O mediatismo das trapalhadas à volta das cenas de pancadaria no Ministério Galamba, da utilização dos serviços de informações para perseguir os assessores de Galamba e a luta interna do PS, a que se somam assuntos variados, numa verdadeira macedónia de frutas, ou tutti frutti se preferirem, não deixa espaço para outros assuntos ou temas da governação.
Alguns da maior importância, como a execução dos fundos europeus e, em particular, do PRR. Acabam por beneficiar aqueles que vão fazendo asneira e não dão conta do recado, mas que, à conta de Galamba, Pedro Nuno & Cia, Lda, desapareceram do foco mediático.
Que o diga a ministra da Coesão (acho que é assim que se chama o cargo). Depois de estar envolvida em sarilhos pelos fundos aprovados para empresas do marido e de levar um aviso do Presidente da República sobre a taxa de execução, tendo mesmo Marcelo dito que “não iria perdoar”, continua, ainda assim, com uma taxa de execução dramaticamente baixa, como referiu o - insuspeito de ser adversário do Governo - governador do Banco de Portugal, Mário Centeno. A ministra só pode agradecer o facto de não dar nas vistas, nem ser assunto. Veremos se o será no Conselho de Estado, anunciado para Julho.
Outro a quem se aplica mutatis mutandis o referido, embora a relevância do tema não seja comparável, e até se esforce por aparecer (com pouco sucesso, é certo) é o outrora supercomissário para as Comemorações do 25/A, Adão e Silva, que acabaria por trocar o supertacho por um discreto lugar de ministro da Cultura.
Recentemente, veio afirmar como objectivo do seu ministério a internacionalização do crioulo, “uma espécie de língua franca... e se há algo que pode ser internacionalizado a partir de Portugal é isso”. Assim, como se fosse a coisa mais normal para um ministro da Cultura português.
Chamou-me a atenção o ter sido publicamente criticado pelo mais consagrado dos compositores portugueses, Rui Veloso, perante a apatia generalizada de políticos e comentadores, perante tal intenção. Se pode ser surpreendente que a crítica tenha vindo de uma figura com o grau de consensualidade que Veloso tem na sociedade portuguesa, não o é para quem, como eu, conheça o seu empenhamento na defesa da língua portuguesa. Foi, de resto, uma das principais figuras do movimento que levou a que o Parlamento estabelecesse em lei uma quota de música portuguesa nas rádios. Tem toda a razão.
Não está em causa a importância e a profunda ligação que nos unem a Cabo Verde, nem sequer a importância do multiculturalismo. Mas não é preciso recorrer a Pessoa, e à frase “A minha pátria é a língua portuguesa”, para perceber que a primeira função de um ministro da Cultura de Portugal é defender e promover o português. Por razões culturais, mas também estratégicas, económicas, etc...
Em França ou em Espanha daria demissão. Por cá, seguimos assim com estes personagens hip-hop.