Opinião

Figuras tutelares a mais para um Montenegro só

Leonardo Ralha

Ser o sétimo presidente do PSD a tornar-se primeiro-ministro é um objectivo alcançável por Luís Montenegro? Pode dizer-se que as opiniões divergem, visto que as sondagens tardam a mostrar sinais de descolagem, a concorrência pelo eleitorado à direita do centro tornou-se mais apertada devido à entrada de novos partidos e ninguém se atreve a subestimar a capacidade de António Costa de recuperar a iniciativa, mediante bons indicadores económicos ou graças a erros alheios.

Depois há a pergunta do milhão de votos: tem o actual líder social-democrata carisma suficiente para pôr em marcha uma dinâmica que catapulte o PSD para a posição dianteira na construção da nova maioria? Muitos dos seus correligionários têm dúvidas e temem enganar-se, ainda que não apontem alternativas inequívocas e imediatas. Nem Carlos Moedas, pois o presidente da Câmara de Lisboa precisa de um tirocínio na capital que deverá passar por uma candidatura abrangente e realmente vencedora em 2025, podendo deixar de depender dos humores e das conveniências dos vereadores e deputados municipais da oposição de esquerda.

Neste quadro, é natural que Montenegro queira o apoio daqueles que já imprimiram o seu rumo à governação deste país. Nomeadamente, dos melhores exemplos que tem no partido, mas com a nada subtil diferença de que Pedro Passos Coelho governou com as regras do memorando de entendimento que pairou sobre Portugal aquando do resgate financeiro e intervenção da troika. Algo que perdurará na memória para todos, incluindo os que admiram o último social-democrata a vencer eleições legislativas.

Bem diferente é a memória colectiva dos dez anos em que Cavaco Silva conduziu os destinos de Portugal, incluindo duas maiorias absolutas monopartidárias. Também por isso, cada intervenção do homem que passou duas décadas em São Bento e em Belém causa tantas arritmias aos socialistas. Por razões substantivas, como João Soares refere nesta edição, em entrevista ao NOVO, como o ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República ter chamado mentirosos e inúteis aos membros do PS, mas não menos pelo simples facto de se manifestar.

Muito notado foi o endosso que Cavaco Silva deu a Luís Montenegro no sábado passado, considerando-o pronto para governar o país numa altura em que a maioria absoluta do PS não cessa de dar sinais de desagregação que podem levar a uma (improvável, convenhamos) dissolução da Assembleia da República.

Mas não deixa de ser lícito assinalar que o entusiasmo de Cavaco Silva poderá ser um presente envenenado para o homem que, após alguns retrocessos, conquistou o PSD há um ano. Tendo contra si o desafio de sair da sombra de Pedro Passos Coelho, um antecessor na liderança partidária de quem foi colaborador próximo, ter uma segunda figura tutelar pode ser demasiado para um Montenegro só.