Para o médico e consultor da DGS, cujas relações profissionais e financeiras com a indústria farmacêutica estão a ser analisadas à lupa, é um alívio saber que a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) lhe instaurou um processo de averiguação. Convicto de que os cerca de 300 mil euros que recebeu desde 2013 – por palestras, reuniões e financiamento de estudos – nada têm de irregular, Filipe Froes diz-se “extremamente satisfeito pelo processo de esclarecimento sobre colaborações que estão previstas e regulamentadas” e que considera “normais e habituais”.
Só este ano, o pneumologista que a pandemia celebrizou entre os portugueses recebeu praticamente 43 mil euros, numa média de 6 mil euros por mês até Agosto. Públicas, as transferências declaradas no Portal da Transparência do Infarmed estão na origem do inquérito que a IGAS confirma estar em “fase de investigação”.
O especialista, que também coordena o Gabinete de Crise Covid-19 da Ordem dos Médicos, disse ao NOVO desconhecer o processo de averiguação e volta a bater-se pelo esclarecimento contra a ignorância na matéria. “Além da conclusão da total legalidade, normalidade e isenção das minhas colaborações, faço votos de que esta regulamentação que se aplica aos médicos e a outros profissionais de saúde possa estender-se a outros grupos profissionais”, afirma, afastando qualquer promiscuidade entre os médicos e a indústria farmacêutica.
Recorrendo à mesma fórmula que usou quando, em Agosto, o NOVO o confrontou com as somas que tem recebido do sector farmacêutico, Froes insiste que “o problema nunca esteve nem está na transparência, mas, sim, na opacidade, na ignorância e, sobretudo, na ilusão do conhecimento” que há sobre a esfera das investigações científicas e outros estudos financiados e/ou promovidos pelas donas dos fármacos.
Desde 2013, o médico declarou – em nome próprio e através da empresa Terra & Froes, que detém com a mulher – relações com 24 farmacêuticas, entre elas as que produzem as vacinas contra a covid-19 administradas em Portugal: Pfizer, AstraZeneca e Janssen. A primeira surge, aliás, como a empresa que mais lhe pagou (mais de 130 mil euros), seguindo-se a Merck Sharp & Dohme (cerca de 80 mil euros) e a Bial (mais de 44 mil euros).
Ao NOVO, Filipe Froes explicou então que colabora há mais de 20 anos em acções de formação e na realização de palestras nacionais e internacionais de forma isolada, financiadas pela indústria farmacêutica. Mais: como consultor da DGS, é obrigado a fazer uma declaração de conflito de interesses periodicamente.