Opinião

Recados da Ilha – A esquerdinha light

Nuno Morna


Porque é o controlo de preços uma má ideia? Porque é um factor de distorção da actividade económica e porque a não fixação de preços é essencial ao funcionamento eficaz dos mercados e para garantir o crescimento económico. Os preços equilibram a oferta e a procura. É pelos preços que se produz e que se consome. Os preços livres permitem que tenhamos sinais claros do que se passa na economia. Tabelá-los é perder essa noção. Se controlados, como saber quando desfazer o controlo?

Do lado da procura, quando compramos, se os preços estão altos e com tendência para crescer, isso faz com que as pessoas reduzam o consumo, procurem um substituto para esse produto e/ou economizem. Por outro lado, preços altos e crescentes indicam aos produtores que podem aumentar a oferta, o que acaba por ajudar a manter os preços naturalmente controlados.

Assim, se não houver flutuação de preços, como sabe quem os produz se deve ou não produzir mais ou menos? Por tudo isto, o controlo de preços pode causar, não se admirem, um efeito contrário ao pretendido: a escassez e consequente indisponibilidade dos produtos, ao desencorajar a produção, que perde a alavanca incentivadora: o lucro. No limite, isto pode provocar uma intensificação do momento de crise e consequente aumento dos preços logo que o controlo seja declarado como terminado.

Não quero com isto dizer que, neste momento difícil que atravessamos, não compreenda a tentação de controlar o que deve andar livremente. A causa da inflação não é o aumento dos preços. É uma consequência. A injecção de dinheiro na economia – solução que permitiu os PRR e afins – é a principal razão, à qual podemos juntar o aumento de preços da energia e a escassez de alguns produtos, ambos motivados pela invasão da Rússia à Ucrânia. A tendência inflacionista não é nova, já por aí andava há algum tempo.

Contudo, nem era por aqui que pretendia ir quando comecei a escrever. Feita a introdução, permitam-me falar de algo que me espanta: haver partidos que irresponsavelmente defendem esta pseudo-solução. Da parte do PCP e do Bloco de Esquerda, não me causa admiração. Os princípios económicos que os regem distorcem o que é natural e são muitos os exemplos que poderia dar dessa inoperacionalidade. A História ensina.

Nem é que me surpreenda o populismo do Chega. Dizer o que as pessoas querem ouvir é a sua imagem de marca. Reconheço-lhes a habilidade de saber ouvir a rua, os cidadãos que contam ao cêntimo aquilo de que dispõem para viver, a indignidade que sofrem diariamente por viverem num país que não lhes pode dar o que merecem. É isso que os populistas, à esquerda e à direita, lhes prometem. E as pessoas, cansadas e em desespero, seguem-nos. Ninguém explica. Ninguém diz não haver milagres, nem que do céu não vão cair dádivas em forma de poupança instantânea, porque tudo ficou mais barato. Mentem e sabem que o fazem.

Agora, ouvir este mesmo tipo de argumentário por parte do CDS-PP é o que me deixa estupefacto. O líder parlamentar do CDS/Madeira, Lopes da Fonseca, depois de uma visita à ARAE (a ASAE da região), em declarações à RTP local, disse, com todo o à-vontade, que acabara de descobrir que as grandes superfícies podiam pôr nos preços o valor que bem entendessem. Só que não ficou por aí, tratando logo de acrescentar que apresentará uma iniciativa legislativa na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira no sentido de solicitar, ao Governo da República, a criação de um cabaz de bens essenciais com preços tabelados.

Insisto: não me refiro ao PCP nem ao BE, nem sequer ao pop-Chega. Estou a falar do CDS-PP, que integra o governo da Madeira, refiro-me ao seu líder parlamentar. Se falta de evidência houvesse, eis a prova de que, se o PSD/Madeira é socialista-laranja, o CDS/Madeira é uma espécie de esquerdinha light.