Numa escala de culpa pelo desaparecimento parlamentar do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos fica à frente de Assunção Cristas e de Paulo Portas?
Não. Cometeu muitos erros, não vou dizer que fez uma gestão brilhante, pois obviamente não a fez, mas considero-o um gestor liquidatário. Podem dizer que há gestores liquidatários melhores e piores, e não sei se ele foi um grande gestor liquidatário. Mas na minha opinião a grande responsabilidade é de Paulo Portas, que matou o CDS com o “irrevogável”. Na altura, o CDS não percebeu que aquele “irrevogável” foi a descredibilização total do partido enquanto força reformista e de intervenção na sociedade. Depois, Assunção Cristas não teve capacidade política para gerir melhor. Se me perguntarem o que o CDS deveria ter feito - na altura dei a minha opinião, mas em privado -, Paulo Portas devia ter saído do governo de Passos Coelho para ser coerente com a sua palavra e o CDS manteria ministros no governo, que seriam Assunção Cristas e eventualmente Pedro Mota Soares. Não foi isso o que fez e não percebeu as consequências. Não foi a primeira vez, aliás, porque quando Manuel Monteiro ressuscitou o CDS o partido vinha de uma situação semelhante. Foi Freitas do Amaral a dizer uma coisa e outra que acabou com a Aliança Democrática e parte do eleitorado de direita nunca perdoou ao CDS a forma como implodiu com a AD. E por isso foi de degrau em degrau até Adriano Moreira ficar com quatro deputados. Ele era uma espécie de gestor liquidatário, como o Francisco Rodrigues dos Santos. O que aconteceu é que nessa altura o CDS teve capacidade de se reinventar como PP. E eu acho que hoje, fora do Parlamento, o CDS não terá ninguém que o consiga reinventar como outro partido. Essa lição serve é para o PSD, que na verdade deve fazer aquilo que Manuel Monteiro e Paulo Portas fizeram no CDS. Tem de encontrar um conjunto de gente que transforme o PSD como o CDS se transformou em PP: um partido completamente novo, com uma mensagem nova e gente nova.
É mais difícil encontrar essas pessoas agora, havendo alternativas como a Iniciativa Liberal ou o Chega?
Estamos num mundo mediatizado e hoje não é fácil encontrar caras novas, descomprometidas e ao mesmo tempo mediáticas. Obviamente que as circunstâncias são completamente diferentes. Mas atenção que Aznar e outros não eram desconhecidos dentro da Aliança Popular; eram pessoas com responsabilidades de governo nas regiões autonómicas espanholas. Se o problema do PSD é encontrar essas pessoas, não sei se estarão em Cascais, em Braga ou nas regiões autónomas, mas é preciso encontrar quem consiga criar uma espécie de novo partido, como se fez em Espanha, e como Manuel Monteiro e Paulo Portas fizeram em 1992.