Um hospital em Jerusalém que cura vítimas do conflito israelo-palestiniano
Numa região que tem dez vezes mais casos de cegueira do que os que se registam na Europa, o St. John of Jerusalem Eye Hospital Group faz muita diferença para quem vive diariamente entre os estilhaços de um conflito armado. É o vencedor do Prémio Champalimaud de Visão,que foi conhecido nesta semana.
Ahmad Ma’ali é um homem feliz, reconhecido pela visibilidade global dos esforços que vem empreendendo, mas bem consciente de que o seu trabalho ainda mal começou. “É muito emocionante ter este reconhecimento dos esforços desenvolvidos durante décadas, num ambiente realmente difícil e complexo”, diz em entrevista ao NOVO o CEO do St. John of Jerusalem Eye Hospital Group (SJEHG).
O responsável esteve nesta semana em Portugal para receber o Prémio Champalimaud de Visão – iniciativa global para a prevenção da cegueira, que resulta de uma parceria com a Organização Mundial da Saúde e a Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira e todos os anos distingue as contribuições para a investigação nesta área, fundamentalmente nos países em desenvolvimento.
“Não há dúvidas de que este prémio permitirá dar um significativo impulso ao hospital e ao trabalho que ali desenvolvemos, não apenas projetando e dando visibilidade ao que fazemos, mas também permitindo chegar a financiamento que abrirá mais portas e potenciará as ajudas que podemos assegurar, com mais recursos humanos empenhados nesta causa”, afirma, com emoção.
Focado na população que vive na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, o St. John of Jerusalem Eye Hospital é o único grupo hospitalar de referência que se especializou em cuidados oftalmológicos prestados nos territórios palestinianos. Ali presente há 140 anos, o hospital tem garantido cuidados essenciais numa região marcada pelo conflito permanente, ajudando a resolver problemas de saúde visual de centenas de milhares de pessoas – muitas delas crianças –, que de outra forma não teriam acesso a cuidados de oftalmologia.
E com um milhão de euros a chegar com o Prémio Champalimaud de Visão, muito mais trabalho humanitário poderá ser feito.
Chegar mais perto de quem precisa
Incluindo seis hospitais e 277 profissionais de saúde – 50 médicos, 80 enfermeiros e mais pessoal auxiliar e técnico – espalhados pelos vários territórios da Palestina, o St. John of Jerusalem tem números impressionantes a colar-se ao meritório trabalho que desenvolve há décadas. Todos os anos, ali chegam e recebem cuidados de saúde oftalmológica cerca de 143 mil doentes. Mais de 7 mil cirurgias são realizadas nesse período – e mais seriam se houvesse mãos e capacidade que o permitissem.
É por essa razão que Ahmad Ma’ali nem hesita na resposta, quando questionado sobre o que significa este prémio financeiro, apontando-lhe bom destino: “Esta distinção e o valor que a ela está associado vai garantir ao grupo chegar mais perto de quem precisa”, vinca o CEO da unidade oftalmológica, destacando igualmente o enorme valor que se obtém da projeção que o Prémio Champalimaud também traz ao SJEHG, e que permite sensibilizar mais a comunidade internacional.
“Já em julho do ano que vem, vamos conseguir abrir unidades cirúrgicas mais perto da casa de quem precisa de cuidados desse tipo na Cisjordânia”, precisa ao NOVO o CEO. “Vamos chegar a um maior número de pessoas e poder cuidar daqueles que tanto precisam de nós, numa região tão massacrada como esta, em que há dez vezes mais casos de cegueira e problemas de visão do que tem a Europa”, explica ainda Ahmad Ma’ali.
Com as raízes a recuar a 1882, o St. John of Jerusalem Eye Hospital Group surge como uma evolução do primeiro hospital oftalmológico a assentar fundações no Médio Oriente. O seu trajeto está marcado desde o início pelo caráter humanitário da assistência prestada em saúde – o que, naturalmente “implica um enorme esforço financeiro”, admite o CEO, explicando que o trabalho do SJEHG é chegar a todos, “independentemente da raça, religião ou capacidade financeira que tenham”.
Artigo originalmente publicado na edição do NOVO de 9 de setembro