A evolução demográfica transformou a realidade social nos últimos 40 anos. O país defronta-se com um progressivo desajustamento nos modelos de organização social resultantes das alterações estruturais da composição demográfica. A diversidade individual dos percursos de vida é relativizada por uma abordagem rígida de fixação de limites determinada, no essencial, por critérios de previsão e de sustentabilidade dos sistemas de previdência e segurança social. As próximas décadas trarão uma inevitável recomposição da sociedade, com um impacto muito relevante na formulação das políticas públicas e na sua expressão orçamental. A questão central está na necessidade de integração das respostas de modo a intervir mais adequadamente junto do indivíduo, do seu enquadramento e da comunidade onde se encontra inserido. A desarticulação entre sectores e serviços tem de ser combatida, sob pena de uma escalada de ineficiência na utilização dos recursos a par de uma crescente degradação da qualidade das respostas.
Em Portugal, o envelhecimento com qualidade de vida está ainda muito distante dos valores médios registados na União Europeia. O quadro de referência, estabelecido no final da década de 90, está desactualizado face à abordagem da longevidade e à variabilidade individual. O peso da doença crónica, os problemas associados à diminuição das funções cognitivas, os défices de mobilidade e a perda de autonomia requerem uma abordagem integrada, multidisciplinar e multissectorial. A realidade vivida actualmente nos hospitais demonstra claramente que o sistema está desajustado face a uma tendência crescente de fragmentação social. O isolamento e o abandono surgem, cada vez mais, como problemas de difícil resolução, indiciando dificuldades em manter activa a ligação entre o indivíduo, a família e a comunidade.
O assincronismo entre respostas sociais e de saúde, nas diferentes partes do território, agravado pela dispersão das desigualdades sociais, representa um dos maiores problemas do tempo presente. O desafio demográfico que temos pela frente não nos dá grande margem temporal para reequacionar o quadro em que nos movemos actualmente. É fundamental avançar para um modelo de integração mais efectivo, a partir do redesenho das políticas sectoriais, que tenha como foco prioritário a integração entre a saúde e a segurança social. Os sinais que temos diante de nós geram preocupação face à necessidade de equilíbrio na cooperação entre os diferentes agentes, entidades e instituições nas áreas sociais e da saúde. A experiência acumulada aponta para a necessidade de um maior envolvimento local através do reforço das respostas de proximidade. A transição demográfica dificilmente será revertida na próxima geração, pelo que a sua abordagem deve estar no centro do debate político enquanto questão estratégica do país. Vivemos uma transição silenciosa e complexa que requer previsão e antecipação ao nível da integração das políticas.