A inflação é, na verdade, um fenómeno complexo que resulta de um desequilíbrio entre procura e oferta. Quando a quantidade de um produto que as pessoas querem comprar aos preços actuais é maior do que a quantidade que as empresas conseguem produzir a esses preços, os preços tenderão a aumentar. Este desequilíbrio pode surgir de duas formas: pelo lado de um aumento inesperado do consumo e ou pelo lado de uma redução da oferta. Normalmente, será de ambos ao mesmo tempo, como é o caso da actual inflação.
Após a crise financeira, os bancos centrais injectaram dinheiro na economia a um ritmo nunca visto. O objectivo foi dar liquidez aos bancos que, por sua vez, reflectiram essa liquidez na facilidade de concessão de empréstimos (lembram-se das taxas de juro zero?). Isso permitiu que houvesse uma inflação localizada no imobiliário e outros activos de investimento.
Em 2020 chegou a pandemia, que teve o efeito de reduzir o consumo (as pessoas ficavam em casa), mas também a produção (muitas fábricas deixaram de operar por falta de trabalhadores e ou clientes). Os bancos centrais voltaram a injectar dinheiro na economia a um ritmo nunca visto mas, desta vez, como forma de garantir que os governos mantinham os rendimentos de quem ficava em casa sem trabalhar.
Apesar de manterem boa parte dos rendimentos, as pessoas continuavam sem consumir muito e, em 2020 (e parte de 2021), bateu-se um recorde de poupança. Terminados os confinamentos, essa poupança começou a ser gasta, aumentando o consumo. Este súbito aumento do consumo não teve uma resposta imediata do lado da produção, ainda ferida pelas perturbações sofridas no período dos confinamentos. Resultado: um aumento do consumo sem a respectiva resposta de um aumento da produção fez com que os preços aumentassem. Para agravar a situação, um autocrata de um dos grandes produtores de energia e produtos agrícolas decidiu invadir outro grande produtor agrícola. O fornecimento de energia e produtos agrícolas reduziu-se, agravando ainda mais o desequilíbrio entre consumo e produção, fazendo com que os preços aumentassem ainda mais.
Este aumento generalizado de preços permitiu também que algumas empresas mais capazes de responder à procura acabassem por aumentar os seus lucros, alimentando a teoria do primeiro parágrafo, que confunde causa e consequência. Curiosamente, esse aumento temporário de lucros é precisamente o que criará incentivos a que se produza mais, travando futuros aumentos de preços. Um aumento de produção é, claramente, a forma mais apetecível de travar a inflação. A alternativa é muito mais dolorosa.
Deputado da Iniciativa Liberal
De onde veio
a inflação