Quando olhamos para os dados do excelente estudo da Fundação José Neves, só podemos concluir o que há muito vem sendo feito, mas ignorado. Estamos a criar um país de pobres.
Pobres, sim.
Porquê? Porque um país que numa década só aumentou salários para as pessoas com qualificações mais baixas, isto na ordem dos 5%, mas reduziu em mais de 11% os salários dos mais qualificados, é o sinal errado de que não vale a pena o esforço. Claro que quem tem curso ganha mais mas, cada vez mais, o gap entre o salário mínimo e o salário médio é mais curto. A isto juntamos uma baixa de produtividade brutal. Que ninguém comenta. Que ninguém assume. Com que ninguém se preocupa. Podemos falar de quatro dias de semana de trabalho, mas a discussão, sobretudo com as lições da pandemia, deve ser como fazermos mais, mesmo que em casa ou com menos dias no escritório.
Basta continuarmos para percebermos que o emprego tem crescido mais nos sectores menos produtivos.
A sério, vale a pena ler o estudo. A falta de conhecimento explica também a anestesia geral. O receio do poder do Estado, a vontade de pelo menos ter o que é certo ao fim do mês faz com que uma grande parte da população não perceba o brutal aumento dos preços. Basta ir ao supermercado. Basta ter em linha de conta que se em Janeiro gastávamos 40 euros numa ida ao mercado, hoje, em Julho, somem mais 14 euros e trazemos exactamente o mesmo. Ora, isto significa que a tendência só tende a piorar.
E no meio desta crise anunciada temos um primeiro-ministro a dizer aos empresários que aumentem lá os seus trabalhadores em 20%. Façam lá esse favor. Os empresários que suportam salários, mas sobretudo deixam uma parte brutal em impostos ao Estado. Impostos que, pelo seu peso, deveriam permitir que este país andasse com serviços públicos de qualidade.
E onde estão esses serviços?
Não existem, como se percebe pelas notícias da saúde, mas, se quisermos focar-nos em qualquer outro sector, o Estado não tem hoje um serviço de qualidade para a sua população.
E assim vivemos. A caminho da pobreza geral. Com o foco na dependência do Estado. A chamar rico a quem ganha 1000 euros por mês. A olhar com inveja para os empresários e a tentar criar uma onda de coitadinhos.
Não se engane. Existe uma política de criação de pobreza neste país. Deliberada. Uma agenda de que quanto mais pobres e dependentes, melhor. E essa política de esquerda é a razão principal do nosso atraso estrutural.