O processo de desconfinamento em curso permite-nos começar a sonhar com o regresso à normalidade. Horários mais alargados, maior flexibilidade para percorrer distâncias, mais atividades que podemos retomar. No horizonte só vemos: mais, mais e mais. Isto depois de meses a aprendermos a viver com menos, muito menos do que estávamos habituados. Menos experiências, menos viagens, menos contactos sociais.
Mas será desejável toda a “normalidade pré-Covid19”? Um exemplo do setor agroalimentar – a pandemia até teve efeitos sobre a alimentação dos europeus. Um estudo da Mckinsey mediu este impacto no estilo de vida dos consumidores europeus, que estão a mudar a sua dieta para se concentrarem no bem-estar e na sustentabilidade. Assim, muitos produtos agrícolas de qualidade aumentaram as suas vendas em Portugal ao longo do passado ano.
É importante que não seja esquecido o esforço de todo um setor agroalimentar que nunca parou durante a pandemia; que não seja varrido para debaixo do tapete do desconfinamento. É aqui que o novo normal adotará certamente a premissa “menos é mais”. Apostar mais na qualidade que na quantidade, e de forma verdadeiramente democrática, porque essa qualidade agroalimentar não pode permanecer longe do alcance financeiro e logístico de uma parte significativa da população portuguesa. É também isso que se exige de um estado democrático que acabou de celebrar os seus 47 anos.