Opinião

Sou, logo existo

Joana Amaral Dias


Para assinalar o Dia da Mulher, publiquei nas redes sociais um testemunho de meia dúzia de linhas que provocou extrema celeuma. Nele explicava que, se outrora desgostava da data celebrada com flores sentimentalonas e paternalistas, agora detesto-a porque me impingem uma ideia aparentemente oposta mas, na verdade, igual: ser-se mulher, dizem hoje, é um sentimento. Ou seja, qualquer um que se sinta mulher é mulher e deve não apenas mudar de sexo como ser subsidiado pelo Estado para o efeito. A coisa vai já a tal ponto que, em Portugal, este 8 de Março, a rede Multibanco encheu-se de uma propaganda alegando que as mulheres são “mais que um corpo” e que, como tal, todos podem ser mulheres, todos os que quiserem, inclusive os que - como se via na imagem - têm pénis. Só que não. Não me sinto mulher, eu sou mulher. Sou, geneticamente, uma mulher. Trata-se de uma condição, e não de um sentimento. É a biologia, estúpido.

Já agora: tanto quanto se saiba, somos todos, homens e mulheres, “só um corpo”. O estômago faz a digestão; os pulmões, as trocas gasosas; e o cérebro pensa/sente. A mistificação esbarra com a realidade e com o conhecimento científico - por exemplo, quando um AVC danifica um parte do cérebro, os nossos afectos e cognições ficam alterados. Somos corpo.

Mas vejamos. O que será isso de “sentir-se mulher” ? Uns dirão que é sentir-se feminino. E o que é sentir-se feminino? É uma mulher sentir-se bonita, sensual, delicada, sensível? Mas um homem também não pode e deve sentir-se bonito, sensual, delicado, sensível? E uma mulher que não seja ou não queira ser bonita, sensual, delicada, sensível, é menos mulher por isso? Sente-se menos mulher? Claro que não. Então, ser-se mulher será o quê? Cuidar dos filhos e do lar? Gostar de brincar às bonecas em pequenina e de pintar as unhas quando cresce? Ser-se mulher é gostar de coisas lamechas? Uma mulher que não goste da domesticidade ou que não queira ter filhos é pouco mulher ou menos mulher? Uma mulher, por exemplo, que goste de política e de futebol é menos mulher do que uma que ame cenas românticas, rendas e laços? A Lara Croft é tão mulher como a Mary Poppins, certo? Amazonas, valquírias, virgens, donzelas : todas mulheres. Enfim, esta ideologia de que mulher é um sentimento e não uma condição biológica remete para preconceitos e estereótipos contra os quais se luta há décadas. Essa coisa de acantonar a mulher na volúpia, na sensibilidade, no rosa, na casinha e no cuidar tem um nome: machismo. É o tal 8 de Março assinalado com buquês e discursos bacocos sobre a mamã, a mana e a esposa. Acontece que, este 8 de Março, festejado com a agenda woke ditando que qualquer um que se sinta mulher pode ser mulher, deu uma volta de 360. Parece uma mudança radical, mas desagua no mesmo lugar patriarcal - “mulher é um sentimento” só contribuirá para diminuir os nossos direitos em vez de se alcançar a paridade, inclusive salarial. Só contribuirá para asfixiar o espaço das mulheres. Veja-se o caso do desporto. Hoje, pessoas com biologia masculina competem ombro a ombro com mulheres, gerando uma inexorável desigualdade que, em breve, eliminará as mulheres de quase todas as modalidades. Ou seja, esta ideologia não acrescenta direitos ao sexo feminino. Aniquila-os.

Por fim, a maioria não passa o tempo a pensar no seu sexo ou género. Ele impõe-se nas relações sexuais ou noutras funções biológicas conexas (menstruação, barba, etc.) mas, a maior parte do tempo, as pessoas vêem-se como seres humanos, e não como homens ou mulheres. A narrativa do género, cada vez mais omnipresente (agora até no multibanco), parece uma obsessão, o firme propósito de tornar hiperconsciente e hiperpresente essa afirmação, de quase tudo reduzir a esse olhar. Parece que não conseguem pensar mesmo em mais nada. Será tara? Ou mania?

Autoteste

Quem escreveu no Twitter que a humanidade será extinta daqui a três meses?

Resposta: Greta Thunberg, em Junho de 2018, anunciava no Twitter que ou deixávamos os combustíveis fósseis ou estaríamos todos mortos já este Junho.

Teste rápido

Perante a queda do Credit Suisse, arrastando outros bancos:

1. Está visto que se avizinha uma tempestade de proporções bíblicas;

2. Então já se esqueceram do “a economia, logo se vê”?;

3. Constata-se que as sanções são na Rússia, mas quem colapsa é a banca ocidental;

4. Espera-se que já tenham feito stock em casa (e de mais qualquer coisa além de papel higiénico);

5. Todas as anteriores.

Antigénio

Se a Marinha Portuguesa tinha como vice-almirante alguém como Gouveia e Melo, que armou cabalas contra colegas e se promoveu em cima dos escombros da covid, os seus problemas só podem ser muitos. O Mondego é só mais um episódio.

Progénio

Laborinho Lúcio e, aliás, toda a comissão independente de investigação aos abusos sexuais na Igreja têm tido uma atitude firme, clara e extremamente profissional. Afinal, é possível em Portugal.