Rita Loureiro: “Neste país, a cultura não interessa”
Rita Loureiro construiu uma sólida carreira na representação ao longo de cerca de três décadas. O gosto por contar histórias surgiu cedo e o trabalho como atriz tem-lhe permitido mergulhar nas histórias das suas personagens. Assume que é no teatro que se sente mais “à vontade” e partilha o fascínio que sente pelo cinema, a arte que mais a “assusta” na representação. Não esconde que sente um “desalento e uma desilusão muito grandes” pela falta de apoio e investimento no sector da cultura em Portugal.
Como surgiu o interesse pela representação?
Começou muito cedo. Era uma criança muito histriónica, gostava muito de cantar e de dançar. Já no jardim-escola adorava contar histórias. Quando a minha professora, a dona Preciosa, precisava de ir à administração pedia-me sempre: ‘Rita, sobe aqui para o palanquezinho e conta uma história aos teus colegas enquanto vou ali à secretaria.’ Portanto, ficava a contar histórias aos meus amiguinhos e colegas já com três, cinco anos. Esta necessidade de contar histórias e de inventar histórias apareceu muito cedo e depois foi-se desenvolvendo. Cheguei a fazer ballet na pré-adolescência. Nessa altura queria muito ter sido bailarina. Poderia enveredar por uma carreira profissional na dança, mas aquilo era muito exigente, tinha uma disciplina muito férrea, e eu sou muito anárquica, então não deu. Acho que se fosse hoje era mais fácil, já há a dança contemporânea, há outras abordagens para seguir uma carreira profissional pelo mundo da dança. Mas na altura tinha de ser aquela coisa rigorosa do bailado clássico e quando cheguei ao exame de pontas disse não. [risos] Era muito aquela coisa da mestra com a bengala a dar-me ordens para fazer plié, demi-plié, e disse ‘não, isto não é para mim’. Desisti e fiz o 12.º ano. A única disciplina que me fascinou mais no liceu foi Antropologia, portanto, tinha na cabeça que, se não entrasse no Conservatório, onde fui fazer os testes, provavelmente seguiria essa área, Antropologia, Psicologia, Sociologia, algo por aí. Mas, felizmente, entrei no Conservatório.
Ao contrário do ballet, sentiu que na representação teria menos regras e mais liberdade para ser criativa?
Sim, sobretudo naquela altura, pois o curso de ballet não tinha nada a ver com os cursos de hoje em dia. Embora também os haja. Mas no teatro, na formação de ator, havia mais liberdade. A anarquia podia entrar um bocadinho na equação.
A formação que teve no Conservatório fomentou mais esse interesse na representação e deu-lhe os instrumentos de que necessitava para iniciar a sua carreira?
Sem dúvida que veio fomentar mais esse meu interesse. Já tinha feito no liceu, no 7.º ano e no 8.º ano, um curso de expressão corporal, que já entrava nesse âmbito do palco e das apresentações, de uma expressão de todo o corpo com a palavra. Depois fiz teatro amador quando ainda andava no liceu. Depois, claro, quando entrei no Conservatório, a coisa canalizou-se muito mais para essa aprendizagem. Gostei muito de ter feito o Conservatório. Gostei muito dos professores que tive. O João Mota é uma referência importantíssima para mim. Ele acompanhou a minha turma durante os três anos, foi sempre coordenador do nosso ano, e tivemos, sobretudo no último ano, a disciplina de Interpretação, que foi dada por ele. Também houve algo muito interessante que foi o grupo que se criou. Éramos um grupo muito unido e fizemos coisas muito giras. Fizemos apresentações de PAP (Prova de Aptidão Profissional) muito, muito giras, das quais tenho memórias incríveis. Também me lembro do João Brites, de um exercício que fizemos com ele. Gostei muito da passagem pelo Conservatório, foi muito importante para mim. Claro que tinha e terá imensas lacunas, mas acho que isso existe em quase todas as escolas no mundo inteiro. Acho também que a eficácia destas coisas depende da postura com que estamos. Quando vamos com curiosidade, com vontade de querer saber, de nos entrecruzarmos com aquelas dinâmicas do ensino e das pessoas que estão a ensinar, dos colegas que temos ao nosso lado, acabamos sempre por conseguir retirar e potenciar o que há de melhor nesses sítios. Isso aconteceu comigo no Conservatório. Depois, claro, a passagem pelo Teatro da Cornucópia, ainda estava eu no último ano do Conservatório, foi como se fosse uma espécie de mestrado.
Estreou-se no teatro na peça “Ilha do Oriente”, encenada por Filipe La Féria. Como foi essa estreia?
Foi incrível. O elenco era vastíssimo. Tínhamos músicos, bailarinos e atores. Eu e o Rui Luís Brás éramos os benjamins do elenco. O Filipe La Féria, segundo sei, hoje em dia está muito mais calmo, muito mais sábio. Mas na altura era um terror e gritava imenso com aquelas atrizes todas. Era uma miúda de 20 e tal anos e via-o tratar atrizes feitas de uma maneira que eu cheguei a equacionar “bom, se ser atriz e fazer teatro é isto, vou já mudar de curso, porque isto não é para mim”. Mas depois percebi, felizmente, que não, que era um caso isolado. Foi um embate violento para mim, mas não deixei de aprender muita coisa com o Filipe La Féria. Deu-me muitas bases. Mas lembro-me de na altura ter ficado um bocadinho chocada com aquela forma como ele tratava sobretudo as atrizes e também achei extraordinário como é que aquelas atrizes se permitiam esse tratamento. Depois crescemos e vamos percebendo as dinâmicas e as cumplicidades na arte. Estar metido num processo artístico não é um processo normal. Não é sair para ir para um escritório, onde há uma dinâmica de hierarquias, onde há uma organização mais estável, digamos. No processo criativo mexe-se com muita coisa e, às vezes, uma certa perversidade pode ser impulsionadora para sítios e para zonas onde não se chegaria se tivéssemos essas barreiras impostas. As pessoas conhecem-se muito bem e, às vezes, violentam-se um bocadinho pelo espetáculo, pelo filme, pela série, pela performance. Trabalhamos sem limites. Com os anos, percebi que a maneira que o Filipe tinha de tratar as atrizes e alguns atores tinha a ver com essa ausência de limites. De qualquer forma, não concordo absolutamente com essa postura. Já trabalhei com muita gente e, felizmente, depois cresci num sítio que era o oposto disso. O Luís Miguel [Cintra] e a Christine Laurent tinha uma abordagem completamente diferente e identifico-me muito mais com essa.
Nos primeiros anos fez muito trabalho de teatro, mas também começou a aparecer mais em televisão. Esses primeiros anos foram mais complicados enquanto se experimentava e fazia papéis diferentes?
Não, quanto mais diferentes são os papéis e mais diferentes são os desafios, melhor. Não tem nada de complicado. Quer dizer, pode ter algo de complicado, porque estamos muito pueris ainda nas nossas ferramentas e ficamos muito mais atrapalhados e muito mais inseguros – embora a insegurança seja algo que me acompanha e me vai acompanhar até morrer. Serei sempre uma atriz insegura. Não tenho de todo a veleidade de achar que estou seguríssima naquilo que faço. Agora, tenho é ferramentas e sou menos trapalhona a lidar com a minha insegurança. Claro que quanto maior fosse o desafio, melhor. Cresci na Cornucópia e durante muitos, muitos anos não tive protagonistas para fazer. Tinha sempre papéis-satélite e muito mais pequenos, e isso ensinou-me imenso. Ter um papel mais pequeno para fazer em que o percurso do personagem não está tão estruturado, a papinha não está toda feita em termos dramatúrgicos, e temos de agarrar aquilo e fazer daquilo o momento, acho que é uma aprendizagem incrível e cresci assim. Também me deu uma humildade e uma noção do meu tamanho muito boa desde o início, um noção muito exata e muito sensata, o que é algo brutal para um ator e para uma pessoa que trabalha com arte.
A oportunidade de trabalhar tão cedo na carreira com referências da representação foi importante?
É ótimo. Acho que tive uma sorte incrível e soube aproveitar bem a sorte que tive. Aprender a lidar com todos estes textos que fiz na Cornucópia… Já nem é só a questão de estar a representar, ou de como se vai representar aquele texto, dar corpo, voz e mundo a uma personagem, é toda a dramaturgia que se fazia nos ensaios de leitura, o estudo dramatúrgico que se fazia sobre aquela obra, sobre aquele autor, aquela época. Tudo isso é uma escola que não tem preço. Um respeito pelas palavras e pelo gozo que se procura ao dizer e as intenções que se põem por detrás daquelas palavras, isso é uma escola que tive muita sorte de ter e foi muito importante. É engraçado porque dou-me muito com pessoas mais novas do que eu e noto uma coisa muito gira nas novas gerações. São muito livres a nível criativo. Uma miúda de 22 anos, atualmente, não tem vergonha absolutamente nenhuma de experimentar pintar, de experimentar escrever, seja prosa, seja poesia. Eles são imensamente livres. Eu não era tão livre. Quando comecei tinha aquelas referências, aquelas pessoas que me ensinavam coisas, que me impulsionavam, mas ao mesmo tempo posicionavam-me no mundo de uma certa maneira que, se calhar, me condicionava.
O teatro, como já falámos, foi muito presente no início da carreira. Quando começou a fazer televisão estranhou as diferenças que existem entre essas duas linguagens?
Sim, foi outra aprendizagem. Lembro-me de que nas primeiras novelas que gravei às vezes diziam-me: “Rita, está um bocadinho teatral.” [risos] Porque é diferente. O que a câmara permite em termos de captação e o som com que se trabalha no audiovisual são coisas completamente diferentes de um palco. E, naquela altura, ainda mais do que hoje em dia. Apesar de tudo, as linguagens atualmente cruzam-se mais, estão interligadas. Fazem-se muitos espetáculos com microfone agora, o que permite aos atores ter um débito muito mais intimista, muito mais sussurrado, o que não era tão usual na altura. Tínhamos uma técnica de projeção, de vibração em cena que contrariava o naturalismo de um produto como uma novela. Tive de aprender. Costumo dizer que a novela é o ginásio dos atores. Um ator que saiba fazer bem novela consegue fazer bem seja o que for. Temos de gravar 30 e tal cenas por dia, cinco dias por semana.
Também já fez bastante cinema. É uma linguagem da representação que também gosta de experimentar?
Sim, muito. O cinema fascina-me imenso porque, das três artes, é a que me assusta mais. É aquela em que tenho menos noção do que vai sair. Na televisão podemos pedir para ver a cena, embora cada vez se faça menos isso. No cinema há uma série de linguagens. Todo o trabalho tem outro apuro e outro rigor. A minha preocupação é sempre a verdade, e é uma verdade nuclear que é minha, como atriz, mas, no cinema, a verdade nuclear com que estou a trabalhar é manipulada e condicionada por uma série de outros fatores. A luz, a câmara, o som… Depois, na pós-produção, pode-se transformar aquilo noutra coisa que tu não achavas que era. Faz-se magia numa mesa de montagem. É esse escapar da noção de como vai ficar que me assusta mas que, ao mesmo tempo, me fascina no cinema. Diria que, de facto, a área onde estou mais à vontade será o teatro, sem dúvida alguma. A seguir, a televisão e, depois, o cinema, que é a que ainda estou menos à vontade. Mas isso não é mau, é bom. Gosto muito de ser desafiada.
É possível retirar sempre algo de uma destas linguagens para melhorar as suas capacidades noutra?
Absolutamente. E, hoje em dia, se não formos um ator rápido, não sobrevivemos em qualquer área. Atualmente, é tudo feito assim: muito com pouco tempo. Porque não há dinheiro. Não há dinheiro para fazer nada. Seja na televisão, seja no cinema, seja no teatro. Hoje em dia, o processo desde o início de ensaios até ao último dia de apresentação de um espetáculo dura no máximo dois meses, para serem pagos só dois cachês, porque não há dinheiro. Quando comecei a fazer teatro tinha pelo menos um mês e meio só de ensaios. Essa velocidade de resposta que temos de ter e aprendemos a ter numa novela, a velocidade de resposta de acting, tem de se aplicar no cinema, no teatro ou numa novela.
É bom intervalar projetos noutras vertentes com o teatro?
Sim, é como se fizesse uma espécie de reciclagem. Tenho sempre de voltar ao teatro. O teatro, para mim, é fundamental. Também gosto de declamar poesia e sou muitas vezes requisitada para isso ou para ler poesia. Há uma coisa nesse momento de escuta ao vivo, um momento de comunhão, que é absolutamente fascinante e que adoro. Adoro viver esse momento de escuta. No teatro, é igual: nós, atores e personagens, uns com os outros, e personagens e público. Esses momentos de escuta são momentos incríveis da minha vida. É necessário, e acho que o ser humano tem pouca capacidade de escuta, é algo que não trabalhou muito.
O streaming veio estimular mais a ficção nacional e dar mais tempo aos atores portugueses para se exercitarem de outra forma?
Quando fala de tempo está a falar de dinheiro, não é? [risos]
Estão interligados. Não há como fugir.
Sim. Se, de facto, formos mais bem pagos do que somos e pudermos fazer uma série que é vendida para a Netflix, para a Amazon ou para a HBO, com certeza temos mais tempo para nos alimentarmos e nos acarinharmos e mimarmos de outra maneira. Agora, se andarmos todos atrás da cenourinha porque temos contas para pagar, temos empréstimos que aumentaram, rendas, impostos, e sermos escravos do teatro, isso é péssimo. É péssimo para um ator não ter a liberdade de dizer “não, agora tenho de parar um bocadinho”, porque nós mudamos de pele. Isto não é fácil. Quando se querem fazer as coisas de uma forma profunda e em busca dessa tal verdade, que para mim é uma exigência, não é fácil.
Ao longo das décadas há aspetos que não mudaram. O Estado e a consistente falta de apoio e investimento na cultura são uma desilusão contínua para si?
Absolutamente. Um desalento e uma desilusão muito grandes. É a ausência de política cultural porque, neste país, a cultura não interessa. Temos cada vez mais criadores neste país. Há imensa gente a criar e há coisas muito interessantes e muito boas. Mas o orçamento não estica. Quer dizer, estica. O problema é esse. Estica de tal maneira que recebem poucos pouco. O talento e o interesse cultural que o país está a desenvolver não é de todo acompanhado pelo interesse que o governo deveria ter em termos orçamentais de aumentar para se chegar a 1%, pelo menos. Devíamos estar já nos 5%. Temos capacidade e qualidade para ter um orçamento para a cultura muito maior do que o que temos.
Falta união entre os profissionais da cultura, como se vê noutras classes, para dar mais força ao que querem exigir?
Há falta de união. Sempre houve. Nessas classes há muito mais união. Nos professores, médicos. Sem dúvida, nenhuma. Todo o percurso sociopolítico e histórico dessas classes nas injustiças foi feito sempre com essa união. Nós, atores e artistas em geral, nunca tivemos essa postura, o que é uma pena. Por isso, se calhar, a implicância das nossas reivindicações e das nossas manifestações não tenha o efeito que deveria ter. Apesar de tudo – e claro que são caminhos sempre lentos -, começa-se agora a organizar um bocadinho mais nesse aspeto. Já há várias associações com um discurso até apolítico, o que também é importante nesta equação. Começa a haver mais união do que havia há uns anos.
Que personagem ou personagens a marcaram mais?
Tenho duas. Foram dois espetáculos de teatro. Um deles foi “A Gaivota”, de Anton Tchekov, encenado pelo Luís Miguel Cintra, em que fazia o papel de Arkadina. O outro foi o “Gigantes da Montanha”, do Luigi Pirandello, encenado pela Christine Laurent, em que fazia o papel de Ilse. Curiosamente, eram duas atrizes. Até agora, foram as personagens que me marcaram mais. Foram desafios incríveis.
Quais foram os atores com quem mais gostou de trabalhar?
Contracenar com o Luís Miguel Cintra era sempre um momento incrível. O Zé Airosa era um ator incrível de se contracenar com; gosto muito de contracenar com a minha querida amiga Sofia Marques, com o Adriano Luz, com a Ritinha Durão. Adorava contracenar com o Daniel Day-Lewis. Quando me perguntam com quem gostava de trabalhar, respondo logo que era ele, de caras. Não gosto só dele como ator, acho que deve ser um ser humano extraordinário e muito interessante. Adora o que faz, respeita o que faz, muda de pele e depois vai-se embora, não quer saber dos holofotes.
Como tem gerido a sua vida profissional e a pessoal com trabalho em televisão, cinema e teatro, sendo mãe?
Tenho a sorte de ter os meus pais vivos ainda e de me terem ajudado imenso. Além de que a Francisca é neta única, portanto, é a princesa do Sabá da família. Também tenho a sorte de ter uma filha muito inteligente que me ajuda muito nesse percurso. Claro que houve alturas em que foi mais difícil. Agora, ela tem 18 anos, já é mais fácil. É uma mulherzinha, embora todas as fases da vida dos nossos filhos tenham sempre várias faces da moeda. Uma coisa que fui apurando ao longo da vida é que gosto muito de me focar no que de bom me aconteceu e muito pouco nas contrariedades e nas dificuldades. Isso chuto para canto e gosto de esquecer. Se houve momentos ou zonas mais difíceis, já as esqueci, não carrego comigo.
Que projetos tem no horizonte?
Vou voltar a fazer teatro no Porto, que é algo que me deixa muito feliz. Acho que se faz muito bom teatro no Porto e identifico-me muito com a forma como as pessoas trabalham no Porto. Vou fazer um espetáculo encenado pelo João Cardoso, um texto do Martin Crimp que se chama “Cruel e Terno” e que vai ser um desafio incrível. É um texto incrível, não querendo desvendar muito. É uma coprodução entre a ASSéDIO e o São João. Depois vou ter umas leituras de poesia no MAP – Mostra de Artes da Palavra, em Oeiras, poemas do Mário Cesariny, de quem sou completamente fã e que tive a sorte de conhecer pessoalmente. Também vou fazer umas leituras no Polo Cultural Gaivotas, nos dias 2 e 9 de setembro, de vários poetas contemporâneos com uma temática muito dura, que é esta deslocação, migração forçada da humanidade, muito presente hoje em dia. São tudo coisas ótimas, muito da palavra, que é o que gosto.
Ainda há algo que lhe falte fazer na representação?
Há um espetáculo mais físico que gostava de fazer. É ir resgatar aquela bailarina frustrada que ficou para trás. Gostava muito de fazer um espetáculo com uma coreógrafa, não sei se um espetáculo de dança, de dança-teatro, chamemos-lhe o que quisermos, mas uma coisa muito focada numa vertente física.
Mas com mais liberdade do que no ballet clássico?
Claro, com a anarquia que me acompanha desde sempre. [risos]
O NOVO faz um agradecimento especial à Biblioteca dos Coruchéus