No mês em que Portugal mergulha nas férias, é habitual estranharmos a diminuição da voragem noticiosa, apelidando-o de silly season.
Este agosto, porém, fez-me pensar que, durante todo o ano, andamos como ratinhos numa roda para chegar a lado algum, só retornando ao essencial quando pomos o pé na praia e entramos mar dentro.
Esta é a altura dos amigos. Da família. Da ausência de horários apertados. Das conversas sobre tudo e sobre nada que nos aquecerão nos dias frios de inverno. De se despirem as capas e títulos que usamos habitualmente e conquistarmos o direito de sermos apenas – e já não é pouco – nós próprios.
Por mais que nos tentem convencer do oposto, não precisamos de metade das coisas que acumulamos para sermos felizes. Nos dias que correm (e correm, de facto…), o verdadeiro luxo é poder desfrutar de um grupo de amigos estendido num areal, ler o livro que nos acompanhou no resto do ano sem que virássemos uma única página, assistir a um pôr-do-sol magnífico ou entrar no mar num dia de calor.
O valor desta desaceleração tem sido desconsiderado por aqueles que vivem do loop da informação que pouco ou nada contribui para a nossa consciência ou para a construção de melhores seres humanos.
Se eu pudesse parar a máquina irrevogável do tempo, ficaria num dia caloroso destes, grata pelas amizades que conquistei e que, estupidamente, não alimento ao longo do ano porque me deixei condicionar pelos exíguos prazos que me foram impostos. Bem sabendo que a vida real não se compadece com apenas estas horas a fazer lembrar os relógios moles de Dalí, eu não precisava de muito mais do que o mar de Porto Santo, umas leituras, o calor deste sol magnífico e ouvir risos de felicidade.
Temos um país enorme, apesar de fazermos todos pouco por ele, e a maior parte de nós desaprendeu de dar valor a coisas que damos por garantidas, como vivermos em Portugal, com pessoas simpáticas e solidárias ao virar da esquina. Mais do que grandes resoluções de fim de ano, esquecidas logo nos primeiros dias do ano seguinte, o que talvez devamos reter são estes momentos de felicidade quase impossível. Mesmo com uma inegável crise às costas. Se calhar, principalmente por causa dela. Como a História nos ensinou, as crises são superadas por aqueles que ousam lutar, mas, às vezes, a resistência também se pode eficazmente fazer de sorriso nos lábios e rodeados de amigos.
Wilde deixou registado que “a melhor maneira de começar uma amizade é com uma boa gargalhada”. O que lhe faltou dizer foi que essa gargalhada e essa amizade podem e devem manter-se na noite mais escura.
Esta será porventura a lição mais importante das férias: saber manter o sorriso e os verdadeiros amigos por perto porque não há realidade virtual que supere um abraço.