Opinião

Algarve a Oito Mãos – Um coelhinho da Páscoa

Cláudia Vasconcelos


Reza a lenda que, num Domingo de Páscoa, não tendo mais nada para oferecer aos seus filhos pequenos, uma mulher cozeu alguns ovos, pintou-os e escondeu-os no quintal. Quando as crianças saíram de casa para procurar os ovos da Páscoa, apareceu por ali um coelhinho que rapidamente fugiu. As crianças acreditaram que o coelhinho tinha trazido aqueles ovos de Páscoa e, a partir daí, o coelhinho passou a surgir associado aos ovos da Páscoa.

Mesmo sabendo que os coelhos não põem ovos, as crianças preferiram acreditar naquele momento, que se eternizou.

Nos últimos anos, também nós, portugueses, temos sido iludidos por um coelhinho da Páscoa. Um coelhinho que prefere ver um país de pobres, um coelhinho que devolve dinheiro dos impostos, que é dos portugueses, e lhes diz que os está a apoiar, um coelhinho que decidiu que o problema da falta de habitação se resolve com a expropriação das casas alheias, mesmo quando esse coelhinho tem muitas casinhas que não estão habitadas.

No país governado por este coelhinho da Páscoa, o Serviço Nacional de Saúde não funciona e a educação está pelas ruas da amargura. Neste país há várias greves todas as semanas e os amigos do coelhinho preferem fingir que está tudo bem. Neste país há tribunais que não têm papel para trabalhar.

Por vezes, o coelhinho sai da sua toca e vai passear com os seus amigos pelo país, mas, mesmo quando o faz, o coelhinho foge muito rápido, como naquele Domingo de Páscoa e, como nesse domingo, também prefere aparecer de surpresa e muito rápido, para as crianças não conseguirem apanhá-lo.

O coelhinho da Páscoa recebeu um presente, o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência). Este PRR, para ser explicado a uma criança, é como uma arca de moedas de ouro que se encontra no fim do arco-íris. Poderia o coelhinho ter utilizado o PRR para ajudar a mãe das crianças, mas preferiu utilizar o seu tesouro para arranjar mais obras e projectos para outros coelhinhos seus amigos, ficando assim a mãe das crianças sem possibilidade de deixar de ser pobre e dar um futuro aos seus filhos.

No país governado por este coelhinho de Páscoa, não há respeito pelos seus cidadãos. Mas há sempre moedas de ouro, malgas e lugares para mais coelhinhos.

No início deste artigo contei-vos uma história que podia fazer-nos acreditar que as crianças são ingénuas, mas também nós vivemos num país onde somos enganados por um coelhinho da Páscoa e pelos seus amigos. Está na hora de os portugueses mostrarem que não somos ingénuos e que sabemos que os coelhinhos, mesmo os da Páscoa, não põem ovos.

Uma Páscoa feliz!