Visita de Lula da Silva a Portugal “será uma lufada de ar fresco”

Signatários da moção adversária de Mariana Mortágua na corrida à liderança do Bloco de Esquerda posicionam-se ao lado de Lula da Silva na visão sobre a guerra na Ucrânia e condenam o “bafiento respirar de uma espécie de pensamento único” quanto à solução para o conflito.

Os adversários internos de Mariana Mortágua à liderança do Bloco de Esquerda, signatários da moção E ao congresso que se realiza no final de Maio, saúdam o Presidente do Brasil e as suas declarações sobre a guerra na Ucrânia, sublinhando a importância da visita de Lula da Silva a Portugal nos próximos dias.

“Saúda-se, portanto, o Presidente Lula e as suas declarações em busca activa pela paz, certos de que a sua visita a Portugal será uma lufada de ar fresco no bafiento respirar de uma espécie de pensamento único que vê na guerra aquilo que nunca é uma solução que proteja a vida, o ambiente e o bem-estar das populações”, afirmam os bloquistas da ala crítica do partido, que é representada nesta disputa da liderança pelo antigo deputado Pedro Soares.

Os signatários da moção adversária da linha da continuidade no Bloco de Esquerda sublinham que a visita de Lula da Silva a Portugal “tem uma importância especial no tempo que corre”.

“A vitória sobre o protofascista Bolsonaro reabriu as portas do mundo ao Brasil e, tão importante como isso, permite que, como se está a verificar, o potencial do grande país que é o Brasil se afirme na cena internacional como um factor de promoção da paz em geral e, em particular, da paz na Ucrânia”, pode ler-se na nota enviada ao NOVO.

Colocando-se ao lado de Lula na forma como percepciona o conflito, os bloquistas que subscrevem a moção E afirmam que a “brutal invasão” da Ucrânia pela Federação Russa é “contrária às mais elementares regras do direito internacional, nomeadamente do princípio da não agressão”, e que “a persistência da guerra põe em risco a convivência pacífica entre os povos, não só entre a Ucrânia e a Rússia, agrava a instabilidade internacional, coloca o perigo da sua escalada e o envolvimento de armamento nuclear”.

Por isso, concordam com o Presidente do Brasil quando este afirma que os Estados Unidos da América e a União Europeia (UE) devem “parar de encorajar a guerra e começar a falar de paz”, e rejeitar o “caminho belicista e armamentista”. Por esta ordem de ideias, dizem, “o apelo do Presidente do Brasil ao Sul global para que se una em defesa de uma proposta de plano para a paz faz sentido”.

“O que significa, então, este coro que a extrema-direita e a direita levantam contra uma mensagem de Lula da Silva que constitui um contributo para a defesa da paz?”, perguntam os representantes da moção E, para quem a resposta a esta questão está na “submissão aos interesses estratégicos dos EUA, cobertos pela hegemonia militar da NATO”. “A disputa interimperialista, o prolongamento do conflito desperta interesse aos Estados Unidos, mesmo que isso implique mais destruição e sofrimento”, enfatizam, defendendo uma solução “que imponha o cessar-fogo imediato e o início de um processo negocial de paz, para evitar o risco de uma escalada para a guerra total.”

Lula da Silva vai ser recebido no Parlamento, no dia 25 de Abril, numa cerimónia de boas-vindas que tem estado a ser criticada pela oposição à direita. As críticas subiram de tom este fim-de-semana, depois de o Presidente do Brasil ter assumido que “sair da guerra” é uma decisão dos dois países e que a UE e os Estados Unidos têm responsabilidade no prolongamento do conflito.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já veio desvalorizar a polémica, recordando que a posição do Brasil sobre a guerra na Ucrânia tem sido “muito consistente” e “ao lado” de Portugal. Mas, caso o Brasil tenha mudado de posição, Portugal “não tem nada a ver com isso” porque “cada país tem a sua política externa”.