Marcelo Aro: “Retoma do diálogo e do relacionamento estratégico com Portugal é essencial”

O Estado de Minas Gerais, no Brasil, quer promover-se internacionalmente e captar investimento estrangeiro, competências da nova Secretaria de Estado da Casa Civil. Em entrevista ao NOVO, o secretário-chefe, Marcelo Aro, explica a política de internacionalização do Estado e diz que conta com a aposta dos países que falam português

Qual é a política de internacionalização que está definida para o Estado de Minas Gerais e que objetivos tem?
O Governo do Estado de Minas Gerais, durante a gestão do governador Romeu Zema, tem como política de internacionalização o desenvolvimento socioeconómico da população mineira de maneira compreensiva. Assim, a política de internacionalização estadual perpassa por todas as secretarias de Estado da estrutura do poder executivo estadual.

Os esforços coletivos da administração pública são intermediados pela Secretaria de Estado da Casa Civil, que é responsável pelo relacionamento político-institucional e internacional.

Tal política de internacionalização é denominada “Minas Internacional”, que visa identificar e qualificar os atributos, incluindo os produtos, de Minas Gerais, comparativamente ao restante do Brasil e ao mundo, pontuando as áreas de excelência e competitividade do Estado.

O plano de internacionalização envolve a adoção de medidas para captar oportunidades, parcerias, programas e projetos de cooperação, bem como de financiamento, junto a governos estrangeiros – tanto nacionais como subnacionais –, agências multilaterais e demais instituições nacionais e internacionais, tornando possível melhorar a qualidade de vida da população mineira por meio de criação de emprego e de rendimento.

Dentro da mesma política de internacionalização, consideramos, fortemente, a diversificação de parceiros internacionais e, principalmente, os comerciais, antecipando-nos das possibilidades de dependência dos sectores produtivos estratégicos que possam comprometer a produção e/ou o fornecimento de bens e serviços para outros destinos. Do primeiro mandato do governo Zema [iniciado em janeiro de 2019] até hoje, foram atraídos 354 mil milhões de reais [cerca de 65,4 mil milhões de euros] em investimentos para Minas Gerais e a nossa intenção é continuar este trabalho e intensificar a implantação de novos negócios, bem como para a troca de tecnologia avançada, por meio da articulação com parceiros nacionais e internacionais.

A consolidação de Minas Gerais no ranking dos principais destinos turísticos do Brasil descortina o potencial cultural, histórico, ambiental e gastronómico de níveis internacionais, que também é parte da política de internacionalização do nosso Estado. Um exemplo bem ilustrativo do cenário é a expansão do grupo hoteleiro português Vila Galé, que é a maior rede de resorts do país e o segundo maior [grupo turístico] em Portugal.

Há planeamento estratégico, com metodologia dedicada a elencar os melhores destinos, de acordo com o histórico do relacionamento, potencial económico, potencial comercial, partilha de boas-práticas e oportunidades de desenvolvimento socioeconómico mútuo.

Qual a importância de Portugal e dos países de língua portuguesa nessa estratégia?
Os laços que unem Brasil e Portugal são diversos: históricos, linguísticos, económicos, políticos. As relações cooperativas entre Minas Gerais e Portugal passam, por exemplo, pelas áreas de tecnologia, ciência e inovação.

No que concerne ao intercâmbio comercial entre Minas Gerais e a República Portuguesa, em 2022, observa-se que houve um acréscimo de 67,6% (94,7 milhões de dólares, o que equivale a cerca de 87 milhões de euros) nas exportações mineiras para Portugal, em comparação com o ano anterior. Identificou-se, também, um aumento de 44,9% (cerca de 52,3 milhões de dólares, o que equivale a cerca de 42 milhões de euros) nas importações de produtos portugueses para Minas Gerais no mesmo período.

Nesse diapasão, a retoma do diálogo e do relacionamento estratégico com a República Portuguesa configura-se como essencial.

Quanto aos demais países de língua portuguesa, convém relembrar a declaração da CPLP [Comunidades dos Países e Língua Portuguesa] de 1996, em que se manifesta o desejo de cooperação nas esferas económica e empresarial, identificando-a como essencial para valorizar as potencialidades existentes e promover o fortalecimento internacional do conjunto dos países de língua portuguesa.

É preciso retomar a herança histórica comum com vistas a importantes cooperações futuras.

Tem entre as suas atribuições articular e assessorar parcerias internacionais. O que procura desenvolver?
Procuramos identificar e monitorar oportunidades, parcerias, programas e projetos de cooperação e de financiamento nacionais e internacionais para o Estado; articular a formalização de instrumentos de cooperação nacional e internacional, que possam trazer resultados concretos para a população mineira; e procuramos apoiar as ações de internacionalização do Estado, a partir de estratégias que contemplem as singularidades, vocações e potencialidades dos municípios.

Também contribuímos para a organização das atividades internacionais do Estado, com o objetivo de atrair investimentos, de modo a ampliar a visibilidade dos produtos e serviços do Estado.

Pretende captar investimentos para Minas Gerais. O que o Estado tem que o diferencia e o que pode oferecer aos investidores?
A ampla gama de parceiros internacionais com os quais Minas Gerais mantém frutíferos,

longevos e vivazes laços abre oportunidades para que o Estado seja considerado uma referência para as demais unidades federativas estaduais no Brasil, assim como esferas de alcance internacional, na execução de políticas públicas.

Atraiu em investimentos 354 mil milhões de reais [cerca de 65,4 mil milhões de euros], contabilizados desde 2019; na descarbonização e transição energética é o primeiro estado da América Latina e Caribe a assinar o compromisso da campanha “Race to Zero”, além de ser o maior estado gerador de energia solar fotovoltaica do Brasil; na gestão governamental, [foi feita a] reestruturação das contas públicas, somada à adesão ao Regime de Recuperação Fiscal.

Foi feitio o fortalecimento dos sectores produtivos estratégicos: clusters atrativos de ciências da vida, telecomunicações, tecnologia, inovação e mineração sustentável, como é o Vale do Lítio, situado no Vale do Jequitinhonha, na Defesa; na educação, tem a maior concentração de universidades federais e polos de ensino do Brasil; e está no top 3 dos destinos turísticos do Brasil e tem a maior concentração de reconhecidos patrimónios da humanidade brasileiros.

Essas são algumas das razões pelas quais Minas Gerais tem-se apresentado, ao longo do tempo, como a porta de entrada para a América Latina e para o Brasil. Dotada de um próspero ambiente de negócios, em grande transformação, adaptando-se às necessidades que as agendas internacionais impõem aos governos nacionais e subnacionais.

Participou recentemente no Fórum Económico Internacional, em Portugal. Que balanço faz?
Participar no Fórum Económico Internacional foi muito produtivo, principalmente no que diz respeito a parcerias, troca de experiências na busca pela atração de investimentos. Criámos oportunidades de negócios, estreitámos os laços e vislumbramos resultados que serão benéficos para os dois países. Eu também tive a oportunidade de apresentar o Estado de Minas Gerais para todos os países de língua portuguesa e mostrar o quanto temos a oferecer. E, além disso, pude falar um pouco sobre o que mais me encanta em Minas: nossas montanhas, nossa gastronomia, nossa cultura.

Que avaliação faz deste primeiro período como Secretário da Casa Civil?
Estou muito feliz com esse novo desafio. Até então eu tinha tido experiência em cargos do legislativo, sendo vereador e deputado federal por dois mandatos. Agora, pela primeira vez, estou no executivo, ou seja, na ponta. Vejo no dia a dia como as políticas públicas impactam as vidas dos cidadãos e participo das decisões que irão fazer a diferença.

À frente da Casa Civil, trato de todas as relações nacionais e internacionais mantidas pelo Estado de Minas Gerais. Representamos o Governo em missões internacionais, recebemos delegações de outros países e desenvolvemos todas as parcerias com foco na diplomacia e atração de investimentos. Sou responsável pela interlocução de Minas com Brasília. Também fazemos toda a captação de recursos, junto ao Governo Federal, que serão aplicados em projetos para transformar de fato as vidas dos mineiros. Mas principalmente, cuido de todas as políticas públicas do estado destinadas às pessoas com doenças raras e com deficiência.

Esta é a causa da minha vida.

O Brasil entrou num novo ciclo, com a eleição de um novo Presidente. Quais são as suas expectativas?
Uma das minhas funções como secretário-chefe de Estado de Casa Civil é justamente fazer essa interlocução com o Governo Federal. Eu vou a Brasília quase que semanalmente defender as agendas e os interesses do nosso Estado, e temos colhido bons frutos. Somos oposição ao Governo Lula, mas acreditamos no diálogo e trabalhamos com essa perspetiva.

As minhas expectativas são de continuidade desse bom relacionamento até o fim do mandato, apesar de estarmos em campos ideológicos distintos.