“A política é a arte de escolher entre o desastroso e o intragável”
John Kenneth Galbraith
O presente é anacrónico. Se é verdade que não há memória de uma maioria absoluta ser desperdiçada de uma forma tão célere, também é certo que, noutros tempos, os principais partidos da oposição estariam a ser muito mais eficazes do que aquilo que se verifica (excepção feita ao designado partido que mais parece uma agremiação atrás de um dono daquilo tudo, pese embora com as cautelas que se devem sempre ter quando uma pessoa é capaz de dizer algo e o seu oposto).
Até há uns dias, podíamos acreditar que essa falta de acerto e de acutilância fina era motivada por falta de capacidade do concreto líder em questão. Agora, como se não desconfiássemos já aqui e ali, sabemos que uma péssima oposição pode resultar, afinal, de acordos paralelos entre partidos - que se apresentam como rivais - para melhor conseguirem repartir entre si o bolo do dinheiro público.
Mais do que as tricas entre boys do centrão que, como parasitas, vivem à custa do Estado que dizem querer proteger, os últimos espectáculos televisivos servidos à hora do jantar têm trazido à tona a quase total irrelevância do comum cidadão no show business da política portuguesa. Já houve tempos em que a corrupção era disfarçada de forma competente, nem tanto - por motivos óbvios - com medo da justiça mas, sobretudo, para nos fazerem o favor de não nos esfregarem na cara que nem o nosso voto, a derradeira arma, é determinante.
Não é o caso da actualidade, em que, para além da satisfação da curiosidade, a porcaria que se revela serve, a título principal, aos populistas que querem chegar ao poder para fazerem exactamente o mesmo.
Não sei o destino que os megaprocessos ora anunciados terão, mas quase que adivinho. Acreditar que os ali intervenientes se sentarão perante a justiça pressupõe que não se perceba que, por via de regra, estes processos vazam para a opinião pública quando o Ministério Público não consegue fazer o seu papel atempadamente e opta pelo caminho da “reality justiça”.
Há, contudo, coisas que o direito perdoa, mas a ética não. E outras há que em direito até podem prescrever mas que, na memória colectiva, não se devem esquecer. Que a política portuguesa precisa de uma limpeza exímia é um facto inegável.
Porém, importará não apenas varrer os ditos boys (que, nesta altura, já têm pouco de boys e idade para ter juízo) como os que dos seus infortúnios se aproveitam para tentar suceder-lhes. Mudar as apenas moscas nunca foi uma boa opção.