Pfizer recupera atraso na vacinação de professores
Ainda que nada impeça que os professores com mais de 60 anos possam ser vacinados com os frascos que atrasaram o processo uma semana, a Pfizer é a alternativa mais provável para assegurar a imunização nas escolas. Cerca de 180 mil foram chamados à antecâmara da imunização de grupo. Directores confirmam “adesão em massa”.
Além da máscara, da bata e das luvas descartáveis, a viseira também entrou no quotidiano de Laura Maria. Aos 57 anos, a professora de Português encaixa no grupo de risco. É hipertensa e asmática. Em casa, desde o final de janeiro já tem a “parafernália” preparada para o regresso às aulas do secundário no arranque da próxima semana. Respondeu “que sim” à convocatória para a vacinação. As reticências são muitas. “Não estou segura, considerando que tem acontecido vários casos de tromboses, algumas fatais em pessoas que já tomaram. A vacina que tem mais complicações associadas é a AstraZeneca e, precisamente por isso, é que foi suspensa e que a vacinação dos professores foi adiada uma semana. Claro que é uma questão de saúde pública, mas essa história dos benefícios superaram os riscos, depende para quem é o benefício”, justifica.
Mais otimista, o líder da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas vê o copo meio cheio. “Há uma adesão em massa. Senti um burburinho inicial, sim, mas em geral já não há grande resistência”, relata Filinto Lima. Sem fixar um número exato, o gabinete de imprensa do coordenador da task force da vacinação adianta que durante este sábado e domingo “prevê-se vacinar os docente e não docentes e profissionais das respostas sociais, num universo elegível estimado entre 180 e 190 mil pessoas”.
Segunda chamada
Sem confirmação oficial, tudo indica que os cerca de 86% que responderam “sim” à convocatória enviada por SMS vão ser vacinados com doses da Pfizer/BioNtech. A própria Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas admite que vai acompanhando o desenrolar do processo através da imprensa e que, em princípio “os professores vão ser vacinados com a Pfizer”. De qualquer forma e, olhando para as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS), isto não significa que os professores com mais de 60 anos não possam ser inoculados com a vacina que obrigou as autoridades de saúde a adiar a vacinação dos últimos graus de ensino a voltar à escola por uma semana.
A DGS “recomenda a administração da vacina da AstraZeneca a pessoas com mais de 60 anos, onde não se observou uma associação a risco de efeitos adversos e onde os benefícios da vacinação são claros”. Numa espécie de odisseia europeia, com vários países a decidir suspender a administração do fármaco, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) fala numa “possível ligação” entre a vacina da farmacêutica AstraZeneca e “casos muito raros” de formação de coágulos sanguíneos, insistindo nos benefícios da vacina face aos riscos de efeitos secundários. Na mesma linha, a Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte para uma ligação “plausível, mas não confirmada”.
Cocktail imunizante
No terreno desde 15 de Março – data da reabertura das creches, pré-escolar e 1º ciclo – Fátima Pilar, de 51anos, põe o foco no “regresso à normalidade”. Esteve entre os primeiros 60 mil trabalhadores das escolas que já tomaram a primeira dose da vacina e nem o “inferno” das “dores em todo o corpo” e “das febres de 38 a 39º” que se seguiram à injeção, a demovem. “Diz-se que na segunda toma as reações até podem ser piores, mas eu confesso que, apesar de ter passado mal, não tenho medo, quero é livrar-me disto. Se tiver de passar uma noite mal para voltar ao que era, vou e pronto”.
A professora do Ensino Especial da região da Grande Lisboa foi vacinada com a AstraZeneca à semelhança dos restantes docentes e funcionários que aderiram à convocatória, tem de esperar 12 semanas para completar a imunização. À única “dúvida persistente” que ainda a acompanha nas viagens de “casa para a escola e da escola para casa”, o virologista Pedro Simas responde com “cem anos de experiência científica”.
Contrário à suspensão da AstraZeneca para menores de 60 anos, por considerar que os problemas registados são residuais tendo em conta os milhões de pessoas já vacinadas, o investigador principal do Instituto Molecular da Universidade de Lisboa explica que a inoculação “não tem nada a ver com a marca da vacina, mas sim com o antigénio”.
Na prática, tendo em conta que a substância que desencadeia os anticorpos é comum, uma segunda dose da Pfizer ou da Moderna – para quem tomou a primeira da AstraZeneca – “não tem qualquer inconveniente”. Segundo o virologista, o tempo de espera entre as toma até pode proporcionar “uma resposta imunológica mais completa do que a da vacina”, já que, em caso de contacto com o SARS-CoV-2 se faz uma “revacinação com exposição ao vírus”. Cientificamente falando, sublinha que “não precisamos de estudos para dizer uma coisa que já sabemos”.
De não prioritários a todos imunizados
A propósito da calendarização e confrontado com as críticas dos professores ao arranque, praticamente em simultâneo, das aulas e da campanha de vacinação dos trabalhadores que já se movem em ambiente escolar, o grupo de trabalho que está a organizar a imunização portuguesa responde que “a vacinação é um dos recursos à pandemia” e que “a operação que permitiu o regresso às aulas em segurança envolveu inúmeras atividade relacionadas com a preparação do ambiente escolar, da comunidade escolar e, respetivas operações de testagem e de vacinação”.
Em nome dos diretores das escolas do país, Filinto Lima recorda que “há dois meses, a DGS e o Ministério da Educação entendiam que os professores e os funcionários não eram sequer prioritários” e prefere vincar que “neste momento já há perspetiva de serem todos imunizados”.