A mitologia espartana faz-nos entrar numa introspecção de como os agricultores portugueses são verdadeiros guerreiros mitológicos de um campo de batalha a recordar o cenário das Termópilas. Sem dúvida que necessitamos de apostar num sector estratégico em que os actores são verdadeiros Leónidas, num país em total desgoverno.
A mudança de paradigma de transformação do modelo económico capitalista para um modelo económico sustentável, a nível europeu e mundial, só é possível quando a esfera política legisla em torno da mudança social. O papel da agricultura sustentável beneficiou do enquadramento estratégico que a Europa implementou como sendo o objectivo de diferenciação face a outros blocos económicos.
O desenvolvimento estratégico da agricultura sustentável não se esgota na esfera económica e política, visto que os dois maiores pilares para a sua implementação são as preocupações ambientais, por via do consumo excessivo, e a esfera social, na mudança da opinião pública para reconverter e proteger o meio ambiente, preservando as gerações futuras e o nosso estilo de vida, tendo em consideração o aumento da população.
A previsão de aumento da população mundial está a gerar imensos desafios ambientais e de segurança/produção alimentar. A OCDE previu, em 2012, que a população aumente 2 mil milhões de habitantes até 2050 e que a economia mundial quadruplique o PIB. Este aumento terá um enorme impacto no consumo de água e de energia, tendo efeitos negativos na produção agrícola e contribuindo para o aumento da pegada carbónica. Nesta dicotomia, o desenvolvimento de métodos e tecnologia de cariz sustentável na agricultura é crucial para continuarmos a ter um estilo de vida equilibrado.
Estas projecções podem ser assustadoras no consumo de produtos agrícolas, caso não sejam tomadas medidas políticas eficazes e eficientes, com foco em produções sustentáveis do ponto de vista dos indicadores de base social, económica e ambiental.
A perda de biodiversidade tornou-se um dos maiores problemas do mundo contemporâneo, constituindo, em simultâneo, um enorme desafio para a actual e futuras gerações, visto que a gestão sustentável dos recursos (solos, água, energia) é fundamental para a sobrevivência das espécies e dos humanos.
O sector agrícola, com a crise de saúde pública provocada pela covid-19 e, mais recentemente, pela invasão da Ucrânia, veio alertar a comunidade europeia e portuguesa para a necessidade de investir em quadrantes de independência estratégica (agricultura e energia). Segundo dados da Pordata (2022), o peso económico do sector em 2021 correspondia a 3,5 mil milhões de euros, valor francamente baixo tendo em consideração o potencial agrícola nacional. Nesta dimensão económica e social do sector agrícola em Portugal e do aumento da procura por alimentos, o investimento em agricultura sustentável será o factor de valor acrescentado para a valorização dos produtos agrícolas de maior valor nutricional, como para a preservação dos solos e redução dos consumos de água, utilizando sistemas tecnológicos mais eficientes e dinâmicos.
O sector agrícola em Portugal é um dos mais fragmentados a nível económico, tornando mais exigente a implementação/execução do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PAC), aprovado pela Comissão Europeia, sendo um dos principais objectivos da PAC 2023-27 criar ferramentas que possibilitem aumentar o rendimento das explorações agrícolas, tendo como foco estratégico a conversão para produções de cariz sustentável. O pacote de apoio a esta metamorfose agrícola está dotado (GPP/2022) de um investimento redistributivo de 6,7 mil milhões de euros, mas teremos de ter em consideração o tecido empresarial agrícola ou os agentes rurais agrícolas. A nível macro, o sector agrícola em Portugal é quase esquizofrénico, na medida em que 97% do tecido empresarial são micro e pequenas empresas (BP/2021), demonstrando que os restantes 3% são empresas médias e grandes, que respondem a 67% do volume de negócios da economia agrícola nacional, demonstrando o potencial da agricultura sustentável em espaço rural de pequena dimensão para permitir a coesão económica e territorial.
Este factor, aliado a um conjunto de incentivos nacionais e supranacionais, tendo como foco o desenvolvimento agrícola sustentável de valor acrescentado, irá modernizar os pequenos e médios produtores agrícolas, criando produtos de valor acrescentado para ir ao encontro de novos hábitos alimentares e possibilitando, a jusante, a criação de economia circular em espaços rurais e desenvolvendo as microeconomias das regiões portuguesas.
Existindo inúmeras opções para o desenvolvimento da agricultura sustentável, um caminho é certo: a agricultura, para ser mais eficiente, necessita de tecnologia e digitalização, e um dos maiores desafios para os produtores agrícolas sustentáveis será criar produtos alimentares nutritivos com um custo/benefício que seja percepcionado pelos consumidores como sustentável para o orçamento familiar e sem perder a sua qualidade alimentar.
A humanidade é caracterizada pelos alimentos que consome. Assim, urge a mudança de paradigma para um conceito de sustentabilidade produtiva em espaço agrícola, sem entrar em esquizofrenias verdes.