“Graças à investigação e à teoria feministas, sabe-se hoje que os espelhos, sendo um objecto de uso corrente há muitos séculos, são usados de modo diferente pelos homens e pelas mulheres e que essa diferença é uma das marcas da dominação masculina.” Isto é um excerto do livro “A Crítica da Razão Indolente – Contra o Desperdício da Experiência”, escrito por Boaventura de Sousa Santos em 2000.

Concordo, não desperdicemos a experiência e respondamos directamente à pergunta: porque é que Boaventura e o esquerdismo do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra são uma fraude intelectual? Por duas razões fundamentais: por um lado, porque aquilo que comunicam não é o que fazem. Por outro, porque o fundamental do que dizem e escrevem está errado.

Qual é a narrativa central do sacerdote e do seu centro de activismo ibero-americano de esquerdismo pós-moderno? O homem branco heterossexual capitalista neocolonial oprime tudo à sua volta, mas a teoria crítica pós-moderna emancipa – leia-se, revoluciona tudo à sua volta e torna os oprimidos, oprimidas e “oprimides” os novos senhores da hierarquia moral. Esse caminho para uma sociedade socialista, tão acarinhado pela Constituição da República Portuguesa de Abril, seria o novo familiar, o novo senso comum. Quem pode dizer que António Costa, Pedro Nuno Santos, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa não o conseguiram? Mas, como sabemos, a luta sempre continua. Eles ganharam e querem ganhar mais, muito mais, com os nossos impostos a financiar as suas ideias, vícios e – em demasiados casos – crimes.

Recuemos para reiterar a pergunta: o que comunicam Boaventura e o seu esquerdismo? É preciso desconstruir (destruir), palavras dele, o “paradigma dominante – sociedade patriarcal; produção capitalista; consumismo individualista e mercadorizado; identidades-fortaleza; democracia autoritária; desenvolvimento global desigual e excludente”. A que podemos acrescentar uma forma de conhecer colonial, machista, hierárquica, elitista. Repito, dizem eles, a forma como produzimos conhecimento no Ocidente é colonial.

Relembramos alguns problemas desta alucinação colectiva mas que é praticada no jogo político diário, mas, pior, nas políticas implementadas em Portugal e no Ocidente alargado. Que problemas? Eles não fazem o que dizem. E o que dizem está errado.

Quando escrevo esta crónica há pelo menos cinco mulheres a acusar Boaventura de Sousa Santos. A serem verdade, as acusações referem-se a factos que eram/são praticados no CES, por exemplo: uma cultura de patriarcado; violência de género; hierarquização intelectual acientífica; comportamentos neocoloniais. Precisamente os comportamentos contra os quais Boaventura e o CES sempre se arvoraram em paladinos. Numa palavra, uma fraude.

Tão ou mais grave do que as acusações feitas, devemos manter em memória que os portugueses e os europeus, há décadas, financiam com milhões produção ideológica, travestida de científica, que é transformada em políticas públicas que nos endividam, empobrecem, dividem, parasitam.

E aqui, para já, deixo apenas perguntas: Portugal e os portugueses estão e estarão mais bem servidos com o esquerdismo no poder? É esta visão da sociedade que vai transformar o país?