No final de 2012, Xi Jinping assumia a Presidência da China. Em jovem, viu de perto a crueldade da Revolução Chinesa: o pai foi alvo de uma purga e humilhado, a casa destruída, a mãe obrigada a repudiar publicamente o marido e condenada a trabalhos forçados. O próprio Xi foi enviado para um campo de “reeducação” em 1969. Depois tornou-se um leal homem do partido. Lealdade que se traduz naquilo que o líder chinês vê como a sua tarefa essencial: revigorar o partido e recuperar a narrativa de grandeza chinesa. Make China great again.
De 2012 para cá, Xi Jinping enunciou um “nacionalismo musculado para glorificar a história chinesa na cena mundial, e também procurou a influência global e a liderança regional em diversas frentes”, escreve Michael Wood, autor de “A História da China”.
Anunciaria, em 2013, a iniciativa Nova Rota da Seda, projecto destinado a ligar a China por terra e por mar ao mundo, no valor de cerca de 3 biliões de euros. Internamente, definiu “sete tabus” que, anunciados em 2013, excluem qualquer crítica à “aristocracia vermelha” (elite comunista), assim como a discussão por intelectuais ou jornalistas das catástrofes do partido: a Revolução Cultural ou a Grande Fome. Com isto, preparou o caminho para a repressão implacável da dissidência e o controlo social, definindo o “comportamento certo” para os chineses com o auxílio da tecnologia moderna, como a de reconhecimento facial. Literalmente, Big Brother is watching you.
“Este capitalismo de vigilância de alta tecnologia, que entra na vida de todos, incentiva as pessoas a fazerem o que o governo quer sem que haja recurso a ameaças abertas, mas com o aviso omnipresente de castigo subjacente”, salienta Michael Wood. Além de reforçar o poder absoluto do Partido Comunista, reforçou o seu ao abolir, em 2017, os limites temporais introduzidos por Deng para o líder do partido.
Quando, em Outubro de 2019, a República Popular celebrou o 70.º aniversário, estava preocupada com o impacto económico da guerra comercial com os Estados Unidos e ainda não era conhecida uma doença misteriosa que havia surgido na cidade de Wuhan. A pandemia deixou os principais rivais económicos enfraquecidos, o que proporcionou à China uma oportunidade histórica de assumir de novo o lugar como a principal potência mundial, como o foi durante a dinastia Qing, no século XVIII. Em matéria de política externa, Xi já havia demonstrado como estava a competir pela liderança global: com iniciativas agressivas no Mar da China – recorde-se a condenação no Tribunal Arbitral de Haia em 2016, onde se afirma a ilegalidade da pretensão chinesa de controlar a maior parte do Mar do Sul da China, e nos Himalaias, assim como em África ou ao comprar infra-estruturas críticas em países europeus.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia permite-lhe prosseguir esta afirmação nacionalista. Antes era a China que precisava da Rússia, no quadro da rivalidade com os Estados Unidos; depois da Ucrânia, os papéis inverteram-se e é a Rússia que precisa da China. Pequim vê em Moscovo um parceiro útil – habilmente, a palavra aliança não entrou no léxico do encontro recente entre o Presidente chinês e o seu homólogo russo, pois, na política internacional como na poesia, as palavras importam na competição contra Washington. Se, para Vladimir Putin, interessam os quick wins, algum suporte diplomático para quebrar o isolamento e as trocas comerciais – largamente benéficas para a China –, já Xi Jinping pensa de forma estratégica e a longo prazo, e tenta fazer aquilo que Nixon fez em 1972.
A era Xi é desafiante e, sobretudo, aconselha a prudência. Muita prudência.
Mala diplomática a subir
As Nações Unidas tentam alcançar compromissos mundiais para uma transformação da forma como a água é gerida na Conferência da Água 2023, a primeira do género desde 1977. Na sessão de abertura, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou a que os governos garantam o acesso equitativo à água e recordou que a acção climática e um futuro hídrico sustentável “são dois lados da mesma moeda”.
Mala diplomática a descer
A arrogância, em política, paga-se muito cara. O Presidente francês, Emmanuel Macron, que o diga. Apesar da validade dos seus argumentos para reformar o insustentável a prazo sistema de segurança social francês, a forma como tem comunicado não o tem ajudado. “Entre as sondagens de curto prazo e o interesse geral do país, escolho o interesse do país”, disse, em entrevista à TF1 e France 2, num momento em que a sua popularidade está no nível mais baixo do actual mandato, o que foi interpretado como uma confrontação. A resposta foi dada nas ruas, onde a contestação parece crescer de dia para dia, com milhões de manifestantes a protestar.