O mundo acelerou no tempo político, deixando cada vez menos margem para indecisões ou exercícios tácticos de governação. As sucessivas crises, nos mais diferentes domínios, aportaram a incerteza como uma variável dominante no jogo de forças e no equilíbrio entre as diferentes partes da sociedade. O primado da comunicação perde terreno em detrimento da efectividade da acção. Dir-se-á que é cada vez mais difícil sobrepor a ilusão à realidade, à medida que as tensões sociais se acentuam, as frustrações se agravam e o jogo de expectativas perde para o terreno da desilusão.
A criação de valor económico e social representa o único antídoto para a estagnação e a acumulação de pobreza. Este tem de ser o desígnio estratégico do país. Para tal, não basta proclamar como imperativo o pilar tecnológico da inovação para garantir a transformação da sociedade e consolidar o modelo de desenvolvimento. É fundamental inovar a administração, tal como é indispensável inovar nas políticas. Um dos aspectos mais curiosos da hesitação em política está na facilidade com que se desiste do que corre bem, se procrastina a mudança e se invertem caminhos sem ganho de causa económico nem social. É caso para dizer “if it works, don’t fix it” em questões tão emblemáticas como as parcerias na saúde ou a reabilitação urbana. Pior ainda que reverter sem critério ou inverter sem sentido racional é mesmo dar o dito por não dito. Os custos da hesitação, da imprevidência política ou das más decisões, alheadas de qualquer tipo de evidência, são sempre diferidos no tempo, gerando externalidades negativas de consequências imprevisíveis. A moderação política não significa o imobilismo, a cedência ou a complacência com o que está nem com o que é dominante. Pelo contrário, a moderação é o território privilegiado do reformismo, do consenso gerador de mudança, do incentivo ao progresso. Um país com recursos limitados apenas consegue ganhar vantagem através da criação de contextos de competitividade suportados em ideias novas, criatividade e estímulo à inovação nos mais diversos níveis da sociedade. A conjugação entre universidades e empresas, trabalho, empreendedorismo e inovação social é fundamental para a dinâmica de transformação interna que nos projecta no contexto internacional. A confrontação entre sectores contribui para retardar a implementação de projectos e a concertação de respostas, bem como condiciona a utilização dos recursos disponíveis. A passagem do tempo acentua a preocupação na conta-corrente relativa à percepção da diferença entre o que é exigido às pessoas e às empresas, pela via fiscal, e aquilo que lhes é devolvido no rendimento, nos serviços públicos e na qualidade de vida. A desvalorização do quadro global em que o país vai definindo os seus limites não trará nada de positivo. A falta de espaço para a esperança e a motivação dos diferentes grupos sociais acabará por se tornar um dilema geracional de difícil resolução.