Com a adopção da política monetária comum, em 1999, e consequente adopção física do euro, em 2002, Portugal transferiu parte da sua soberania política para o Banco Central Europeu (BCE), o qual, desde então, define, em coordenação com os bancos centrais da zona euro, as mais importantes linhas de acção no que concerne ao sistema financeiro e de pagamentos dos países-membros da União Económica e Monetária Europeia.
Assim, o Banco Central Europeu tornou-se responsável pela definição das muito faladas “taxas directoras”, sendo a mais importante a chamada main refinancing operations rate, a qual define a taxa de empréstimo aos bancos nas operações principais de refinanciamento do BCE.
Ora, entre 2012 e 2022, o BCE adoptou uma política monetária superexpansionista, com taxas de juro próximas de zero, iguais a zero ou mesmo negativas, com vista a conter espirais de subida das yields implícitas nas emissões de dívida soberana de países como Portugal, Espanha, Itália e Grécia, e para relançar a economia no pós-crise de 2008, política esta ainda mais intensificada na pandemia.
Porém, este quadro monetário teve efeitos indesejados no mercado habitacional, deixando as sementes para o actual sobreaquecimento neste mercado.
Se, por um lado, este quadro de taxas de juro directoras historicamente baixas potenciou o acesso ao crédito, alavancando a procura de habitação própria e permanente, temos que o referido enquadramento também minou a rentabilidade da maior parte dos produtos financeiros tradicionais no mercado, levando a que vários investidores institucionais reorientassem os seus portefólios para o imobiliário, para gerarem retorno junto dos seus participantes.
Assim, num mercado com uma oferta muito inelástica como é o habitacional, houve um aumento tremendo da procura subjacente, levando a que os referidos preços disparassem por toda a Europa.
As boas notícias são que as actuais subidas das taxas de juro do BCE já estão a diminuir o preço médio habitacional em Portugal e prevê-se a estabilização deste mercado entre 2024 e 2025.
As más notícias são saber a que custo será efectuada esta estabilização, quando milhões de portugueses vêem a sua prestação da casa duplicar ou mesmo triplicar.