“A ecologia não tem voz no Parlamento, neste momento”

Fundado a 15 de Dezembro de 1982, o Partido Ecologista “Os Verdes” chega aos 40 fora do Parlamento. Mas o trabalho tem continuado, garante a dirigente e ex-deputada Mariana Silva.

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Mariana Silva, deputada de “Os Verdes” na última legislatura, critica aproveitamento eleitoralista no que toca à ecologia e ao bem-estar animal e avisa que o futuro da natureza no país “não é risonho”.

Pela primeira vez desde 1983, o PEV perdeu a representação parlamentar. Como é que o partido está a lidar com a nova fase?

O PEV, apesar de ter perdido o seu grupo parlamentar, continuou o trabalho em conjunto com as populações, procurando, naquilo que é a riqueza da ecologia, responder aos problemas.

Diria que há um vazio na defesa da ecologia no Parlamento?

Sim. Sentimos esse silêncio. Sentimos que a ecologia não tem voz no Parlamento, neste momento. Estamos a passar por uma situação social que se agrava a cada semana, com o aumento do custo de vida, mas não nos podemos desligar da protecção ambiental e da conservação da natureza. É em alturas de crise que, tendencialmente, se exploram mais os recursos e se encobrem os atentados ambientais. Lamentamos que não haja uma voz mais presente na defesa da ecologia, do ambiente e da natureza na Assembleia da República (AR). PAN, Bloco de Esquerda e Livre assumem-se como forças ecologistas. Não o são? Os Verdes foram pioneiros na política ecologista em Portugal, em levar problemas ambientais para a AR e a consciência ambiental junto das populações. As nossas propostas foram sempre muito ponderadas. Nunca foram mera publicidade, nem [surgiram] de repente, por moda. As questões que o PEV levou para o Parlamento - por exemplo, as ciclovias, que ainda hoje se reivindicam - foram fazendo o seu caminho, mas houve alguém a lutar para que entrassem na ordem do dia e na lei.

Considera então existir um aproveitamento eleitoralista destes temas por parte destes partidos?

Nalguns casos, sim. “Os Verdes” foram o primeiro partido a levar o bem-estar animal ao Parlamento. E, ainda hoje, há questões que não avançam e que até podem recuar. Os radicalismos levam a que algumas destas lutas percam visibilidade. Precisamos que estes assuntos sejam discutidos de forma séria, englobados no dia-a-dia de cada região, e não de forma radical. As inundações em Lisboa, por exemplo, são resultado de uma política de anos. Há muito que falamos da protecção dos leitos dos rios e do escoamento de água. As promessas e os projectos que estão no papel têm de passar à prática. Não podemos dizer que há, sobretudo no PS, uma preocupação séria com a ecologia quando as alterações climáticas e a conservação da natureza, na prática, não são tidas em conta.

“Os Verdes” nunca foram sozinhos a votos e são vistos como um apêndice do PCP. Os 40 anos são uma boa idade para emancipação do partido?

Os 40 são uma boa idade para se apresentar trabalho concreto e muito estruturado. São 40 anos de muitas lutas ambientais, sociais e outras. Fizemos sempre um trabalho autónomo no grupo parlamentar e fazemo-lo também nas autarquias. A apreciação que fazemos é que a CDU nos alarga horizontes e nos traz mais trabalho e mais concretização da luta pela justiça ambiental e social, que não podemos deixar para trás e precisa de ser reforçada.

Como olha para a nova liderança do PCP?

Foi a decisão do partido e o futuro apresenta-se risonho para todos.

O PEV tem perdido militantes?

É muito flutuante. Apesar de termos perdido os deputados, temos tido mais militantes a inscrever-se do que a sair. [São agora cerca de 5.800]. E continuamos a receber denúncias e pedidos de ajuda.

Acredita que o PEV vai conseguir voltar ao Parlamento?

É um dos nossos objectivos. Apesar de não ser o único espaço onde trabalhamos, é um lugar que nos dá mais abertura e voz. Lamentamos, mas o futuro não se apresenta risonho para o ambiente em Portugal. Há muitos projectos que poderão destruir grande parte da nossa natureza. As cidades têm de deixar de ter espaço para o cinzento e passarem a ter mais para o verde.

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