Nuno Garoupa: “O CDS não terá ninguém que o consiga reinventar como outro partido”

Ex-militante centrista, o professor universitário culpa mais Paulo Portas do que Francisco Rodrigues dos Santos pelo desaparecimento parlamentar dos centristas. E, como disse na entrevista que pode ser lida na edição impressa desta semana do NOVO, onde defende que a Aliança Democrática deveria regressar enquanto partido, aponta como solução para o PSD uma transformação como aquela que Manuel Monteiro fez ao CDS em 1992.

Numa escala de culpa pelo desaparecimento parlamentar do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos fica à frente de Assunção Cristas e de Paulo Portas?

Não. Cometeu muitos erros, não vou dizer que fez uma gestão brilhante, pois obviamente não a fez, mas considero-o um gestor liquidatário. Podem dizer que há gestores liquidatários melhores e piores, e não sei se ele foi um grande gestor liquidatário. Mas na minha opinião a grande responsabilidade é de Paulo Portas, que matou o CDS com o “irrevogável”. Na altura, o CDS não percebeu que aquele “irrevogável” foi a descredibilização total do partido enquanto força reformista e de intervenção na sociedade. Depois, Assunção Cristas não teve capacidade política para gerir melhor. Se me perguntarem o que o CDS deveria ter feito - na altura dei a minha opinião, mas em privado -, Paulo Portas devia ter saído do governo de Passos Coelho para ser coerente com a sua palavra e o CDS manteria ministros no governo, que seriam Assunção Cristas e eventualmente Pedro Mota Soares. Não foi isso o que fez e não percebeu as consequências. Não foi a primeira vez, aliás, porque quando Manuel Monteiro ressuscitou o CDS o partido vinha de uma situação semelhante. Foi Freitas do Amaral a dizer uma coisa e outra que acabou com a Aliança Democrática e parte do eleitorado de direita nunca perdoou ao CDS a forma como implodiu com a AD. E por isso foi de degrau em degrau até Adriano Moreira ficar com quatro deputados. Ele era uma espécie de gestor liquidatário, como o Francisco Rodrigues dos Santos. O que aconteceu é que nessa altura o CDS teve capacidade de se reinventar como PP. E eu acho que hoje, fora do Parlamento, o CDS não terá ninguém que o consiga reinventar como outro partido. Essa lição serve é para o PSD, que na verdade deve fazer aquilo que Manuel Monteiro e Paulo Portas fizeram no CDS. Tem de encontrar um conjunto de gente que transforme o PSD como o CDS se transformou em PP: um partido completamente novo, com uma mensagem nova e gente nova.

É mais difícil encontrar essas pessoas agora, havendo alternativas como a Iniciativa Liberal ou o Chega?

Estamos num mundo mediatizado e hoje não é fácil encontrar caras novas, descomprometidas e ao mesmo tempo mediáticas. Obviamente que as circunstâncias são completamente diferentes. Mas atenção que Aznar e outros não eram desconhecidos dentro da Aliança Popular; eram pessoas com responsabilidades de governo nas regiões autonómicas espanholas. Se o problema do PSD é encontrar essas pessoas, não sei se estarão em Cascais, em Braga ou nas regiões autónomas, mas é preciso encontrar quem consiga criar uma espécie de novo partido, como se fez em Espanha, e como Manuel Monteiro e Paulo Portas fizeram em 1992.

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