A (des)informação na área das ciências da alimentação e nutrição, com o bombardeamento diário de mensagens sobre alimentação – “superalimentos”, dietas “mágicas” e propriedades curativas de alimentos particulares –, tende a provocar confusão e angústia. É prejudicial para a saúde em todas as suas dimensões (social, mental e física) e aumenta o risco nutricional, por adopção de comportamentos alimentares completamente desajustados à pessoa, ao seu contexto familiar e à sua cultura alimentar.
A palavra dieta é comummente usada como sinónimo de restrição alimentar para emagrecer. Contudo, no seu sentido mais lato, este termo significa alimentação. Ou seja, o conjunto dos alimentos e bebidas consumidas diariamente e o modo de confecção, bem como as circunstâncias mentais, físicas, sociais e culturais associadas à alimentação. Uma alimentação (ou dieta) saudável será aquela capaz de fornecer todos os nutrientes, na quantidade e com a qualidade necessária a cada um. Assim, quer se esteja ou não “em dieta”, a educação alimentar é incontornável se pretendermos intervir, com seriedade e rigor, na alimentação e nutrição das pessoas.
Importa salientar que na educação alimentar falamos de alimentos e, muito menos, dos nutrientes por eles fornecidos. Falamos de pão e cereais, de leite e derivados, de hortícolas e fruta, de carne, peixe ou ovos, de água e de gorduras de adição, já que falar de triacilgliceróis, ácido pteroil-L-glutâmico (ácido fólico) ou ácido docosahexaenóico, entre outros nutrientes, é complexo e muito mais abstracto, pois o que as pessoas comem são alimentos. Obviamente, o objectivo é garantir uma boa nutrição, mas isso deve sobretudo ser feito falando de alimentos e de padrões alimentares.
É muito mais útil que passemos a pensar em termos de “conjuntos” alimentares praticados no contexto em que vivemos – no nosso nicho ecológico. Segundo a teoria dos sistemas ecológicos, proposta por Urie Bronfrenbrenner, o ser humano não pode ser compreendido sem ter em conta os contextos proximais e distais em que vive e se desenvolve. Os padrões alimentares e de estilo de vida são praticados no contexto proximal da família que, por sua vez, é influenciado por contextos mais distais, como a comunidade, a sociedade e as políticas. Assim, alimentação também é relação familiar e social, natureza e ambiente, a nossa relação com o corpo, a nossa comunidade, o nosso país e o nosso mundo.
Então devemos apostar na dieta ou na (re)educação alimentar? Na reeducação alimentar, sempre! Na dieta – no sentido de regime de emagrecimento –, quando necessário, mas acompanhada da reeducação alimentar, integrada num estilo de vida saudável.
Esta reeducação pode ser feita procurando ajuda especializada junto de nutricionista (profissional registado na Ordem dos Nutricionistas) ou consultando informação fidedigna – por exemplo, na academia, em páginas online como a da NOVA Medical School, na Direcção-Geral da Saúde e na página do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável. Consulte a nova roda dos alimentos e a sua versão mediterrânica.
A mensagem é clara: contemplar um conjunto de alimentos, todos importantes (alimentação completa), com equilíbrio (comer mais alimentos dos grupos de maior dimensão, como hortofrutícolas, mas menos de outros, como gordura de adição) e – muito importante – com variedade. É através da variedade que pode assegurar o fornecimento de todos os nutrientes, uma vez que ao variar ao longo do dia, de dia para dia, de semana para semana, de mês para mês, estará a beneficiar do somatório das particularidades de cada alimento. Adicionalmente, ao escolher produção local está a beneficiar o ambiente. Além disso, ao respeitar a sazonalidade, também favorece o ambiente e ainda beneficia a sua nutrição, pois alimentos da época maduros tendem a ser mais ricos em nutrientes.
Tenha prazer na alimentação, coma com sabor, na sua tradição cultural e em conjunto com amigos e família. Guarde um pouco de tempo para este importante acto pessoal, familiar, social e cultural. Se estiver “em dieta”, tenha ainda mais atenção ao sabor. Não faça só cozidos e grelhados. Se está com dúvidas ou dificuldades, não hesite em procurar ajuda, junto de um nutricionista, neste processo educativo para que consiga compreender e praticar um padrão alimentar saudável.