O Presidente da República apelou esta sexta-feira a que as vítimas de abusos sexuais na Igreja testemunhem, numa declaração após ter recebido a comissão independente, criada para fazer o levantamento desses casos.
Num momento raro Marcelo Rebelo de Sousa quebrou a tradição de não falar após receber uma entidade em audiência. No final do encontro foi o Presidente que quis prestar declarações para lançar esse apelo: “ O testemunho anónimo tem um valor enorme para que o dá, mas também como exemplo daquilo que deve ser o comportamento dos portugueses: não devem ter medo, não devem ter inibição. Os portugueses devem colaborar nesta procura de justiça. Testemunhem”.
O Chefe de Estado garantiu que, no encontro de hora e meia, não se discutiram casos concretos e agradeceu o trabalho da comissão da qual se esperam resultados finais em Janeiro de 2023.
Católico confesso, Marcelo puxou pelo seu papel presidencial para deixar um aviso: “Uma instituição só ganha com a verdade e a transparência” e foi um erro a Igreja ocultar, de alguma forma, eventuais abusos.
Na última semana, o Observador, o Expresso e a RTP revelaram denúncias de abusos sexuais na Igreja e casos que terão sido ocultados, foram arquivados, ou nem sequer chegaram à Justiça. Assim, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que “a democracia implica uma justiça efectiva”. Mais, quando for feito o apuramento de toda a verdade, a própria Igreja, instituição secular, deverá saber também “retirar consequências”.
Na sua intervenção Marcelo agradeceu ainda o papel da comissão, liderada pelo pedopsiquiatra, Pedro Strecht, por também desbloquear tabus e mentalidades.