Um país, duas economias: esta é a realidade do nosso país há vários anos. Estas diferenças são sobretudo visíveis entre diferentes regiões, nomeadamente litoral e interior, sendo também visíveis se compararmos os municípios de acordo com a sua dimensão. Mas em que aspetos esta diferença é mais acentuada?
Independentemente da realidade em que cada um de nós se encontra, é importante ressaltar que os municípios devem utilizar os dados disponíveis para fazer tudo ao seu alcance para reverter esta tendência e desenvolver o seu município. Isto é válido ao nível económico, mas também social e ambiental. Melhorar as condições de vida dos munícipes e reduzir as assimetrias é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
O mais recente estudo sobre condições de vida nos municípios portugueses desenvolvido pelo INTEC – Instituto de Tecnologia Comportamental, no âmbito da iniciativa “Melhores Municípios para Viver”, confirma a existência dessas assimetrias, permitindo ter uma visão mais consistente e clara sobre o tema.
De acordo com o relatório, ao nível económico, algumas das principais diferenças estão relacionadas com o facto de a densidade empresarial se encontrar desigualmente distribuída por todo o território nacional, sendo, como seria de esperar, mais elevada nos municípios do litoral e de grande dimensão, com destaque para a Área Metropolitana de Lisboa. Por sua vez, o volume de negócios por empresa é também menor em municípios mais pequenos e muito superior no litoral.
O poder de compra per capita é também um dos indicadores que corrobora esta assimetria entre regiões, tendo sido superior nos municípios do litoral. Já nos municípios pequenos, o poder de compra foi substancialmente mais reduzido.
Podemos assim constatar que estes indicadores são o espelho de um país com duas economias. E podemos olhar para esta realidade de forma negativa ou positiva. Se, por um lado, podemos ver estas assimetrias como algo negativo, no sentido em que diferenças acentuadas podem gerar sentimentos de injustiça entre os cidadãos, por outro lado, elas também dão aos cidadãos a possibilidade de escolherem viver em contextos económicos diferentes. Alguns cidadãos preferem viver em contextos económicos mais abastados, ainda que o custo seja o de viverem em contextos mais desiguais, com eventuais consequências sociais. Outros preferem viver em contextos economicamente menos favoráveis, mas com maior igualdade de rendimentos.
Estes dados poderão também contribuir para que os cidadãos tomem consciência das suas possibilidades de escolha, possibilitando-lhes tomar decisões mais informadas. Também permite que os autarcas olhem para os dados e pensem em estratégias diferenciadas de desenvolvimento. Este tipo de estudo é sobretudo importante se os municípios olharem para os dados e tentarem perceber em que áreas necessitam de apostar mais. Só assim será possível desenvolver as economias locais e melhorar a qualidade de vida das populações residentes.
Miguel Pereira Lopes, professor universitário e presidente da AG do INTEC