O sector aéreo europeu continua a viver tempos conturbados, o que inevitavelmente se irá repercutir na economia europeia como um todo, nomeadamente na indústria do turismo, para a qual se previa, segundo dados da WTTC, uma forte recuperação em 2022/23, capaz de a catapultar para números superiores ao período pré-covid. O aumento do número de passageiros, acima do esperado pelos agentes do mercado, a diminuição da mão-de-obra, muita da qual se recusa a voltar ao sector, sobretudo nas actividades de handling, as baixas remunerações e consequente aumento das greves têm assolado vários países e perturbado o tráfego aéreo, perspectivando-se o caos no próximo período estival. As companhias aéreas enfrentam agora mais um rol de problemas, e as margens apertadas e os prejuízos acumulados nos últimos dois anos não permitem grande flexibilidade.
O caso português é ainda mais complexo. A companhia aérea nacional, cujo principal accionista é o Estado português, em reestruturação solavancada, continua a acumular prejuízos, tem-se revelado incapaz de acordos com os seus funcionários e há muito abdicou dos aeroportos nacionais, com excepção do de Lisboa, onde tem perdido influência. Adita-se agora um Serviço de Estrangeiros e Fronteiras sem capacidade de resposta ao aumento do fluxo de passageiros, gerando-se o caos num aeroporto há muito sobrelotado e para o qual parece não haver solução – o novo aeroporto, há décadas identificado como necessário, continua num processo de indefinição revelador da incapacidade nacional de tomar decisões.
Se, a nível europeu, é crucial que a Comissão Europeia coordene acções com os Estados-membros para debelar alguns destes constrangimentos, como temos exigido no Parlamento Europeu, nomeadamente na agilização dos processos de controlo nos aeroportos, a nível nacional é fundamental que o governo socialista resolva as deficiências do SEF – há muito que o deveria ter feito –, não se compreendendo como, a poucos dias da época alta daquele que é o grande motor da nossa economia, o turismo, ainda subsista tamanha desorganização. A incapacidade de antever cenários e apresentar soluções atempadamente tem sido apanágio deste governo.
Para as companhias aéreas, o futuro não se avizinha fácil. Com margens muito estreitas, custos acrescidos, mais taxas relativas às emissões de CO2 e obrigatoriedade de utilização de combustíveis sustentáveis, cuja oferta é escassa e cara, as tarifas terão obrigatoriamente de aumentar, sem que tal se repercuta na melhoria do serviço prestado. Inevitavelmente, o consumidor final pagará todos estes aumentos, o que, para Portugal, muito dependente do transporte aéreo, não são boas notícias. No Parlamento Europeu vamos continuar a apresentar propostas que salvaguardem as pessoas e as empresas do impacto desta transição energética.