Libertários, anti-corrupção e Manuel João Vieira. Outros rostos do 25 de Abril
Portugueses de todas as sensibilidades ideológicas saíram à rua no passado domingo. Ativistas, antigos candidatos presidenciais e até libertários, que encontraram na IL um motivo para ir à rua.

Milhares de pessoas saíram à rua este domingo para celebrar o 25 de Abril de 1974, fim de ditadura do Estado Novo. Em torno dessa data histórica, uniram-se portugueses de todos os extratos sociais e sensibilidades ideológicas.

Libertários no IL: “Como não há Partido Pirata, temos este”
Às 14:00, na Praça do Saldanha, um aglomerado de pessoas ia-se formando. Era a manifestação da Iniciativa Liberal, que se preparava para rumar à Avenida da Liberdade mal terminasse a marcha da Associação 25 de Abril, com quem tiveram uma desavença. Entre os que vestiam a t-shirt azul oficial do partido, um rapaz destacava-se pela vestimenta. De boina e pins, todo vestido de negro, segurava um cartaz com uma cobra. “Não me pises”, lia-se. Ao NOVO, autointitulava-se de… libertários.

“Como não há Partido Pirata, temos este. É o que está mais perto. O Partido Libertário não está, nem o Partido Pirata não está…”, explicava-nos Artur Mancha. “Queremos liberdade absoluta, zero Estado. O Governo está sempre a falhar. Normalmente vai sempre a correr para a corrupção. O comunismo, por exemplo, por que é que não funciona? Há sempre alguém que quer ter mais. O ser humano por si é egoísta”, admite.

Manuel João Vieira, o moderado
Enquanto BE, PCP, CGTP, Livre, Volt e demais partidos, movimentos e associações caminhavam sob a guarida do desfile da Associação 25 de Abril, tendo a IL feito a sua própria marcha, a Cidadania XXI estava no Parque Eduardo VII a fazer o seu próprio evento. Eram dois motes: corrupção e a Covid-19. Um dos discursos mais aguardados desse evento foi o de Manuel João Vieira, música e eterno candidato presidencial. Ao NOVO falou muito a sério: “O pessoal que não sabia o que era o fascismo, não faz a menor ideia do que era o fascismo e isto. Não faz a menor ideia do que é não ter liberdade nenhuma, estar num regime tipo Coreia do Norte, não fazem a menor ideia.”
Aos seus olhos, não se vive bem, mas já se viveu bem pior sob a autoridade do Estado Novo. “A cena fixe é que podes dizer o que quiseres mais ou menos, sem te meterem na prisão logo a seguir. No meu caso acho que quase nenhuma canção que eu tenha poderia alguma tê-la cantado ou editado no regime anterior. Portanto, dá-me jeito esse regime. Estou a ser egoísta, claro.” O 25 de Abril é, na sua perspetiva, uma oportunidade para apontar também o futuro. “As desigualdades de riqueza entre diferentes extratos da população mantêm-se. E acho que a lógica económica neste momento está a dominar todo o resto da realidade. E esse crescimento económico está a acabar com a nossa biosfera. Estamos a um passo do abismo.“
Paulo Morais, na rua contra a corrupção
Também Paulo Morais, antigo candidato a Belém e ativista anti-corrupção, discursou no mesmo evento da Cidadania XXI. Apartidário, saiu à rua com o programa do Movimento das Forças Armadas nas mãos. “Foi o documento que fundou o regime, em 25 de Abril, e na primeira página, um dos postulados do programa do MFA era o combate à corrupção. Vem na primeira página que a corrupção era já um problema do regime anterior”, frisou ao NOVO. Hoje em dia, conta, o 25 de Abril deve também ser “um dia para o futuro”. “O regime atual organizou-se para favorecer a corrupção. sao milhares de milhões todos os anos. Só no caso BES foram 12 mil milhões de euros que foram retirados a comunidade, que é tanto orçamento de estado na área da saúde durante um ano.”