“Uma pessoa inteligente”, com um “apurado sentido moral” e “uma dedicação notável”. É desta forma que o líder da Juventude Socialista (JS) descreve Mariana Mortágua, a deputada que está à beira de assumir a liderança do Bloco de Esquerda. Estas características, resume ao NOVO Miguel Costa Matos, fazem da bloquista “uma excelente política”, de quem espera “sinais” de uma reaproximação que permita uma reedição da geringonça no futuro. Pede, por isso, a Mariana Mortágua mais “cabeça” e menos “coração”.
“Espero que ela possa colocar essas suas capacidades ao serviço de uma esquerda que se quer, não só criativa e atenta face aos problemas que as pessoas enfrentam, mas também dialogante e construtiva. Não basta enfrentarmos os interesses se não conseguirmos ter uma estratégia para vencer”, diz Miguel Costa Matos em declarações ao NOVO, nas vésperas da convenção do Bloco de Esquerda, que se realiza este fim-de-semana em Lisboa, em que ficará decidido quem ocupará o lugar de Catarina Martins. Em disputa estão duas moções, mas a vitória da proposta encabeçada pela deputada “estrela”, que se notabilizou em comissões parlamentares de inquérito, é mais do que certa.
“Espero que possa reaproximar a esquerda dessa missão histórica que é as esquerdas trabalharem em conjunto em prol das pessoas”, afirma Miguel Costa Matos, não escondendo ser seu desejo uma reedição da geringonça no futuro.
Questionado se com Mariana Mortágua ao comando essa tarefa de reaproximação será mais fácil, o socialista mostra-se reticente: “Tem havido um tom muito crispado que, naturalmente, tem responsáveis de parte a parte.” Mas “é preciso encontrar um caminho para essas frustrações para podermos ultrapassar as dificuldades que temos e conseguir encontrar novos caminhos de convergência”, diz o deputado, evidenciando as diferenças entre os dois antigos parceiros do PS.
Enquanto que o secretário-geral do PCP já fez declarações mostrando estar disponível para voltar à mesa do diálogo, do lado do Bloco de Esquerda, os socialistas ainda não viram qualquer sinal nesse sentido. Mesmo assim, “para quem acredita numa esquerda dialogante, a esperança é a última a morrer” e “caberá a Mariana Mortágua dar os sinais que, por exemplo, Paulo Raimundo teve a inteligência de dar”.
O líder dos jotas socialistas não espera do novo ciclo de liderança no Bloco de Esquerda “mais radicalismo”, pelo menos em termos programáticos. Já do ponto de vista do tom e a da forma, as diferenças saltam à vista: “Mortágua é certamente mais acutilante.”
“O que é essencial é largarmos os testes de pureza e os ‘esquerdómeteros’ e, quando chegar a hora de negociar, termos uma negociação aberta e comprometida. Isso interessa muito mais do que se o discurso é mais ou menos chato”, defende, acrescentando que, em política, é preciso mais cabeça e menos coração. “Os problemas das pessoas são demasiados sérios para apenas serem lidados com o coração. Exigem maturidade e responsabilidade.”
É certa, então, uma mudança “para um tom cada vez mais duro”, mas “os socialistas têm que saber ser imunes” a isso, analisa Miguel Costa Matos. Ao mesmo tempo, aconselha os bloquistas a procurarem “resistir à tentação” de morder o isco dos casos e casinhos, como a oposição à direita tem feito.
Também aqui são “evidentes” as diferenças entre PCP e BE, realça Miguel Costa Matos. “O PCP tem adoptado uma postura de grande responsabilidade face à novelização destes casos. E o Bloco chegou ao ponto de dizer que não teve em nenhuma reunião preparatória [no Parlamento], acho isso bizarro”.