A literatura tem o poder de nos transportar para mundos diferentes, permitindo-nos explorar novas realidades, ideias e sentimentos. É uma fonte inesgotável de imaginação e inspiração.

Através da leitura, temos a oportunidade de ampliar as nossas percepções e aprender com outras culturas, pontos de vista e experiências. A literatura também é um meio poderoso para educar e entreter. E sonhar.

Ler é a ferramenta de ensino por excelência para ensinar e enriquecer as mentes dos leitores. E é também a ler que podemos desfrutar de momentos divertidos e relaxantes, permitindo-nos evadir da realidade – de forma positiva – numa qualquer merecida pausa.

Portanto, e sumarizando, a literatura é uma forma de arte e expressão única que permite aprender, imaginar, entreter e enriquecer as nossas vidas de muitas maneiras diferentes.

O livro “Fahrenheit 451” é um romance de 1953, de Ray Bradbury, que retrata uma futura sociedade distópica onde os livros são considerados perigosos e é a missão dos “bombeiros” destruí-los, sendo o seu trabalho considerado “heróico”. O personagem central, Guy Montag, é um bombeiro que começa a questionar o seu trabalho e a sociedade a quem serve. E, num acto de experimentação rebelde, começa a ler os livros que deveria destruir e começa também a descobrir o poder da leitura e das ideias, o que o leva à rebelião contra o statu quo dessa sociedade.

O livro em si foi objecto de tentativas e desafios de censura no passado, ao ponto de a sociedade civil se juntar em defesa desta obra que retrata os perigos da censura e da supressão de ideias.

No mundo de 2023 (e também já em Portugal), lamentavelmente, verificamos que esta sociedade distópica de Bradbury começa a aproximar-se da realidade. Ou vice-versa.

Assistimos a uma nova forma de censura, travestida de diversidade & inclusão, pela mão de novos educadores do povo, uma espécie de cristãos-novos armados em Torquemadas de trazer por casa que se julgam superiores na moral e nos costumes e que querem ditar o pensamento colectivo e reduzi-lo à sua visão da sociedade, em nome de uma suposta inclusividade.

Estes novos lápis azuis acham-se no direito de escolher o que se deve ou não ler, ver e ouvir. E, tal como a frase do Nicolau Breyner na novela “Moita Carrasco”, “o que mais irá acontecer?”, o passo seguinte será dizer-nos o que podemos ou não dizer, o que podemos ou não pensar.

A História, realmente, repete-se, e a juntar à censura que recentemente fizeram às obras de Ian Fleming e Enid Blyton, tivemos já outros exemplos na História. Alguns dos livros mais famosos sofreram esse destino ao longo dos tempos. “O Príncipe”, de Maquiavel, “Os Pensamentos”, de Montaigne, “Os Sermões”, de Thoreau, “Os Relatórios”, de Huxley, “Os Versículos Satânicos”, de Salman Rushdie, “Os Discursos”, de Martin Luther King Jr, “1984”, de Orwell, e até “O Triunfo dos Porcos”.

Por cá, com a Lei de Lopo e a censura do Estado Novo, quantos textos e livros sofreram também com isso?

As fogueiras de Torquemada e Savonarola eram usadas para perseguir e punir aqueles que não seguiam as crenças estabelecidas pela Igreja Católica ou pelos governos da época. A História mostra-nos como líderes autoritários usam a intolerância como um meio de controlar a população e impor a sua vontade.

Hoje, paradoxalmente, essa mesma intolerância pode ser vista de várias formas, e muitas vezes vinda de autonomeados pseudo-embaixadores de minorias que se intitulam guardiões da moral, dos costumes e da (sua visão da) sociedade.

A liberdade de expressão é um direito fundamental que deve ser preservado, independentemente de qualquer doutrina ou teoria social. A diversidade de pensamento é essencial para o progresso e o avanço das sociedades e não deve ser limitada por qualquer minoria ou maioria política ou intelectual. É essencial que a liberdade de expressão seja respeitada e que as obras literárias sejam disponibilizadas ao público sem qualquer forma de censura ou limitação.

Os “lápis azuis” são metáforas para o controlo da liberdade de expressão e da liberdade individual. Estes lápis simbolizam as regras e normas impostas por regimes autoritários ou ditatoriais que restringem ou proíbem a expressão de certas ideias, costumes e comportamentos e que muitas vezes violam os direitos humanos.

A minha família sofreu na pele, durante mais de quatro décadas, o efeito dessa cor azul do lápis. Chamavam-se Serviços de Censura e riscavam textos e livros para “impedir a perversão da opinião pública na sua função de força social”.

Isto desapareceu, felizmente, com o 25 de Abril e o 25 de Novembro.

Mas a teimosia destes “democratas” de leste em querer reescrever a História segundo a sua visão, wokees de pacotilha (coitado do Wookie, do “Star Wars”), abriu portas novamente a essa extinta profissão, tendo o lápis azul sido agora substituído por uma caneta digital de diversas cores e feitios, num qualquer tablet.

A discriminação de grupos minoritários, a supressão de direitos humanos e a censura de ideias diferentes são, sim, problemas que ainda persistem e que precisam de ser combatidos. Não as obras literárias, as sociedades que nos precederam e os seus costumes.

É necessário que vejamos as nossas diferenças como um meio de fortalecer a nossa sociedade, em vez de usá-las como uma desculpa para o extremismo, o ódio e a violência.

E lembrar que extremismo gera extremismo, ódio gera ódio e opressão gera revolta.

Termino com um repto: caros jovens por esse mundo fora que se sentem “ofendidos” por autores que viveram e morreram muito antes de vocês respirarem oxigénio: se não gostam, não comprem, não leiam. Fiquem-se pelo TikTok. Não vos admito é que me venham impor o que devo ler, ver e ouvir.

Se realmente lessem mais livros, sem pararem para se sentirem ofendidos em cada “a” ou “o”, podiam perceber que a liberdade de um acaba onde começa a do outro.