Opinião

O erro de Costa

Telmo Correia


Sobre o tema do dia e destes dias, não vou acrescentar muito mais ao que escrevi há uma semana pela razão simples de que o espectáculo a que temos assistido só veio confirmar a minha tese sobre a matéria. Ou seja, uma guerra aberta entre facções e possíveis sucessores no PS; um descrédito completo das instituições e entidades da maior importância para a segurança do país, como os serviços de informações, a serem arrastados pelas ruas da amargura. Inevitável a partir do momento em que o primeiro-ministro, para afrontar Belém, escolhe manter em funções um ministro que, obviamente, não tinha condições para continuar. Sofrem as instituições e a credibilidade do regime, beneficiam os demagogos e os populistas.

Sucedem-se as demissões e é cada vez mais evidente ser inevitável, em função do que foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito, a demissão da responsável pelo Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP). Quando, para mais, sabemos que a responsável última pela fiscalização e por garantir que estes serviços não pisam o risco e cumprem a lei é, tão-só, Constança Urbano de Sousa, a ex-ministra da Administração Interna demitida na sequência da intervenção do Presidente da República, após os incêndios de 2017. A maioria absoluta conduziu a um conjunto de erros. E, por vezes, levou mesmo a que se perdesse o bom senso.

As versões contraditórias e absolutamente antagónicas entre o adjunto e a chefe de gabinete do ministro das Infra-Estruturas, façam ou não parte da luta interna no Partido Socialista, transformaram-se numa novela com indiscutível interesse televisivo, mas com danos irreparáveis do ponto de vista da credibilidade das instituições democráticas.

Se isto não compromete o regular funcionamento das instituições democráticas, o que será então necessário para que se conclua que esse funcionamento está comprometido?

António Costa é, indiscutivelmente, um dos políticos mais hábeis da sua geração (que é a minha) e um jogador hábil, habituado a jogar desde os bancos da escola, passando pelos da faculdade, onde nos conhecemos e fomos também adversários. Foi essa habilidade que o levou ao governo e à formação da geringonça, como me lembro de ter previsto que poderia acontecer na própria noite eleitoral dessas eleições do PàF, na presença e perante a incredulidade de alguns dos principais dirigentes do PSD e do CDS. Mas, desta vez, Costa parece ter cometido um erro. Ao ficar com Galamba para o usar como arma de arremesso contra o Presidente ficou com um problema dentro de casa que não tem fim nem solução à vista. Os ministros podem ser mais ou menos capazes, o Governo pode estar a governar melhor ou pior - ao fim e ao cabo, tudo converge para esta novela em que Galamba é o mau da fita e António Costa o vilão, porque o segurou.