Francisco Louçã elogia Catarina Martins e Mariana Mortágua, Pedro Soares critica isolamento

À entrada para a XIII Convenção do Bloco de Esquerda, o fundador considerou que o partido ganhou muito com a líder cessante e sublinhou capacidade de trabalho de Mariana Mortágua. Pedro Soares critica prática de isolamento dos críticos internos.

Francisco Louçã elogiou hoje o trabalho realizado por Catarina Martins à frente do Bloco de Esquerdo, sublinhado que a coordenadora bloquista “foi extraordinária, porque marcou um período de amadurecimento”.

“Foi por causa dela e com ela que se fez a geringonça. Foi por causa dela e com ela que foi possível fazer um acordo com o PS e com o PCP para afastar uma direita que tinha sido derrotada nas eleições e dar a isso um conteúdo concreto, um contrato, que as pessoas sentiram cada dia”, disse o fundador do Bloco de Esquerda, à entrada para a XIII Convenção do Bloco de Esquerda. “E quem hoje compara uma maioria absoluta com o poder todo com o que foi a estabilidade, a segurança, o progresso, a confiança que houve no tempo da geringonça bem pode perceber a diferença”, acrescentou.

Sobre as últimas eleições, que viram o Bloco de Esquerda perder 14 deputados na Assembleia da República, Francisco Louçã sublinhou a “coragem” do partido de votar contra um Orçamento do Estado que, considera, fechava as portas ao Serviço Nacional de Saúde, acrescentando que o partido está a recuperar nas sondagens.

“Acho que tem honra de ter dito ao país que não podia haver um orçamento que fechasse as portas ao Serviço Nacional de Saúde, eu orgulho-me que tivesse havido essa coragem”, enalteceu Louçã. “Quem é que se atreve a dizer que o Serviço Nacional de Saúde não é decisivo para a democracia e para cada pessoa? Que o Bloco se bata por isso, acho muito bem que o faça com mais força, porque é assim que tem de ser”, defendeu.

Quanto a Mariana Mortágua, que surge como favorita na corrida à sucessão de Catarina Martins, Francisco Louçã considera que é “uma pessoa que tem uma capacidade de trabalho extraordinária, um encanto enorme e uma grande vontade de criar movimento, de fazer parte de um campo social que ajude Portugal a uma mudança”.

“E essa característica, essa dedicação, essa percepção da dívida que temos para com as pessoas que têm dificuldades, as pessoas que são mais pobres, os pensionistas, os jovens, as pessoas que não tem casa, isso é o que faz a grandeza de quem quer ajudar o país e responder perante o país. Será um imenso trabalho, desejo-lhe o maior sucesso”, realçou.

Prática de isolamento dos críticos
À entrada para a convenção, Pedro Soares criticou aquilo que considera ser uma “prática de isolamento” dos críticos internos, afirmando que a moção de que é porta-voz pretende o “restabelecimento da capacidade de diálogo” dentro do partido.

“É evidente que tem de haver rotura com algumas práticas. Eu acho que isso é fundamental. Prática de isolamento de quem tem posições críticas ou de não reconhecimento de que há várias sensibilidades e há um Bloco que se quer plural, eu acho que é preciso romper com essa prática”, criticou o porta-voz, em declarações aos jornalistas, à chegada.

Pedro Soares foi recebido com aplausos de alguns membros do Bloco e aproveitou também para deixar críticas à adversária na corrida à liderança, Mariana Mortágua, referindo que “há sinais contraditórios” por parte da também deputada porque, denunciou, “não quis fazer nenhum debate público”.

“Esperamos que haja uma mudança relativamente a essa atitude no futuro e na próxima direcção”, acrescentou.

Sobre à liderança da coordenadora cessante, Catarina Martins, o porta-voz da moção E reconheceu que teve “um papel incontornável e importante”, mas criticou a postura do partido nas campanhas de 2019 e 2022 nas quais, afirmou, houve “uma espécie de ‘geringocismo’”, com o objectivo de restabelecer “um novo acordo com o Partido Socialista”.

“Isso levou-nos às derrotas e a Catarina como é evidente não é a única responsável por isso mas é co-responsável por essas derrotas e é bom que todos nós assumamos isso”, concluiu.

Debate vivo e intenso
À entrada para a convenção onde deverá ser eleita coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua revelou esperar um “debate vivo e intenso”, remetendo uma resposta aos críticos internos para a intervenção na reunião magna.

“Eu penso que vocês hoje vão poder comprovar como o Bloco de Esquerda tem força, como tem a alegria de todo o debate. Vão poder ver um debate vivo e intenso e estou muito entusiasmada com essa oportunidade e estou, aliás, ansiosa para que esse debate comece”, afirmou a deputada, em declarações aos jornalistas à chegada à convenção.

Mariana Mortágua espera também que esta reunião magna seja marcada por “alegria, força e debate”, bem como “entusiasmo pelo futuro”.

“Estou para já muito feliz por estar aqui, por encontrar camaradas que não via há muito tempo e muito entusiasmada para os debates que vamos começar a ter hoje. Acho que vai ser uma boa convenção”, afirmou.

Questionada sobre as críticas da moção adversária, a candidata a suceder a Catarina Martins disse querer reservar-se para o debate da convenção e “para a primeira intervenção” que vai fazer perante os delegados, para apresentar a sua moção, ao início da tarde.

Mortágua apontou que “nas convenções faz-se todos os debates que os militantes acharem que são importantes”, realçando que o BE gosta de “debate livre”.

“Não posso antecipar exactamente como vai ser, será o que os militantes do Bloco desejarem, mas posso antecipar que vai ser bom, que vai ser intenso e que vai ser produtivo e vamos sair certamente daqui mais fortes, é o mais importante”, realçou.

E salientou que o partido “tem a sua vida interna muito intensa”.

“A democracia interna do Bloco é o que conta. É quando nos encontramos para trocar ideias sobre o nosso partido, sobre como vamos organizar o nosso partido no futuro”, defendeu, considerando que o essencial é haver lugar para “um debate vivo e sério”.

A XIII Convenção Nacional do BE, que vai eleger a nova liderança, começa hoje em Lisboa com um arranque dominado pelo discurso de despedida de Catarina Martins, a apresentação e discussão das moções em disputa e as intervenções dos delegados.

Os 654 delegados poderão escolher entre duas moções: a A, encabeçada pela deputada Mariana Mortágua e com muitos nomes da atual direcção, e a E, que junta críticos e cujo porta-voz à convenção é o ex-deputado Pedro Soares.

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