O périplo europeu de Volodimir Zelenski, que se iniciou em Itália e terminou no Reino Unido, espelha bem o momento crucial em que se encontra a guerra na Ucrânia. Os países mais poderosos da Europa parecem ter ultrapassado todas as chamadas “linhas vermelhas” no fornecimento de armas à Ucrânia, restando apenas uma, cada vez mais ténue: os aviões de combate ocidentais. A Europa está consciente do apoio militar de que a Ucrânia necessita para conseguir ganhar vantagem no teatro de operações e que desses avanços depende um futuro processo negocial de paz.
Dois vírgula sete mil milhões de euros em armamento é um número impressionante por extenso, mas ainda mais impressionante que o valor deste segundo pacote de ajuda militar alemã é a clarificação da posição de Berlim que, depois de Washington, se tornou a segunda capital com maior apoio humanitário, financeiro e militar a Kiev.
“Todos desejamos o fim desta guerra atroz da Rússia contra o povo ucraniano mas, infelizmente, ele não está à vista. É por isso que a Alemanha vai prestar toda a ajuda possível durante o tempo que for necessário”, afirmou o ministro da Defesa, Boris Pistorius.
Quem ouviu Olaf Scholz na chancelaria federal, durante a conferência de imprensa dada ao lado do Presidente ucraniano, ouviu três mensagens: Berlim irá fornecer toda a ajuda; as condições para a paz serão determinadas pela Ucrânia; a Ucrânia faz parte da Europa. Em Aachen, símbolo da concórdia europeia - cidade alemã ocupada repetidamente pela França e conhecida em francês como Aix-la-Chapelle, que faz fronteira entre a Alemanha, a Bélgica e os Países Baixos, países fundadores da União Europeia, e que foi residência de Carlos Magno, primeiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, considerado o embrião da União Europeia -, um emocionado Scholz entregou a um emocionado Zelenski e ao povo ucraniano o Prémio Carlos Magno, como reconhecimento do seu contributo para a unidade europeia.
O caminho de Olaf Scholz foi longo, pelas razões conhecidas, mas Berlim parece ter compreendido que, a ano e meio das eleições presidenciais americanas, vai ter de contar menos com a liderança americana e assumir maiores responsabilidades. E Scholz sabe que conta com os alemães para o fazer: o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, é o político mais popular do país e a opinião pública continua firme no seu apoio à Ucrânia.
“No momento mais difícil da história moderna da Ucrânia, a Alemanha orgulha-se de ser a nossa verdadeira amiga e aliada de confiança”, escreveu Zelenski no livro de visitas da Presidência alemã. “Juntos vamos vencer e trazer a paz de volta à Europa.”
Como poucos, os alemães compreendem o valor da liberdade e da paz e os sacrifícios que são necessários para as defender, e honram a coragem do povo ucraniano. A Alemanha parece estar finalmente a assumir a liderança que o seu peso político e económico lhe confere, mostrando-se, até agora, à altura do desafio.
Mala diplomática a subir
A União Europeia vai “limitar o comércio de diamantes russos” como parte das sanções contra Moscovo na sequência da invasão da Ucrânia, anunciou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na cimeira do G7, no Japão. “Os diamantes russos não são para sempre”, disse, com ironia, Michel à imprensa em Hiroshima, confirmando uma medida da União Europeia que visa “desligar a Rússia dos seus financiadores”. Charles Michel garantiu que os 27 estão empenhados em “fechar a porta às lacunas legais” de que o Kremlin se está a aproveitar para “continuar a atiçar a chama da guerra na Ucrânia”.
Mala diplomática a descer
As autoridades iranianas executaram, esta sexta-feira, três pessoas que tinham sido condenadas à morte por envolvimento nos protestos anti-regime do ano passado. Ao todo, sete pessoas foram executadas por ligações ao movimento de contestação que se seguiu à morte de Mahsa Amini.Os três homens - Majid Kazemi, de 30 anos, Saleh Mirhashemi, 36, e Saeed Yaqoubi, 37 - foram detidos após os protestos que ocorreram na cidade de Isfahan a 16 de Novembro e acusados da morte a tiro de um polícia e de dois elementos da unidade paramilitar Basij. A Amnistia Internacional acusa Teerão de ter submetido os acusados a tortura para forçar a confissão que levou à sua condenação. Majid Kazemi terá sido pendurado pelos pés, sendo obrigado a assistir a um vídeo em que o seu irmão era torturado, sujeito a execuções simuladas e a ameaças de morte contra os irmãos. Em gravações áudio da prisão de Dastgerd, onde os três homens estavam detidos, Kazemi deixou várias acusações contra as forças de segurança: “Juro por Deus que sou inocente. Eu não tinha nenhuma arma comigo. Eles [forças de segurança] continuaram a bater-me e a ordenar-me que dissesse que a arma era minha (...) Acabei a dizer-lhes que diria o que quisessem para que deixassem a minha família em paz.”