“Racismo generalizado”. O fracasso do Reino Unido nas homenagens aos soldados da I Guerra Mundial
Comissão responsável por homenagear a memória dos milhões de soldados britânicos que morreram nas duas grandes guerras mundiais já pediu desculpa “pelos erros do passado”.
O comité especial criado pela Commonwealth War Graves Comission (CWGC), organismo responsável por homenagear a memória de 1,7 milhões de soldados que morreram nas duas guerras mundiais, pediu desculpa pelos “erros do passado”, depois de um relatório provar que milhares de soldados mortos na I Guerra Mundial não foram devidamente homenageados.
O documento, encomendado pelo próprio CWGC, comprova que entre 45 mil e 54 mil soldados, principalmente africanos e indianos, não foram homenageados como os seus homólogos brancos na Europa, tendo sido incluídos em memoriais colectivos e não com sepulturas individuais com os seus nomes. Além disso, pelo menos 116 mil outros, potencialmente até 350 mil, principalmente do este de África e do Egito, “não foram homenageados pelo seu nome ou não foram homenageados de todo”, acrescentou o documento.
Em 1923, é revelado no relatório, o governador da colónia que mais tarde se tornou o Gana defendeu “o indígena médio não compreenderia ou apreciaria uma lápide”. Este exemplo leva os autores a considerarem que as decisões tiveram como base os “preconceitos teimosos, as ideias preconcebidas e o racismo generalizado das atitudes imperialistas contemporâneas”.
Na reacção ao relatório, pedido após a realização de documentário crítico sobre esse assunto intitulado The Unremembered, o CWGC disse aceitar as “conclusões e deficiências identificadas no relatório” e apresentou um “sincero pedido de desculpas”. E assegurou: “Reconhecemos os erros do passado e lamentamos profundamente e agiremos imediatamente para corrigi-los.”
David Lammy, deputado trabalhista que apresentou o documentário, escreveu no Twitter que “nenhum pedido de desculpas permitirá reparar a indignidade de quem foi esquecido”. Porém, acredita que pode impulsionar o país para repôr dentro do possível os erros do passado. “Este pedido de desculpa dá-nos, como nação, a oportunidade de examinar este capítulo terrível da nossa história e prestar a devida homenagem a cada um dos soldados que sacrificaram as suas vidas por nós”, defendeu.
*com Lusa