“As gerações não se atropelam, não se substituem, reforçam-se”. Foi com esta ideia com que Catarina Martins abriu a XIII convenção nacional do Bloco de Esquerda, em que Mariana Mortágua será escolhida como a sua substituta.
Numa primeira parte do seu último discurso, este sábado, no Pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, Catarina Martins saudou a “força militante” do Bloco, aqueles que conhecem a convenção “de cor” mas também os que nela participam pela primeira vez. Sublinhou o papel e a “generosidade” dos históricos Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda.
A Francisco Louçã, em particular, a quem sucedeu na liderança do Bloco numa coordenação bicéfala com João Semedo, elogiou a “inteligência” e a “combatividade”. “As gerações não se atropelam e não se substituem, reforçam-se”, disse.
“Grata” pelo trabalho feito na última década e pelo “mais que virá”, a ainda líder destacou uma a uma as conquistas e as lutas do Bloco de Esquerda dos últimos 24 anos. A mais recente, a despenalização da morte assistida, “a lei João Semedo”, como lhe chamou. Portugal deve agradecer-lhe a generosidade com que se dedicou a esta causa” e ao Serviço Nacional de Saúde.
Lembrou, com particular ênfase, a primeira grande conquista do Bloco, a consagração da violência doméstica como crime público, aproveitando para dar uma palavra “especial” às camaradas Marisa Matias e Mariana Mortágua, “mão na mão nos momentos difíceis” e “tantas outras” - “elas sabem quem são e eu não as esqueço”. Referiu-se às jovens feministas, “a quem não passa pela cabeça aturar o paternalismo” do país conservador. Catarina Martins manifestou “orgulho em estar neste partido de homens e mulheres feministas”, porque “decidimos fazer todos os dias o que é mais difícil: construir igualdade”.
O discurso foi o último como líder, mas Catarina pediu ao partido que não o ouvisse como uma despedida. ”Continuo a caminhar aqui (...) Estou a fazer um balanço para o futuro”, declarou, dizendo que “uma década é pouco tempo, mas conta muito para quem quer mudar o mundo”. “A liberdade é mais do que uma bandeira, é o que nos corre nas veias”, enfatizou.
Catarina Martins deixa este fim-de-semana a liderança do Bloco de Esquerda, ao fim de 12 anos. Com a saída da coordenação, sairá também do Parlamento no final desta sessão legislativa, mas continuará na direcção do partido, caso a moção encabeçada por Mariana Mortágua, como se prevê, saia vencedora da convenção