Santos Silva avisa Marcelo: “Debate entre Governo e oposição faz-se no Parlamento”

Socialistas não esquecem ferroadas do Presidente da República e avisam Marcelo que a dialéctica entre a oposição e o Governo não deve ser “sequestrada ou retirada ao Parlamento”.

Apesar de a viagem à República Dominicana, para a Cimeira Ibero-Americana, ter suavizado a tensão crescente entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, os socialistas não esquecem as últimas ferroadas de Marcelo e, pela voz do presidente da Assembleia da República, avisam: “É ao Parlamento que o Governo responde. E a dialéctica entre a oposição e o Governo deve fazer-se no Parlamento e não [deve ser] sequestrada ou retirada ao Parlamento”, disse Augusto Santos Silva, na segunda-feira, durante o jantar do primeiro dia das Jornadas Parlamentares do PS, que decorrem em Tomar.

Numa intervenção aplaudida pelos deputados socialistas, o ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros deixou vários recados sobre “outras instâncias de poderes” e reforçou a ideia de que “o Parlamento é o lugar do debate político, o lugar da dialéctica essencial à democracia entre o Governo e as oposições, entre a maioria e as minorias”.

“Claro que uma democracia madura e avançada como a portuguesa tem muitas instâncias de poder e os poderes limitam-se uns aos outros. E é muito importante que os vários poderes – os órgãos de soberania do Estado, os poderes dos tribunais, da imprensa e da opinião pública, das associações cívicas, dos sindicatos – se limitem uns aos outros”, sublinhou, reiterando: “O debate político entre Governo e oposição é no Parlamento que se faz.”

Segundo Santos Silva, o PS “tem respeitado os direitos de todos e tem contribuído para o bom funcionamento” do Parlamento, o que tem permitido “construir maiorias que vão muito além da maioria absoluta” socialista.

O aviso de Augusto Santos Silva acontece depois de dias de crescente tensão entre o chefe do Estado e o Governo, que subiu de tom quando Marcelo comparou o pacote Mais Habitação a uma “lei-cartaz”. Dias antes, em entrevista à RTP e ao Público, Marcelo afirmou que a maioria nasceu “requentada” e que o Governo está “cansado”, e já nessa altura não ficou sem resposta do líder do Executivo: “Uma maioria [nascida] em 2022 não é, seguramente, requentada” e o Governo está “pleno de energia para continuar a governação até Outubro de 2026.”

No Parlamento, na semana passada, Costa contra-atacou: “Noutras funções políticas fala-se, fala-se, fala-se. No Governo, ou se faz ou não se faz.” A semana acabaria, no entanto, com os dois, lado a lado, na República Dominicana, onde o primeiro-ministro negou um conflito com Marcelo, com quem diz ter uma “progressiva amizade”.

Ler mais