Opinião

O NRP Mondego e o almirante das vacinas

Telmo Correia


O sucedido com o NRP Mondego e o facto de, por uma situação de indisciplina, em que quatro sargentos e nove praças formaram no cais e se recusaram a cumprir ordens, numa forma de motim, se ter impedido a Marinha Portuguesa de cumprir uma missão de vigilância de um navio russo ao largo de Porto Santo, são, indiscutivelmente, factos da maior gravidade.

E é óbvio que a indisciplina nas Forças Armadas é inaceitável e terá de ter consequências. Para mais, quando um episódio deste tipo pode afectar a credibilidade e a imagem de prontidão das nossas Forças Armadas.

No entanto, convém, ao analisarmos este acontecimento, ter em conta alguns factos, pois poderão existir mais responsáveis.

Desde logo, o facto de a situação de desinvestimento e de obsolescência do nosso equipamento se ter vindo a agravar nestes últimos anos de geringonça e de governo do PS, como denunciaram, em 2020, um conjunto de oficiais-generais, em carta dirigida ao Presidente da República, que nunca teve das autoridades políticas, designadamente do Governo e dos sucessivos ministros da Defesa, uma resposta eficaz.

A ausência de meios e de efectivos é um facto cada vez mais grave. E a culpa é do Governo.

Por outro lado, se virmos a prontidão, aí sim, com que o presidente da Associação de Sargentos, Lima Coelho, veio defender os militares indisciplinados, sabendo que foram os sargentos que lideraram esta situação e que esta associação tem uma orientação próxima da CGTP e, portanto, do PCP, podemos pensar que por detrás do sucedido pode estar uma orientação política e uma tentativa de desestabilização que temos visto em muitos outros sectores, designadamente desde o fim da geringonça, embora os próprios não o admitam.

Quem não perdeu a oportunidade de aparecer - estava meio desaparecido, à falta de novos programas de vacinação - foi o almirante das vacinas, hoje chefe do Estado-Maior da Armada, que imediatamente se desdobrou em visitas e declarações, algumas sem grande sentido, num momento que devia ser de recato, de inquérito e de reserva, para mais estando o assunto nas mãos da justiça militar. Eventualmente, terá pensado que, uma vez que o actual Presidente da República comenta, diariamente, tudo e mais um par de botas, seguindo o estilo e aproveitando as oportunidades mediáticas, talvez lá chegue - a Belém, entenda-se, pois à Madeira, já chegou.

Tem alguma razão o advogado dos militares ao criticar o chefe do Estado-Maior da Armada por ajudar a promover a condenação pública dos seus constituintes, sem respeito pela presunção de inocência ou contraditório, em nome do seu conhecido gosto e anseio por protagonismo público e mediático, ao serviço de anseios políticos.