1. O Primeiro-Ministro que está vacinado há mais de duas semanas ficou em confinamento porque contactou com alguém que testou positivo à Covid. Ele próprio fez testes que deram negativo, mas continuou em confinamento. No dia em que Fernando Medina apresentou a sua recandidatura à Câmara Municipal de Lisboa, António Costa pode sair do confinamento. Não sei o que é pior: o sinal que isto dá quanto à eficácia da vacinação ou o facto de afinal tudo ser irrelevante quando há um evento em que dá jeito estar.
2. Os melhores ministros do mundo (sim, os nossos) continuam a dar péssimos exemplos em todas as matérias. Todas. Mas fala-se em remodelação governamental e Rui Rio diz que não lhe cabe indicar quais os ministros que devem ser substituídos porque isso é papel do Primeiro-Ministro. Também aqui não sei o que é pior, se o Primeiro-Ministro continuar a defender alguns dos seus indefensáveis ministros (e nós deixarmos), se o suposto líder da oposição entender que não tem que comentar a atuação política do Governo e dos seus membros (e nós também deixarmos).
3. Espantosamente, o Governo brincou ao SIRESP até agora, apenas agarrado à sorte que foi não ter havido ainda grandes incêndios. Não quero ser pessimista, mas como vejo o pouco que resta de mata nacional, tremo só de pensar no grande nada que foi feito para garantir que se houver fogo estamos aptos a responder. O que é pior: estarmos nas mãos de quem não leva este tema a sério ou estarmos entregues à sorte? Já agora, no âmbito das averiguações do que aconteceu em 2017, ficámos a saber que os planos de combate a incêndios são essencialmente burocracia que não serve e que é necessário haver especialistas de apoio à tomada de decisões. Não existiam esses especialistas em 2017. E hoje, estão contratados?
4. Por falar em contratações, soubemos também este mês que passou que 69% dos concursos para altos dirigentes do Estado foi ganho por quem tinha sido antes nomeado pelo Governo em regime de substituição. Faz sentido: durante a substituição a cadeira afeiçoou-se ao respetivo e depois já não tinha lógica nenhuma realizar uma verdadeira avaliação de capacidades e competências em concorrência com terceiros. A resposta aqui é evidente: é pior para este Governo garantir o acesso concorrencial ao “mercado” do que colocar os seus “boys” em lugares relevantes.
5. Fernando Medina recandidata-se à Câmara Municipal sob o slogan “Mais Lisboa”. “Mais Lisboa” de vãs promessas de subsídios e casas e “direitos dos jovens e das classes médias”. “Mais Lisboa” de ambição de um partido que só quer criar dependentes. “Mais Lisboa” de perpetuação de incapacidades e de obstaculização de sonhos. “Mais Lisboa” de propaganda à luta de classes em lugar de incentivo ao mérito e ao futuro conseguido por cada um de nós. Isto não é mais Lisboa. Isto é mais autoridade, mais rede, mais teia, mais enredo, mais do mesmo que é pior. No fim de tudo, menos, muito menos liberdade.
6. Já agora, e em última nota do que podiam ser dezenas, no ranking da relação salários médios / custo de vida, Portugal só tem atrás de si a Bulgária. O que é pior? Por enquanto só a Bulgária. Mas deem-lhe tempo.
No fim disto, mau mesmo é continuarmos a achar que a mesma fórmula nos garante um resultado diferente. Péssimo é não vermos que o futuro nos foge e que perdemos décadas. Irreversível é a constatação de que há muito que já não teremos oportunidade de viver. Se isto não é suficiente para mostrar que está na hora de mudar, não sei o que será.