Morreu o ex-deputado brasileiro David Miranda

O também activista brasileiro e interveniente na fuga de documentos secretos de Edward Snowden morreu pacificamente em casa, aos 37 anos.

O activista e ex-deputado David Miranda morreu esta terça-feira aos 37 anos, no Rio de Janeiro, divulgou o marido e jornalista Glenn Greenwald, com quem criou dois filhos adoptivos.

“Faria 38 anos amanhã”, escreveu Greenwald, na rede social Twitter. “Ele morreu em plena paz, cercado pelos nossos filhos, familiares e amigos”, acrescentou.

O ex-deputado foi internado nos cuidados intensivos em Agosto passado com uma infecção gastrointestinal grave, explica o The Guardian, jornal do qual era colunista, tendo sito submetido durante nove meses a uma terapia intensiva.

O presidente do Brasil, Lula da Silva, reagiu dizendo que David Miranda, “um jovem de trajetória extraordinária, partiu cedo demais”.

David Miranda nasceu no Jacarezinho, uma das favelas mais pobres do Rio de Janeiro, e ficou órfão aos cinco anos de idade após a morte da mãe. Apesar das origens humildes, tornou-se o primeiro homem gay eleito para o conselho da cidade do Rio.

Em 2013, desempenhou um papel chave na fuga de documentos secretos de Edward Snowden, liderada por Greenwald, sobre a extensão das actividades da NSA e da vigilância electrónica exercida por Washington. Nesse ano, Miranda foi detido, por nove horas, no aeroporto de Heathrow, em Londres, enquanto regressava ao Rio de Janeiro, com cartões de memória com documentos relacionados a esse caso.

Edward Snowden também já reagiu à morte do ex-deputado brasileiro, igualmente na rede social Twitter, considerando que “de todos os que participaram das revelações de 2013, sobre a vigilância em massa global, David Miranda foi talvez o mais justo e puro”.

“Jamais esquecerei que, quando o Reino Unido violou as suas próprias leis para deter David como um ‘terrorista’, por ousar ajudar um acto de jornalismo, — e ameaçou colocá-lo numa masmorra pelo resto da sua vida —, ele nunca hesitou. Em vez disso, desafiou-os”, disse o ex-analista dos serviços de informações dos EUA, exilado na Rússia desde 2013.

“Foi essa coragem que fez a História andar para a frente”, acrescenta.

Mais recentemente, entre 2019 e 2022, David Miranda foi uma voz de resistência no parlamento brasileiro durante o governo de extrema-direita do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O velório de David Miranda acontece esta quarta-feira, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, às 14h00 locais.