Governo afina estratégia para enfrentar caso Galamba

Socialistas acreditam que “o pior já passou” e que os resultados da economia vão começar a chegar à vida das pessoas. António Costa acusa a direita de querer “a todo o custo” provocar eleições antecipadas mas, se não houver “nada de novo”, já ninguém teme uma crise política. “É muito improvável e abriria uma perspectiva muito grave de turbulência e instabilidade”, afirma Vitalino Canas.

Governo e PS afinaram a estratégia para enfrentar o caso Galamba e afastar o cenário de eleições antecipadas. A prioridade é desviar as atenções das polémicas, colar a direita ao desejo de precipitar uma crise política e destacar os bons resultados na economia. O discurso de Cavaco Silva foi aproveitado para alimentar a tese de que não existe uma alternativa sólida e as principais figuras do PS apareceram a responder ao ex-Presidente da República numa semana em que as contradições à volta dos acontecimentos no Ministério das Infra-Estruturas continuaram a desgastar o Governo.

Convictos de que “a fase pior já passou”, os socialistas acreditam que, “se não houver nada de novo”, está afastado o cenário de crise política. E que os resultados do crescimento económico vão começar a chegar ao bolso dos portugueses. “As pessoas ainda não vivem melhor, mas a tendência é para que isso aconteça”, diz ao NOVO um deputado socialista, convencido de que o debate com o primeiro-ministro “aliviou a pressão” e “correu mal” ao PSD.

António Costa foi, nesta quarta-feira, ao Parlamento defender que a direita quer “criar a todo o custo e o mais rapidamente possível uma crise política” – um cenário “indesejado” pelos portugueses, garantiu. Na resposta ao discurso de Cavaco Silva, que o desafiou a apresentar a demissão, já tinha afirmado que o objectivo da direita é criar uma crise artificial para “não dar tempo aos portugueses” de sentirem os “benefícios desta recuperação económica”.

Mas não evitou que o caso Galamba dominasse o debate, com a oposição a concentrar-se num dos aspectos que ficaram por esclarecer depois da audição do ministro na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP: qual foi o papel do secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro na actuação do SIS. Costa rejeitou revelar conversas privadas com membros do Governo, apesar das inúmeras perguntas da oposição sobre o telefonema revelado por João Galamba na CPI.

O PSD levou para o debate outro caso, depois das revelações feitas pela TVI sobre o processo Tutti Frutti. A investigação sobre suspeitas da existência de um acordo secreto entre Fernando Medina, na altura presidente da autarquia de Lisboa, e o PSD para negociar lugares políticos envolve também Duarte Cordeiro. O primeiro-ministro aproveitou para garantir que mantém “toda a confiança política” nos dois ministros, numa resposta a André Ventura.

Os socialistas estão, porém, convencidos de que, para já, o impacto do caso é maior no PSD, devido às guerras que abriu entre os sociais-democratas e por as principais figuras referidas estarem ligadas ao PSD – Sérgio Azevedo e o actual deputado Carlos Eduardo Reis.

Um cenário “improvável”
Ao NOVO, Vitalino Canas admite que estes episódios “causam mossa”, mas vê como “um cenário muito improvável” a dissolução do Parlamento, apesar de Montenegro acreditar que está a chegar a vez do PSD. “O cenário da dissolução abriria uma perspectiva muito grave de turbulência e instabilidade. Os vários intervenientes, incluindo o Presidente da República, vão concluir que seria algo de absolutamente arriscado nesta altura”, diz o ex-governante.

Apesar de os socialistas ouvidos pelo NOVO considerarem que a data escolhida por Marcelo Rebelo de Sousa para marcar o Conselho de Estado “não é inocente”, depois do conflito entre Belém e São Bento, não temem surpresas. O Presidente da República anunciou a reunião no final de Julho, para fazer “o ponto de situação” e “ouvir o que pensam sobre a evolução da economia, a situação social e a situação política”. Na sexta-feira, num encontro com empresários, voltou a avisar que “quando o poder entra em descolagem em relação ao povo, não é o povo que muda, é o poder que muda”,

A relação com Belém não voltará a ser igual depois do conflito provocado pela permanência de Galamba, mas a remodelação continua afastada, bem como uma substituição nas Infra-Estruturas. Cresce, porém, a pressão interna para Costa mudar ministros fragilizados.

Congresso só em 2024
O caso Galamba, a necessidade de uma remodelação e a ameaça de eleições antecipadas dificilmente passarão ao lado da reunião da comissão nacional, prevista para 3 de Junho. Os socialistas vão também discutir a data do próximo congresso. que estava previsto para Setembro, mas deve realizar-se no primeiro trimestre de 2024. A intenção é aproximá-lo das eleições europeias, o que serviria para que a disputa pela sucessão de Costa ficasse para 2026.

O líder da tendência interna Democracia Plena, Daniel Adrião, já contestou as novas datas e enviou um requerimento ao presidente do PS para ser discutida na comissão nacional uma proposta sobre a realização de directas e do congresso em Setembro. O último foi a 28 e 29 de Agosto de 2021, em Portimão.

Artigo originalmente publicado na edição do NOVO de 27 de Maio

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