A guerra na Ucrânia está a colocar a Europa e os Estados Unidos numa pressão política que tanto leva a um desejo de tentar uma paz o mais rápido possível como à convicção reforçada de apoiar a Ucrânia a preparar-se para um conflito de longo prazo, sem fim à vista. Os EUA já não negam a possibilidade de a China servir como broker para negociações, mesmo que discordem do potencial plano de paz colocado em cima da mesa há meses. O equilíbrio de forças no mundo alterou-se e é cada vez mais diverso e assimétrico. Basta ver as posições recentes de Brasil, Índia ou África do Sul.
A verdade é que tanto a União Europeia como os Estados Unidos têm estado à altura das exigências dos ucranianos, que têm suportado durante mais de um ano as agruras de uma guerra sem quartel, com cidades esmagadas por bombardeamentos, milhões de pessoas deslocadas, incontáveis mortos e feridos, numa onda de terra queimada que lhes deixará um futuro incerto. Fazem-no para defender o seu território, o seu Estado de direito, a democracia. É isso que temos de defender.
Tanto ao nível de sanções directas à Rússia, às suas empresas e oligarcas, como no apoio de armamento, humanitário, financeiro (18 mil milhões de euros só este ano por parte da UE), apoio aos refugiados, apoio social, médico, etc., felizmente não se tem vacilado face ao agressor russo.
Por outro lado, desta guerra resultam enormes desafios económicos, deixando a nu erros que se cometeram num passado recente, em que se percebeu que demasiados países europeus estavam totalmente dependentes de matérias-primas da Rússia, não apenas os hidrocarbonetos, mas também químicos e fertilizantes para a indústria e a agricultura europeias.
Iniciámos, entretanto, um caminho para corrigir estas disparidades, ao nível de infra-estruturas que permitam receber recursos de outras geografias e através de uma estratégia de longo prazo da União para impulsionar a sua competitividade e produtividade, bem como preparar a base industrial e tecnológica para a transição ecológica e digital, já discutida em Conselho Europeu.
O Inflation Reduction Act por parte dos Estados Unidos, que irá injectar 369 biliões de dólares em créditos fiscais e subsídios à indústria americana de energias renováveis, coloca uma enorme pressão sobre a União Europeia, de modo a manter a sua competitividade nesta área tecnológica de futuro e até manter a indústria relevante fixada na Europa.
Sendo certo que a administração Biden também tem os seus problemas internos de governabilidade no Congresso para resolver, a verdade é que será preciso recursos financeiros elevados da União Europeia para fazer face à “superbazuca” proteccionista americana.
Assistimos, a nível global, a políticas económicas mais nacionalistas, fechadas e potenciadoras de um desequilíbrio comercial que não será certamente o caminho desejável, em particular no eixo atlântico, e que limitam indesejavelmente o movimento de bens, pessoas e capital. A Europa tem de conseguir alavancar políticas e investimento na indústria verde de modo a competir de igual para igual com o outro lado do Atlântico.
Infelizmente, foi necessária uma guerra pan-europeia para iniciarmos este caminho.