; no São João, no Porto, são 97 dias, e em Coimbra 45. Alguém tem noção do que é viver dois dias seguidos mergulhado no vazio? No nada? Numa profunda dor que nos leva ao abismo? No mundo da doença mental, a espera é um passaporte para o inferno, um vaguear constante entre o ir e o ficar. Durante os dias quentes da pandemia, várias foram as vozes que surgiram a alertar para o drama deste tipo de patologia. Sim. Estamos a falar de doença, e não de estados de alma. As doenças diagnosticam-se e tratam-se. É por isso que o ataque ao drama da doença mental só será eficaz com o reforço e reorganização dos meios humanos disponíveis. Hoje, mais do que nunca, enfermeiros especialistas em saúde mental, psicólogos e psiquiatras devem construir uma rede forte que começa nos cuidados de saúde primários, com triagem séria e encaminhamento célere. Como em qualquer doença grave, perder tempo é correr riscos desnecessários. A doença mental não escolhe idade ou condição socioeconómica, vive envergonhada no silêncio do estigma. É por isso que o poder político não lhe tem atribuído o devido valor na listagem de prioridades. É preciso lutar, de uma vez por todas, para que o tratamento da doença mental não esteja dependente da abrangência do seguro de saúde ou da capacidade para pagar um tratamento numa clínica privada, lá longe do mundo de todos os dias, onde os vulneráveis acabam a dormir na rua ou a colocar um ponto final no sofrimento porque se cansaram de viver. Sou filha da doença mental. A minha mãe adoeceu quando eu tinha um mês e meio. Quero para as mães e os filhos dos outros aquilo que consegui para a minha. Um lugar de Amor, com letra grande, com profissionais de excelência, acompanhamento diário e tratamento eficaz. Mas quero esse cuidado para todos, disponibilizado pelo Estado, a quem entregamos parte da nossa vida em impostos. É por isso que estou disponível para discutir os problemas estruturais do SNS, sem tabus, e sem que essa discussão esteja condicionada a prioridades que não colocam o doente no centro do debate. Aprendi, como enfermeira, que é ele o foco da minha acção, do meu conhecimento e amor profissional. Não desisto de ninguém que precisa do meu cuidado e, talvez mesmo por isso, não aceito que o Estado desista de alguns doentes, sobretudo daqueles que se sentem mais sozinhos e abandonados nas esquinas daquilo a que alguns ainda chamam loucura. Loucos somos todos, sobretudo aqueles que desistiram de escrever Amor com letra grande, em particular no sector da saúde.
Figura da Semana Graça Freitas: dar luta à salmonela, inimiga declarada do SNS A DGS alerta: é indispensável evitar adoecer em Agosto, mês de todos os perigos. E nada recomendável dar à luz no Verão em Portugal, quando a urgência vai de férias ou mete baixa. Este país não é para grávidas.
Opinião Esta coragem não é para todos Ana Pedrosa-Augusto- Autor marcado para seguir 17.11.2021, 09:00
Opinião Seria desta que víamos a direita de Portugal a assumir Portugal? Ana Pedrosa-Augusto- Autor marcado para seguir 03.11.2021, 09:00