Investigadores da Nova recebem 3 milhões para projectos que podem salvar vidas

Dois projectos europeus de investigação fundamental e aplicada coordenados pela Universidade Nova de Lisboa vão receber 3 milhões de euros de financiamento da União Europeia nos próximos três anos, no âmbito do Concurso Europeu Twinning 2020.

A Nova Medical School e a FCT Nova estão envolvidas em projectos que abrem novas possibilidades de terapias na luta contra o cancro, entre outras patologias. O financiamento europeu agora obtido vai impulsionar trabalhos de investigação.

Dois projectos europeus de investigação fundamental e aplicada coordenados pela Universidade Nova de Lisboa vão receber 3 milhões de euros de financiamento da União Europeia nos próximos três anos, no âmbito do Concurso Europeu Twinning 2020.

Trata-se do EVCA: Diagnostic and Advanced Therapeutics based on Extracellular Vesicles, que é coordenado por Rune Matthiesen e Paulo Pereira, investigadores da Nova Medical School (NMS), e recebe 1,5 milhões de euros.

O mesmo valor recebe o projecto GLYCOTwinning: Building Networks to Excel in Glycoscience, coordenado por Paula Videira, Filipa Marcelo e Angelina Sá Palma, investigadoras da Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas (UCIBIO) na Nova School of Science and Technology (FCT Nova).

Isabel Rocha, vice-reitora da universidade com o pelouro de investigação, inovação e criação de valor, destaca a importância dos temas em investigação, que podem ajudar a salvar vidas na luta contra o cancro e outras patologias, e a concorrência enfrentada. “Foi uma call muito concorrida, com quase 400 candidaturas submetidas, e este resultado inédito da Nova demonstra a qualidade dos nossos investigadores no panorama internacional.”

Projecto EVCA

Chamam-se vesículas extracelulares (VE) ou exossomas as pequenas partículas libertadas pelas células que investigadores da Nova NMS estão a estudar e que podem ser fundamentais na detecção precoce de doenças como o cancro, mas também no tratamento dessas e de outras patologias. Essas partículas medeiam a comunicação entre as células, são verdadeiros “veículos de comunicação” entre as células e podem ser usadas como meios de diagnóstico ou como terapias.

Isto porque determinadas patologias e, em especial, vários tipos de cancro produzem vesículas com informação específica que evidenciam a patologia. Conhecer essas vesículas e a sua composição permite detectar a patologia e agir mais precocemente, antes mesmo da manifestação “exterior” da doença. São, na prática, “biópsias líquidas”.

O trabalho dos investigadores da Nova Medical School é no sentido de caracterizar melhor essas vesículas e criar guias de utilização e tratamento em que as vesículas podem actuar como “cavalos de Tróia”, pois as células doentes deixam-nas passar, uma vez que as conhecem. Os investigadores portugueses pretendem desenvolver técnicas que permitam carregar as vesículas com moléculas terapêuticas que, desse modo, actuam directamente na célula doente.

“A utilidade destas vesículas é incomensurável, pois evitam as barreiras que as células doentes erguem a agentes externos que lhes são estranhos. Como as vesículas lhes são familiares, deixam-nas entrar e permitem que elas trabalhem na cura, através das proteínas terapêuticas e medicamentos biológicos que transportam e que entregam nas células doentes”, explica a Nova NMS.

Cientistas de todo o mundo estudam as vesículas extracelulares, mas os investigadores portugueses concentram-se na aplicação clínica. Este projecto irá colocar a escola portuguesa no mapa das instituições internacionais que lideram a investigação em VE e dar continuidade a colaborações futuras entre as instituições parceiras.

O projecto vai ser desenvolvido na NMS, em parceria com duas instituições europeias de referência: o Institut Curie, em França, e o Center for Cooperative Research in Biosciences (CICbioGUNE), em Espanha.

Projecto GLYCOTwinning

Paula Videira, Filipa Marcelo e Angelina Sá Palma, investigadoras da UCIBIO-Nova, explicam que todas as nossas células possuem uma película que as envolve que mais não é do que açúcares designados por glicanos. Os microrganismos possuem igualmente essa película. Qualquer interacção física célula a célula, incluindo microrganismo-hospedeiro, passa pelos glicanos, como qualquer interacção física entre pessoas passa pela pele.

O projecto GLYCOTwinning pretende, antes do mais, identificar esses açúcares e perceber como é que os glicanos afectam a interacção entre as células, doentes e saudáveis. E vai mais longe, desenvolvendo uma tool box (caixa de ferramentas) que mais não é do que uma plataforma tecnológica (que já existe, mas que esta investigação vai reforçar e afinar) para detectar moléculas que contenham glicanos “maus” e permitir, depois de os conhecer, desenvolver moléculas que possam tratar esses glicanos. A plataforma, que usa várias técnicas e tecnologias, isolada ou concomitantemente (por isso se chama tool box), permite, depois de conhecer os glicanos, manipular essas moléculas. O desafio da investigação é a caracterização das interacções entre as células e como é que as proteínas reconhecem esses glicanos, e desenvolver novas ferramentas para identificar glicanos e poder contribuir para a terapia, por exemplo, de doenças oncológicas, infecciosas e doenças congénitas da glicosilação.

Trata-se de um projecto muito importante do ponto de vista académico, mas também do ponto de vista da aplicação, sendo muito útil para empresas interessadas em métodos terapêuticos, o que capacita a investigação portuguesas nesta área científica em particular.

O projecto é coordenado por investigadoras da UCIBIO na FCT Nova especialistas em glicociências, em parceria com o Center for Cooperative Research in Biosciences (CICbioGUNE), em Espanha, o Leiden University Medical Center (LUMC), nos Países Baixos, e o Imperial College London, no Reino Unido.

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