Passado que está o sucesso da Jornada Mundial da Juventude, por um lado, um exaustivo ano de trabalho por outro, mas, ainda, quando o País político rejubila com as suas mais ou menos cénicas e/ou populares “rentrées”, é tempo para refletirmos sobre verdadeiras e necessárias reformas estruturais, mas, sempre – convenientemente – adiadas.

Se mais não houvesse – que os há em massa, infelizmente – o exemplo anedótico da falta de isenção e rigor da deputada relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP revela a urgente necessidade de uma alteração ao sistema político e eleitoral, como há muito se fala, mas, que tarda em sair do papel.

Não para que tudo fique na mesma, mas, acima de tudo, para evitar um divórcio tal entre eleitos e eleitores em que amanhã (como cantavam os Resistência) seja já longe demais para rever alguma coisa.

O, pouco mais que exclusivo, sentimento generalizado em “agradar ao chefe” (leia-se líder do Partido) traz-nos estas coisas.

Ao invés de rigor, independência e preocupação com os interesses nacionais ou, sequer, dos seus eleitores, temos um fechamento e cega obediência aos interesses partidários, e, de entre eles, de quem, circunstancialmente, os domina.

E veja-se que, mesmo nos “novos” e “antissistema” Chega ou IL, não são toleradas vozes dissonantes. Que o digam o Nuno Afonso ou a Carla Castro, e respetivos apoiantes.

Aprendem rápido estes novos “Chefes”.

É comparar o funcionamento, mas, acima de tudo, os resultados, deste tipo de Comissões Parlamentares em democracias maduras, assentes numa real proximidade entre eleitos e eleitores e com sociedades civis fortes, como o Reino Unido ou os Estados Unidos, para se perceber o muito caminho que temos de percorrer.

Por outro lado, agora que se passou mais de um mês desde as buscas a casa do ex-líder do PSD, bem como à respetiva sede partidária, sem qualquer explicação pública (que maçada estes cidadãos) por parte de quem dirige o exercício da ação penal e deverá defender – como consagrado constitucionalmente – a legalidade democrática, percebemos que, na Justiça o mote será o covidiano “vai ficar tudo bem”, porque de mudanças estruturais, já sabemos que nada nos restará.

Os dois principais partidos do centro democrático que tanto – e bem – criticaram a desproporcionalidade da atuação da Justiça, lavaram já as suas mãos, como Pôncio Pilatos, repetindo o célebre mantra “à justiça o que é da justiça, à política o que é da política”.

Torquemada não diria melhor.

E, por fim, num fulcral setor para qualquer Estado soberano – os seus Serviços de Informações – uma insigne diplomata (esposa de um antigo governante de Sócrates) que nada de errado vislumbrou na atuação dos serviços no “galambagate”, sem sequer dar qualquer “cavaco” a ninguém, continua a nomear “amigos da carreira” sem qualquer experiência ou ligação ao setor, neste caso para Diretor dos – depauperados e dependentes da bondade externa – Serviços de Informações Estratégicas de Defesa.

Como, num espaço de uma geração de políticos, estas matérias – cerne de qualquer soberania – passaram da sua vital importância para matérias de “nicho” entregues a académicos ou diplomatas, para gaudio das “grandes potências” que as valorizam convenientemente, o País assistiu e assiste despreocupado.

O “Sol de Verão”, tantas vezes bom conselheiro, deveria servir de mote para que – num ano político tão decisivo – se deixassem de adiar decisivas reformas no nosso País. Fica o mote, antes que seja tarde.