Wes Anderson explora a obsessão espacial norte-americana dos anos 1950 em Asteroid City

Wes Anderson está de regresso ao grande ecrã com Asteroid City, com estreia marcada em Portugal a 22 de Junho, um filme protagonizado por algumas das maiores estrelas de Hollywood, numa história sobre ciência e obsessão com o espaço.

“Nunca vi um filme de Wes Anderson em que não desejasse ter participado”, confessou Tom Hanks, que concretizou o sonho de trabalhar com o realizador neste filme de ficção científica, onde interpreta Stanley Zak. “Foi incrível fazer parte disto”.

Hanks falava na conferncia de imprensa de lançamento do filme, em Los Angeles, onde esteve presente parte do elenco de luxo reunido por Wes Anderson para Asteroid City, que conta com Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Rupert Friend, Adrien Brody, Maya Hawke, Stephen Park e Hope Davis. O filme conta ainda com Margot Robbie, Steve Carell, Bill Murray, Willem Dafoe, Tilda Swinton, Jeff Goldblum e o músico brasileiro Seu Jorge.

“Uma das coisas que me toca neste filme é como as interpretações se apoiam umas às outras de uma forma muito notável”, revelou Scarlett Johansson. “Compõem uma espécie de uma bela orquestra”.

A acção de Asteroid City passa-se algures no deserto norte-americano, em 1955, durante uma convenção de Observadores Cósmicos e Cadetes Espaciais. Tem a excentricidade característica dos filmes de Wes Anderson, com uma estética polida e dividida entre cor e preto e branco, porque tudo o que se vê no deserto é apenas o cenário projectado de uma peça de teatro.

“Estávamos interessados no teatro nova-iorquino durante os anos 50”, explicou Wes Anderson na conferência, acrescentando que escreveu o filme com Roman Coppola, partindo da ideia de centrá-lo em Jason Schwartzman, actor com quem tem um historial longo de colaboração.

“A história tornou-se uma interação entre um palco a preto e branco em Nova Iorque e um western a cores”, descreveu. “Toda a gente representa um actor e o papel que interpretam e os dois misturam-se”.

A estranha premissa é explicada por Bryan Cranston, que narra os acontecimentos de uma forma muito desapaixonada e quase jornalística. O actor falou dessa complexidade na conferência de imprensa.

“O que é que isto significa?”, questionou, rindo. “É tão específico e denso com detalhes que, por vezes, tive de ler duas vezes para perceber o que estávamos a fazer”, revelou. “Este é um filme sobre um programa de televisão que está a expor uma peça de teatro. Isso em si mesmo é uma espécie de boneca russa”.

Além da ciência, dos asteróides e da vida extraterrestre, com um pequeno exame do que foi a obsessão com a exploração espacial nos anos 1950 nos Estados Unidos, há também um tema de sofrimento e pesar neste filme, algo em que Wes Anderson pega frequentemente.

“Temos estes marcos nas nossas vidas e, particularmente à medida que vamos envelhecendo, começamos a ver mais mortes”, disse o realizador.

É com a morte que lida Augie Steenbeck, personagem de Jason Schwartzman, um elemento central na trama.

“Com o pesar, a minha experiência é que não há uma forma errada de nos sentirmos quando estamos a sofrer”, disse o actor. “É pior ficarmos mal por não sentirmos da mesma forma que todos os outros estão a sentir. Então, sentimos como sentimos, confiem nisso”.

Scarlett Johansson, que se inspirou na icónica actriz Bettie Davis para dar vida à sua personagem, Midge Campbell, também falou do tema.

“O que conecta as nossas personagens é a enormidade do sofrimento”, disse a actriz, que contracena sobretudo com Jason Schwartzman no filme. “A minha personagem diz que não quer este sentimento e, como tal, simplesmente não vai senti-lo”, continuou. “Esse é o mundo em que ela vive”.

A actriz também frisou o ambiente “vivaz” e “entusiasmante” que se viveu durante a rodagem, feita em Espanha, com momentos em que alguns dos actores iam ao cenário só para verem outros actores a representar.

“Filmar pode ser um processo muito lento e aborrecido, mas isto foi vívido e brincalhão”, confirmou a actriz Hope Davis, que interpreta Sandy Borden. “Relembrou-me porque me meti nesta carreira”.

Tom Hanks mencionou igualmente a “atmosfera muito alegre” das filmagens, mas sublinhou a experiência do trabalho puro e duro com o realizador.

“O trabalho que fizemos foi incrivelmente focado e não há ninguém que trabalhe mais no duro nisso que o Wes”, disse o ator. “O Wes não sai dali a dizer ‘OK, isto está suficiente bom’”, contou.

Algumas cenas tiveram de ser filmadas dezenas de vezes, algo que Jeffrey Wright ilustrou com um exemplo cómico: “Há um momento em que a minha mão toca no coldre, vira a aba para cima e agarra a arma. Foram precisos 60 takes”, contou. “Foram quatro horas”, disse, só para captar o movimento perfeito.

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Estreado inicialmente no festival de Cannes, com boa recepção da crítica, Asteroid City chega aos cinemas portugueses a 22 de junho, um dia antes dos Estados Unidos. É uma produção Focus Features, Indian Paintbrush e American Empirical Pictures