O salário real médio de um jovem português até aos 30 anos, a preços constantes de 2016, foi de cerca de 836,84 euros em 2021, antes de impostos. Se analisarmos por nível de escolaridade, o salário real médio de um jovem português da mesma faixa etária, a preços constantes de 2016, que entra no mercado de trabalho com licenciatura, é cerca de 1.109,21 euros e com mestrado cerca de 1.409,90 euros, ambos antes de impostos.
Num contexto europeu – considerando a faixa etária equivalente, jovens até aos 30 anos, sem analisarmos por nível de escolaridade –, verifica-se que o salário real médio em Espanha é de cerca de 1.412,56 euros, em França, 1.7080,83 euros, no Reino Unido de 2.106,75 euros, em Itália de 1.315,77 euros, na Alemanha de 1.615,22 euros, na Áustria de 2.122,63 euros e de 2.292,01 euros na Suécia, em termos brutos, face ao português de 836.84 euros.
O cenário é grave, considerando os custos com a habitação em Portugal, principalmente em Lisboa e Porto, que é semelhante ao da maioria das cidades europeias, e não é proporcional ao salário português; e ao custo de vida associado a viver nestas cidades, que não é muito inferior ao europeu. O custo de vida em Portugal é, em geral, mais baixo que a média dos países europeus, mas não é proporcional ao salário recebido, o que significa que proporcionalmente, o custo de vida em Portugal é superior à média dos países europeus.
Tendo em conta que os salários reais médios dos jovens portugueses até aos 30 anos cresceram, em média 4,5% entre 2010 até 2021, (passado 11 anos e contabilizando inflação), se o crescimento nos próximos anos for equivalente, ceteris paribus, o salário real médio de um jovem até aos 30 anos, em 2032 será de cerca de 874,50 euros, antes de impostos.
Isto é algo que me preocupa e me inquieta.
Será suposto tomarmos consciência de que os salários em Portugal não vão aumentar nos próximos anos? Que os jovens portugueses tão cedo não conseguirão competir com os jovens europeus e que nos dá vergonha dizer, internacionalmente, qual o salário médio que um jovem português recebe, quando vendemos um país na moda para os estrangeiros, que não faz jus ao dia a dia dos portugueses?
Com a sequência de artigos que tenho vindo a escrever sobre o Mercado de Trabalho da Gen Z em Portugal, é meu objetivo que os jovens portugueses tomem consciência da sua realidade laboral, comparando sempre que possível com países europeus, recorrendo a fontes fidedignas.
A tomada de consciência é o primeiro passo para se fazer diferente, começando com a não sujeição a receber salários abaixo das suas qualificações. O segundo passo deverá passar pela consciencialização dos decisores políticos, que devem estar a par desta realidade e tomar consciência que os baixos salários dos jovens portugueses têm efeitos noutras dimensões, nomeadamente na sua emancipação e competitividade. O terceiro passo passa pela implementação de políticas públicas, nomeadamente políticas ativas de mercado de trabalho.
No caso português, considerando a trajetória salarial dos últimos anos, podem ser consideradas duas alternativas: a redução dos impostos diretos, impostos sobre os rendimentos, ou a fixação de um salário mínimo para um jovem com nível de escolaridade equivalente a licenciatura à entrada do mercado de trabalho.
Sobre estas duas alternativas, a redução dos impostos diretos diminui a receita do Estado, que é a segunda maior fatia de receitas, mas aumenta o salário recebido pelos indivíduos.
Já fixação de um salário mínimo para os jovens com nível de escolaridade equivalente à licenciatura à entrado no mercado de trabalho apresenta uma dupla vantagem. Por um lado, valoriza a qualificação do jovem e coloca um teto mínimo salarial, sendo que as empresas têm de pagar no mínimo aquele montante. Por outro lado, estimula a iniciativa de tirar uma licenciatura, que em 2021 ainda é relativamente baixa.
Dos 25 aos 30 anos, apenas aproximadamente 23% dos jovens portugueses têm uma licenciatura quando entram no mercado de trabalho, face a cerca de 40% com ensino secundário completo.
Contestarão as empresas portuguesas, cujo tecido empresarial português é de pequena e média dimensão, alegando que não estão capazes de pagar estes salários e que contratarão menos trabalhadores? Certamente que sim. As reivindicações serão mais intensas no curto prazo, mas no médio-longo prazo, o capitalismo encarregar-se-á de autorregular o mercado. Caberá depois ao Estado perceber se faz sentido ou não apoiar estas empresas para uma implementação bem-sucedida da política, bem como monitorizar os resultados da sua implementação.
O financiamento de cada uma destas políticas, para uma gestão sustentável, deverá passar por decisões do Estado, mas sugerem-se algumas alternativas, como o aumento do imposto sobre o tabaco ou a introdução do imposto sucessório, cujas receitas deverão ser direcionadas para a implementação destas políticas, havendo transparência neste processo, de modo a que o contribuinte saiba o destino dos impostos que paga.
Durante os últimos meses, o Governo tem vindo a ter algumas iniciativas, como a colaboração no “Pacto para mais e melhores empregos para os jovens” – iniciativa promovida pela Fundação José Neves, em que algumas empresas assinaram o compromisso de melhorar a situação laboral dos jovens –, bem como a implementação do programa Avançar, que beneficia empresas que contratem sem termo jovens qualificados com salários iguais ou superiores a 1.330 euros. É objetivo desta política alcançar 25 mil jovens, que é uma fatia pequena dos jovens no mercado de trabalho. À semelhança de outras políticas parecidas, como é o caso dos estágios Ativar+, esta é mais ambiciosa. Contudo, a abrangência destas medidas tem um público muito reduzido e sujeitam-se à candidatura autónoma pelas empresas, cujo período de análise e aceitação é moroso e nem sempre aceite.
Se a realidade salarial portuguesa se mantiver com uma evolução semelhante aos últimos anos, tudo indica que sim, até agora não houve uma política firme para reverter esta situação, aconselha-se aos jovens portugueses a emigração, que os salários em Portugal não vão subir nos próximos anos.